Em meio a crise, venezuelanos caçam animais ameaçados
Victoria Dannemann ca
24 de maio de 2019
Salários baixos e escassez de alimentos provocada por crise econômica faz com que animais silvestres, como botos e peixes-boi, sejam caçados na Venezuela. Especialistas alertam para graves danos a ecossistemas.
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Espécies ameaçadas na Venezuela sofrem com a falta de proteção, a caça ilegal e a destruição de seu habitat. Somam-se a isso a exploração desenfreada de recursos naturais e a falta de financiamento para pesquisa. E agora o meio ambiente enfrenta novos problemas no país.
Segundo especialistas, a profunda crise econômica, social e política por que passa a Venezuela está afetando dramaticamente os ecossistemas de um dos países de maior biodiversidade da América do Sul. Os efeitos dessa crise são complexos.
"Universidades e institutos reduziram ou até mesmo tiveram de cancelar seus projetos de pesquisa, e muitos cientistas emigraram", disse à DW a bióloga Yurasi Briceño, do instituto venezuelano de pesquisas IVIC.
O biólogo Antonio Machado-Allison afirmou que "desde o início do atual regime, houve um declínio constante em todas as instituições responsáveis pela proteção e investigação dos recursos naturais".
Isso levou à destruição ou fragmentação de habitats naturais, à perda de muitas espécies e à degradação de ecossistemas sensíveis, como os chamados morichales, uma paisagem tropical úmida única, com palmeiras de buriti.
É difícil fazer um balanço, porque, atualmente, muitos dos dados disponíveis sobre a fauna e a flora são insuficientes ou obsoletos. "Simplesmente não conhecemos a condição de certas áreas ricas em espécies", explicou Fernando Trujillo, diretor científico da ONG ambiental colombiana Omacha.
Briceño estuda um dos menores golfinhos do mundo, o Sotalia guianensis – conhecido no Brasil como boto-cinza e, na Venezuela, como tonina costera –, no Lago Maracaibo. Lá, ela testemunhou como a pobreza e a fome levaram as pessoas a caçar os raros animais. Embora a caça desses mamíferos esteja proibida na Venezuela há mais de quarenta anos, a população age por pura necessidade.
"Desde 2017, o salário mínimo do país simplesmente não é suficiente, e falta acesso a proteínas. As pessoas então retomaram a busca por animais silvestres", esclareceu Briceño.
Existem até gangues criminosas que se especializaram na caça de mamíferos. "De um boto como esse, eles obtêm de sete a oito quilos de carne muscular comestível", explicou a bióloga.
Também a caça aos peixes-boi aumentou. "Antes, escutavam-se apenas relatos ocasionais de peixes-boi mortos por caçadores, agora são cerca de três por mês; com os botos, são quatro a cinco por mês, às vezes até por semana. Isso é muito grave, porque o seu número se desestabiliza rapidamente", advertiu a bióloga.
O especialista ambiental colombiano Fernando Trujillo também demonstrou preocupação: "Restam apenas alguns exemplares desses peixes-boi. Durante muito tempo, eles foram caçados, caindo acidentalmente em redes de pesca, para então ser consumidos."
Animais roubados de zoológicos
Além disso, Briceño ressaltou que o pessoal das reservas naturais foi reduzido e não dispõe mais de meios para proteger os animais. Nesse contexto, não só os mamíferos aquáticos estão ameaçados. "Há também os pássaros, tubarões ou tartarugas. Em relação absolutamente a todas as espécies, temos números de captura maiores do que antes."
De acordo com reportagens da mídia, na Venezuela, os animais estão sendo roubados até mesmo de zoológicos para serem vendidos ou comidos.
A mineração desenfreada é outro problema que exerce enorme pressão sobre o meio ambiente no país, especialmente no chamado Arco de Mineração no rio Orinoco, com seus ricos depósitos de diamante, coltan e ouro.
"Nas proximidades da Ciudad Bolívar, de onde é extraída bauxita, por toda parte se vê apenas poeira quando se navega pelo Orinoco. É uma zona de completa sobrepesca, em que não há controle sobre a descarga de resíduos de mineração para dentro do rio", afirma Trujillo.
Machado-Allison disse estar convencido: "A catástrofe causada nos últimos anos é de proporções gigantescas e um exemplo de políticas voltadas para um ecocídio generalizado numa das zonas que deveriam ser mais protegidas, dada a até então natureza intocada."
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De ursos d'água e lulas de 13 metros a "galinhas monstro sem cabeça", ainda há muito para a biologia descobrir no planeta. Conheça nove novas espécies animais – e uma participação especial do reino vegetal.
