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Livro descreve "colapso nervoso" no governo Trump

5 de setembro de 2018

Repórter por trás do escândalo de Watergate, Bob Woodward lança obra em que revela intrigas na Casa Branca. Assessores teriam agido várias vezes para impedir ações precipitadas do presidente. Trump chama livro de fraude.

Bob Woodward
Woodward foi um dos repórteres que cobriram o escândalo de Watergate, determinante para a renúncia de Nixon em 1974Foto: picture alliance/AP Photo/C. Owen

Em um novo livro sobre os bastidores da Casa Branca, o renomado jornalista americano Bob Woodward afirma que a gestão do presidente Donald Trump está em "colapso nervoso" e revela tentativas de seu gabinete de controlar um líder cuja raiva pode comprometer o governo.

Trechos da obra – intitulada Fear: Trump in the White House (Medo: Trump na Casa Branca, em tradução livre) e com lançamento previsto para 11 de setembro – foram antecipados nesta terça-feira (04/09) pelo jornal Washington Post e pela emissora CNN.

Embora não seja o primeiro a divulgar detalhes pouco lisonjeiros da gestão de Trump, o livro tem um peso especial vindo do jornalista que, ao lado de Carl Bernstein, revelou o escândalo de Watergate, determinante para a renúncia do ex-presidente Richard Nixon em 1974.

Em suas 448 páginas, baseadas em centenas de horas de entrevistas, o livro diz que a Casa Branca sofreu, com a chegada de Trump, "nada menos do que um golpe de Estado administrativo".

Woodward conta que John Kelly, chefe de gabinete do presidente, ficou tão indignado com o comportamento de Trump que descreveu o republicano privadamente a outros assessores como um "idiota" e se queixou de estar numa "terra de loucos" – algo que Kelly negou nesta terça-feira.

No livro, o jornalista também afirma que Trump, certa vez, chamou o procurador-geral americano, Jeff Sessions, de "retardado". "Ele é atrasado mentalmente. É um tolo sulista. Não seria um advogado de terceira [categoria] no Alabama."

Capa do livro "Medo: Trump na Casa Branca" (em tradução livre)Foto: picture-alliance/AP Photo/Simon & Schuster

Por vezes, funcionários da Casa Branca teriam retirado documentos sensíveis da mesa do presidente para impedi-lo de tomar decisões precipitadas em assuntos como segurança nacional, comércio internacional e a influência americana em conflitos em outros países.

Em março, por exemplo, o então principal assessor econômico de Trump, Gary Cohn, teria roubado uma carta que estava na mesa do presidente, cuja assinatura poderia tirar os Estados Unidos de um acordo comercial com a Coreia do Sul. Segundo o livro, o republicano não percebeu o que acontecera e deixou de lado o assunto.

No início de 2017, quando Trump pediu a Rob Porter, outro de seus assessores, para redigir uma carta iniciando o processo de saída dos Estados Unidos do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta), Cohn foi consultado e teria tomado atitude similar. "Vou parar isso. Vou pegar o papel da mesa dele", dissera o então assessor.

Outro trecho do livro relata que Trump esteve a ponto de ordenar o assassinato do presidente da Síria, Bashar Al-Assad, após receber, em abril de 2017, relatórios de um ataque com armas químicas supostamente cometido pelo regime sírio contra civis.

"Vamos matá-lo de uma vez! Vamos entrar lá e matar todos", teria afirmado o presidente, em telefonema com o secretário americano de Defesa, James Mattis.

Segundo Woodward, Mattis respondeu que atenderia ao pedido do chefe de Estado, mas, ao desligar o telefone, pediu a um assessor que, em vez de seguir a ordem de Trump, planejasse uma resposta "muito mais contida". O episódio resultou no bombardeio contra uma base aérea síria.

Mattis também é citado explicando ao presidente por que os Estados Unidos mantêm tropas na península coreana para monitorar as atividades nucleares da Coreia do Norte. "Estamos fazendo isso para evitar uma Terceira Guerra Mundial", teria dito o secretário de Defesa.

O livro conta que Mattis, na ocasião, disse a "assessores muito próximos que o presidente agiu como – e tinha a compreensão de – um aluno do quinto ou sexto ano".

Em comunicado, o secretário negou ter feito tais declarações. "As palavras de desprezo sobre o presidente atribuídas a mim no livro de Woodward nunca foram proferidas por mim ou na minha presença", afirmou.

No Twitter, Trump também rechaçou a obra do jornalista americano, afirmando que seu conteúdo "já foi refutado e desacreditado pelos generais James Mattis e John Kelly".

"As citações são baseadas em fraudes, um golpe no público. Assim como outras histórias e citações. Seria Woodward um agente do [Partido] Democrata?", escreveu o presidente, em referência à legenda adversária à dele.

EK/afp/ap/efe/rtr/ots

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