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Em meio à desconfiança da população, Letônia adota oficialmente o euro

1 de janeiro de 2014

Virada do ano marca entrada do país na zona do euro, que agora conta com 18 membros. Passo é tratado como histórico pelo governo, mas visto com medo pela maioria da população, que teme aumento de preços e pede referendo.

Primeiro-ministro com nota de 10 euros: gesto simbólico para marcar passo históricoFoto: Reuters

Foi com um gesto simbólico – um saque de 10 euros num caixa automático no centro de Riga – que o primeiro-ministro Valdis Dombrovskis celebrou, nas primeiras horas desta quarta-feira (01/01), a entrada da Letônia na zona da moeda única europeia.

A Letônia se tornou, assim, o 18º membro da zona do euro – num passo tratado como histórico pelo governo, mas ainda visto com desconfiança por grande parte da população. As últimas pesquisas apontaram que menos de 40% dos letões se dizem favoráveis à adoção do euro. Muitos temem o aumento dos preços no país, como aconteceu em outros novos membros que incorporaram a moeda.

"Não temos outra opção. Estamos atados ao euro", disse o presidente Andris Berzins, rechaçando o pedido de parte da população para que se realize um referendo sobre a entrada do país na zona do euro.

Contas enxutas

A Letônia é, depois da Estônia, o segundo país do Báltico a trocar a moeda local pelo euro. O outro Estado da região, a Lituânia, espera seguir os passos dos vizinhos até 2015 – o que deve selar o atual ciclo de expansão da zona de moeda única.

Segundo relatório do Banco Central Europeu (BCE), o déficit orçamentário letão corresponde a 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB). A taxa média de inflação girou, no ano passado, em torno de 1,3%, bem abaixo do valor de referência de 2,7%. Em 2012, o endividamento estatal foi de 40,7%, também muito menor que os 60% permitidos.

Pesquisas apontaram que menos de 40% dos letões são favoráveis à adoção do euroFoto: Reuters

A Letônia não deseja se tornar uma Grécia, ou seja, um peso para a zona do euro. No final de 2008 e ao longo de 2009, o país báltico sofreu a pior recessão da União Europeia, devido a um déficit orçamentário descontrolado. O maior banco do país, o Parex, foi estatizado.

Em 2008, a Letônia recebeu 7,5 bilhões de euros em ajuda financeira internacional, montou um pacote de austeridade econômica – e se recuperou. Em 2009, salários e remunerações no setor estatal foram reduzidos em 30%; os gastos públicos foram cortados em 20% e muitos servidores públicos foram demitidos.

Temor de paraíso fiscal

A taxa de desemprego atingiu níveis recordes. Mas o governo continuou firme no plano de austeridade, o que faria com que o país fosse recompensado mais à frente: neste ano, a Letônia vai registrar um crescimento de 5%.

"Graças a esses esforços, a Letônia entrará na zona do euro mais forte do que nunca, enviando uma mensagem de ânimo para outros países que enfrentam difíceis processos de ajuste econômico", disse o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, nesta quarta-feira.

Muitos temem que, com a adoção oficial da moeda única, o país báltico torne-se o novo paraíso fiscalFoto: picture alliance/chromorange

A entrada da Letônia na zona do euro foi recebida como mais um passo ousado do bloco europeu, mas muitos temem que, com a adoção oficial da moeda única, o país báltico torne-se o novo paraíso fiscal da zona do euro.

Apesar de a Letônia preencher com segurança os critérios da zona do euro, críticos acreditam que os benefícios tributários para a instalação de holdings em seu território poderão tornar o país um "novo Chipre".

RPR/dw/efe/dpa/afp

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