Foto: Imago/Science Photo Library
Mola tecta
Este animal de dois metros de largura e aparência bizarra encalhou numa praia da Califórnia em fevereiro de 2019, deixando atônitos os moradores locais. Trata-se de uma variedade rara de peixe-lua, apenas identificada oficialmente em 2017 e até então avistada exclusivamente nas águas do Hemisfério Sul, nas proximidades da Nova Zelândia e Austrália.
Foto: Reuters/T. Turner
Enypniastes eximia
Filmado em 2018 ao largo do leste da Antártida, este pepino-do-mar atende por um apelido saído de um filme de terror: "galinha monstro sem cabeça". Antes, ele só fora localizado no Golfo do México. Enquanto outras espécies da mesma classe habitam o fundo do oceano, a "galinha" passa o dia flutuando pelas águas, só aterrissando para se alimentar.
Medindo (monstruosos, na escala apiária) 3,8 centímetros, a abelha-gigante Wallace foi localizada por cientistas na selva da Indonésia 38 anos após ser registrada pela primeira vez. Durante 25 anos, chegou a constar da lista das espécies "mais procuradas" da Global Wildlife Conservation. Apesar das assustadoras mandíbulas, sua dieta é basicamente de néctar e pólen, como a das primas menores.
Foto: Clay Bolt
Architeuthis dux
Tendo provavelmente inspirado o mito do "Kraken", o calamar-gigante escapou aos biólogos durante décadas: a primeira fotografia de um espécime vivo foi tirada em 2004. E aqui vê-se um quadro da primeira filmagem de um dos cefalópodes em seu habitat natural, feita em 2012. Não se sabe ainda que dimensões podem alcança, mas o maior já registrado media 13 metros.
Foto: Reuters
Hyorhinomys stuempkei
Em 2015, cientistas confirmaram oficialmente a descoberta de uma nova espécie de mamífero na ilha indonésia de Sulawesi. Não se sabe por que o órgão olfativo a que o rato-de-nariz-de-porco deve seu nome tem essa forma, mas ele também ostenta assustadores dentes vampirescos – embora se alimente principalmente de minhocas e larvas de besouros.
Foto: picture-alliance/dpa/Museum Victoria
Neopalpa donaldtrumpi
Descoberta na Califórnia do Sul em 2017, esta minúscula mariposa atraiu a atenção da mídia graças ao "topete" amarelado que ostenta, espantosamente aparentado ao penteado de Donald Trump. Por ironia, o habitat do inseto se estende até o estado mexicano de Baixa Califórnia, ameaçado de ser dividido pelo muro que é a obsessão do presidente americano.
Foto: picture-alliance/dpa/V.Nazari
Chaunacidae
Parece não haver endereço melhor para criaturas de aparência excêntrica do que as profundezas do oceano. Esta raramente fotografada "rã marinha" foi descoberta em 2009, durante a expedição Deep Down Under no Mar de Coral da Austrália. Os peixes, que vivem no fundo de areia, pertencem à família dos xarrocos, cuja característica mais espetacular é a isca bioluminescente que portam defronte da boca.
Foto: picture-alliance/dpa/MARUM Universität Bremen/LMU München
Sciaphila sugimotoi
Num breve desvio para o reino vegetal, a descoberta no Japão desta extraordinária planta, em 2017, despertou interesse por todo o mundo – também pelo fato de a flora do país ser tão bem documentada. Trata-se de uma das poucas espécies de plantas que praticamente abandonaram o processo de fotossíntese, alimentando-se, em vez disso, das raízes dos fungos hospedeiros, sejam cogumelos ou mesmo bolor.
Foto: picture-alliance/ESF International Institute for Species Exploration/Takaomi Sugimoto
Xuedytes bellus
Uma nova espécie de besouro foi descoberta em 2018 numa caverna de calcário da província de Guangxi, no sul da China. Seu corpo alongado e compacto, pernas finas e longas e total ausência de olhos ou asas fazem do besouro-das-cavernas um exemplo perfeito de adaptação à vida na escuridão absoluta, assim como de evolução convergente.
Foto: picture-alliance/Sunbin Huang/Mingyi Tian/ESF International Institute for Species Exploration/dpa
Tardigrada
Embora a ciência conheça os microscópicos tardígrados desde 1777, uma nova espécie foi descoberta em 2018, justamente num estacionamento no Japão, quando um pesquisador arrancou um pedaço de musgo do concreto e levou-o para testar no laboratório. Os também chamados ursos-d'água, são praticamente indestrutíveis, e a nova espécie pode ser descendente de uma linha arcaica.