Marianna Karakoulaki, Idomeni (ek)14 de março de 2016
Cansados de esperar com lama até os joelhos, refugiados retidos na pequena cidade grega buscam alternativas para cruzar fronteira para Macedônia. A cada tentativa, porém, ganham mais motivos para perder a esperança.
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"Meu nome, em árabe, significa esperança, mas agora não me resta muita esperança, não sei o que vou fazer", diz Amal, de 41 anos, com expressão de desespero em seus olhos. Ele não é o único que, de repente, passou a estar num beco sem saída na fronteira entre Grécia e Macedônia, retido num dos maiores dramas humanitários da atual crise migratória.
Como Amal, cerca de 12 mil pessoas esperam na pequena cidade de Idomeni para cruzar a fronteira para a Macedônia e seguir até os países do centro europeu pela chamada rota dos Bálcãs, que atualmente está fechada.
Ghanim, um engenheiro de 53 anos, fugiu do Iraque com a família. Após dias morando em uma tenda e esperando ansiosamente por uma decisão clara sobre as fronteiras, ele decidiu deixar Idomeni e seguir para Diavata, perto de Tessalônica, a segunda maior cidade da Grécia. Ghanim sabe que suas opções são poucas, e que o que vem pela frente não será fácil – mas está disposto a tentar.
"Tudo que eu quero é ter minha situação legalizada. Se eu tiver que esperar, vou esperar. Um mês, seis meses, um ano? Esperar não é o problema. Não me importa aonde eu vou. Posso alugar um apartamento em Tessalônica. Dinheiro não é problema. Eu poderia pedir asilo na Grécia ou participar dos programas de realocação", afirma.
Realocação: último recurso?
Cansados de esperar com lama e água até os joelhos, mais e mais pessoas estão considerando buscar opções. Nesta segunda-feira (14/03), por exemplo, cerca de mil deixaram o acampamento em busca de uma brecha na passagem pela cerca – que, nesta altura, de tão fortificadas, já se assemelham a trincheiras de guerra.
Outras cogitam entrar para os programas de realocação – um mecanismo europeu criado para enfrentar a crise migratória, reinstalando e distribuindo refugiados proporcionalmente pela Europa.
"Eu acho que as opções que os refugiados deveriam ter são aquelas que estão detalhadas nos princípios e leis internacionais, ou seja, o acesso ao asilo. Está muito claro que estamos na Europa e que é preciso haver acesso a um mecanismo em que os refugiados são registrados, selecionados e em que haja responsabilidade e solidariedade com a Grécia e com essas pessoas", diz Babar Baloch, porta-voz da Agência da ONU para Refugiados (Acnur).
O programa de realocação é para pessoas que precisam de proteção internacional, e isso se aplica aos cidadãos e apátridas originários de Síria, Iraque, Eritreia e República Centro-Africana. Uma vez que se candidatam ao programa, eles podem escolher o país de destino, mas é a agência de asilo que vai tomar a decisão final. É dada prioridade aos grupos vulneráveis, às famílias e àqueles que têm parentes nos países de sua escolha.
"Estamos tentando aconselhar e informar as pessoas sobre todas as opções que elas têm exatamente. Uma delas é que elas podem pedir asilo na Grécia – eles deveriam ter acesso a isso –, e outra opção é a realocação pela Europa. Temos visto mais e mais pedidos de realocação. O interesse está aumentando: são de 100 a 150 pedidos todos os dias", conta Baloch.
Poucas opções
Nisreen, enquanto segura seu filho de três anos nos braços, chora copiosamente. Seus olhos estão inchados. Ela não consegue se acalmar. A irmã, sentada ao lado, observa com a mesma expressão triste no rosto. Ela acabou de saber que o programa de realocação não garante necessariamente uma reunião com o marido na Alemanha.
"Eu recorri à ONU no acampamento, e eles me deram duas opções. Uma é que eu me cadastrasse no programa de realocação, o que significa que eu serei colocada numa casa privada com meu filho e, até que minha entrevista seja processada, eu esperarei um longo tempo. Mas o funcionário me disse que isso não garante que eu serei enviada para a Alemanha com o meu marido", explica Nisreen.
"A segunda opção é participar de outro programa. Eu serei levada para um acampamento, esperarei por meses até que meu pedido seja processado. Eu poderia alugar [uma casa], mas teria que arcar com todas as despesas enquanto espero. Eu, na condição de refugiada, não posso trabalhar e não tenho dinheiro para fazer uma coisa dessas", acrescenta.
Refugiados improvisam acampamento para entrar na Europa
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Existe, é claro, uma terceira opção: atravessadores. Nisreen e outras pessoas no campo de refugiados ouviram dizer que os contrabandistas voltaram à ativa. A realidade, porém, é que eles nunca deixaram de existir. Semelhante ao efeito dominó, uma vez que as fronteiras começaram a fechar, os contatos reapareceram. Para alguns, eles são a única chance de deixar Idomeni.
"Minha cabeça dói só de pensar nas opções que eu tenho. Eu não sei o que fazer, mas esperarei até 17 de março – pessoas aqui dizem que talvez eles nos deixem cruzar os Bálcãs", revela Amal, que parece ter recuperado um pouco da fé.
2015, o ano dos refugiados
Nunca tantas pessoas estiveram em fuga como em 2015. Muitos delas seguiram para a Europa, com o objetivo de chegar à Alemanha ou à Suécia. Confira uma restrospectiva fotográfica do "ano dos refugiados".
