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LiteraturaEstados Unidos

Trump foi moldado por pai dominador, diz sobrinha em livro

8 de julho de 2020

Mary L. Trump afirma que atual presidente dos EUA adotou a mentira como forma de sobreviver. Ela diz que o tio exigia constante adulação e pouco se importava com os sentimentos dos familiares.

Livro de Mary L. Trump
Livro de Mary L. Trump deverá ser lançado em 14 de julhoFoto: Simon + Schuster

A sobrinha do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, lançou um livro no qual descreve o tio como um narcisista mentiroso moldado pelo pai dominador e por um ambiente familiar nocivo, segundo trechos do divulgados nesta terça-feira (07/07) por agências de notícias e pela imprensa americana.

A psicóloga Mary L. Trump, hoje distante do tio, afirma que a reeleição seria uma catástrofe e que "mentir, jogar no denominador comum mais baixo, trapacear e semear a discórdia é tudo o que ele sabe fazer".

"Até este livro ser publicado, centenas de milhares de vidas americanas terão sido sacrificadas no altar da soberba e deliberada ignorância de Donald. Se ele receber um segundo mandato, será o fim da democracia americana", escreve a sobrinha do presidente no livro Too Much and Never Enough, How My Family Created The World's Most Dangerous Man (Demais e nunca o suficiente, como minha família criou o homem mais perigoso do mundo, em tradução livre).

A psicóloga é filha do irmão mais velho do presidente, Fred Jr., que morreu aos 42 anos após lutar contra o alcoolismo, em 1981. O livro é a segunda publicação sobre o presidente lançada em menos de dois meses, com descrições prejudiciais à sua imagem, depois do best-seller The room where it happened (A sala onde aconteceu, em tradução livre), escrito por John Bolton pelo ex-conselheiro de Segurança Nacional de Trump.

Em seu livro, Mary Trump alega que o presidente pagou um de seus colegas para fazer o exame SAT, um teste de admissão em universidades, em seu lugar. A irmã do atual presidente Maryanne Trump, que fazia os deveres de casa dele, não podia fazer a prova por ele.

O jovem Donald temia que sua pontuação ficasse bem abaixo da dos melhores alunos, o que prejudicaria seus esforços para ser aceito na Escola Wharton da Universidade da Pensilvânia, para onde se transferiu depois de dois anos na Universidade Fordham, no Bronx, em Nova York.

Segundo Mary, ele pagou Joe Shapiro, "um jovem inteligente com reputação de se sair bem nas provas", para fazer o teste em seu lugar. "Donald, para quem jamais faltou dinheiro, pagou bem o colega", conta. A porta-voz da casa Branca, Sarah Matthews, disse que a alegação é "completamente falsa".

A sobrinha se diz impressionada com a capacidade de Trump de ganhar a confiança de líderes cristãos e evangélicos brancos. "A única vez em que foi à igreja foi quando as câmeras estavam lá. É incompreensível. Ele não tem princípios. Nenhum!", escreveu.

Donald Trump teria sido modado pela imagem de seu pai dominador, Fred Trump (esq.)Foto: Imago/Landmark Media

A secretária de imprensa da Casa Branca, Kayleigh McEnany, condenou o que chamou de "acusações ridículas e absurdas que não têm absolutamente nada de verdade".

O livro traz uma visão psicanalítica da família de Trump de uma pessoa treinada na área, que vê as características que tanto despreza no tio como uma progressão natural do comportamento do pai dominador dele, Fred Trump, que criou um ambiente doméstico abusivo e traumático.

Mary também fala sobre a morte de seu pai, Fred Jr., quando tinha 16 anos. O presidente, que raramente admite seus erros, afirmou no ano passado ao jornal The Washington Post que se arrepende da pressão que ele e o pai exerceram sobre Fred para que tivesse participação nos negócios da família, que queria seguir a carreira de piloto.

"Simplesmente, não era a dele […] Acho que o erro que cometemos foi presumir que todos gostariam disso. Este seria o maior erro [...] havia uma espécie de pressão dupla sobre ele", disse Trump. Mary, porém, conta que, enquanto seu pai morria sozinho, Donald ia ao cinema.

Misógino e narcisista

Sobre a infância de Trump, Mary lembra de histórias de que ele escondia os brinquedos favoritos do irmão mais novo, e que Fred Jr. certa vez teria virado uma tigela de purê de batatas na cabeça do futuro presidente, então com sete anos de idade. Trump ainda demonstrou ressentimentos quanto ao incidente quando a irmã Maryanne tocou no assunto ao fazer um brinde em um jantar de aniversário na Casa Branca em 2017.

Mary retrata o tio como um "narcisista" que exigia constante adulação, até mesmo de seus familiares, e pouco se importava com os sentimentos deles. A retórica agressiva que ele emprega nos discursos de campanha não é novidade para a sobrinha.

"Em todas as refeições de família em que estive, Donald falava sobre as mulheres que considerava feias, gordas e desleixadas, ou sobre homens, geralmente de maior sucesso do que ele, que ele chamava de perdedores."

Para Donald, ela diz, "mentir era um ato de defesa, e não simplesmente uma maneira de contornar a reprovação de seu pai ou evitar punição, mas sim, uma maneira de sobreviver".

Ela conta no livro que não levou a sério a candidatura do tio à presidência, visão que teria sido compartilhada também pela irmã mais velha de Trump, uma juíza federal aposentada. "Ele é um palhaço", lhe disse certa vez Maryanne. "Isso [ele ser eleito] nunca vai acontecer."

Mary conta que se recusou a comparecer à festa do tio em Nova York no dia da eleição em 2016, por estar certa de que "não conseguiria conter a euforia quando a vitória de Hillary [Clinton] fosse anunciada". Ao contrário, ela disse que ficou perambulando pela casa durante horas com medo de que os eleitores "tivessem escolhido transformar o país em uma versão macro da família malignamente disfuncional".

 A editora Simon & Schuster anunciou o lançamento do livro para o dia 14 de julho, depois de um tribunal em Nova York permitir a publicação depois de uma disputa na Justiça.

Robert Trump, irmão mais novo do presidente, processou Mary, argumentando que ela estava sujeita a um acordo de 20 anos entre os membros da família que impede a publicação de obras sem a aprovação dos familiares citados. 

Mary diz que considerou falar sobre Donald Trump diversas vezes, inclusive em 2016, mas temia ser retratada como uma "deserdada amargurada que queria obter lucro ou ajustar contas". Mary, entretanto, disse que após os últimos três anos, "não podia mais ficar em silêncio".

RC/afp/ap

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