Foto: Reuters/O. Teofilovski
Chegada à União Europeia
Esses jovens sírios superaram uma etapa perigosa da sua viagem: eles conseguiram chegar à Grécia e, assim, à União Europeia. O objetivo final, porém, ainda não foi alcançado: eles querem continuar a jornada para o norte, em direção a outros países-membros do bloco. Em 2015, a maioria dos refugiados seguiu para a Alemanha e para a Suécia.
Foto: Reuters/Y. Behrakis
Perigosa travessia do Mediterrâneo
O caminho que eles deixam para trás é extremamente perigoso. Vários barcos com refugiados, nem sempre aptos à navegação, já viraram durante a travessia do Mar Mediterrâneo. Estas crianças sírias e seu pai tiveram sorte: eles foram resgatados por pescadores gregos na costa da ilha de Lesbos, na Grécia.
Foto: Reuters/Y. Behrakis
A imagem que comoveu o mundo
Aylan Kurdi, de 3 anos, não sobreviveu à fuga. No início de setembro, ele se afogou no Mar Egeu, juntamente com o irmão e a mãe, ao tentar chegar à ilha grega de Kos. A foto do menino sírio, morto na praia de Bodrum, espalhou-se rapidamente pela mídia e chocou pessoas de todo o mundo.
Foto: Reuters/Stringer
Onde as diferenças são visíveis
A ilha grega de Kos, a menos de 5 quilômetros de distância da Turquia continental, é o destino de muitos refugiados. As praias geralmente cheias de turistas servem de ponto de desembarque, como no caso deste grupo de refugiados paquistaneses que chegou à costa da Grécia com um bote de borracha.
Foto: Reuters/Y. Behrakis
Em meio ao caos
Porém, muitos refugiados não conseguem simplesmente seguir viagem quando chegam a Kos. Eles somente podem seguir para o continente após serem registrados. Durante o verão europeu, a situação se agravou quando as autoridades fizeram com que os refugiados esperassem pelo registro num estádio, sob o sol escaldante e sem água.
Foto: Reuters/Y. Behrakis
Um navio para refugiados
Por causa da condições precárias, tumultos eram frequentes na ilha de Kos. Para acalmar a situação, o governo grego fretou um navio, que permaneceu ancorado e foi transformado em alojamento temporário para até 2.500 pessoas e em centro de registro de migrantes.
Foto: Reuters/A. Konstantinidis
"Dilema europeu"
Mais ao norte, na fronteira da Grécia com a Macedônia, policiais não permitiam mais a passagem de pessoas, entre elas crianças aos prantos, separadas de seus pais. Esta foto tirada pelo fotógrafo Georgi Licovski no local, e que mostra o desespero de duas crianças, foi premiada pelo Unicef como a imagem do ano, já que mostra "o dilema e a responsabilidade da Europa".
Foto: picture-alliance/dpa/G. Licovski
Sem conexões para refugiados
No final do verão europeu, Budapeste se transformou em símbolo do fracasso das autoridades e da xenofobia. Milhares de refugiados estavam acampados nas proximidades de uma estação de trem da capital húngara, pois o governo do país os proibira de seguir viagem. Muitos decidiram seguir a pé em direção à Alemanha.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Roessler
Fronteiras abertas
Uma decisão na noite de 5 de setembro abriu caminho para os refugiados: a chanceler federal alemã, Angela Merkel, e o chanceler austríaco, Werner Faymann, decidiram simplesmente liberar a continuação da viagem por parte dos migrantes. Como consequência, vários trens especiais e ônibus seguiram para Viena e Munique.
Foto: picture alliance/landov/A. Zavallis
Boas vindas em Munique
No primeiro final de semana de setembro, cerca de 20 mil refugiados chegaram a Munique. Na estação central de trem da capital da Baviera, inúmeros voluntários se reuniram para receber os refugiados com aplausos e lhes fornecer comida e roupas.
Foto: Getty Images/AFP/P. Stollarz
Selfie com a chanceler
Enquanto a chanceler federal Angela Merkel era aplaudida por refugiados e defensores de sua política de asilo, muitos alemães se voltavam contra a política migratória. "Se tivermos de pedir desculpas por mostrar uma face acolhedora em situações de emergência, então este não é mais o meu país", respondeu a chanceler. A frase "Nós vamos conseguir" se tornou o mantra de Merkel.
Foto: Reuters/F. Bensch
Histórias na bagagem
No final de setembro, a polícia federal alemã divulgou uma imagem comovente: o presente que uma menina refugiada deu a um policial da cidade alemã de Passau. O desenho mostra o horror que vários migrantes vivenciaram e o quão felizes eles estavam por, finalmente, estarem em um local seguro.
Foto: picture-alliance/dpa/Bundespolizei
O drama continua
Até o final de outubro, mais de 750 mil refugiados haviam chegado à Alemanha. Mas o fluxo não parava. Sobrecarregados, os países da chamada Rota dos Bálcãs decidiram fechar suas fronteiras. Apenas sírios, afegãos e iraquianos estavam autorizados a passar. Em protesto, migrantes de outros países chegaram a costurar seus lábios.
Foto: picture-alliance/dpa/G. Licovski
Sem fim à vista
"Ajude-nos, Alemanha" está escrito em cartazes de manifestantes na fronteira com a Macedônia. Na Europa, o inverno se aproxima, e milhares de pessoas, entre elas crianças, estão presas nas fronteiras. Enquanto isso, até mesmo a Suécia retomou o controle temporário de fronteiras. Em 2016, o fluxo de refugiados deverá continuar.