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Em meio a polêmica sobre gays, Vaticano tenta amenizar disputa

16 de outubro de 2014

Dom Odilo Scherer, que participa do Sínodo dos Bispos, garante que "não há briga entre conservadores e progressistas" na alta cúpula da Igreja Católica. Texto final do controverso relatório deve ser divulgado no sábado.

Foto: Getty Images/F. Origlia

O Vaticano tenta desfazer o clima de disputa desencadeado pela reação contrária dos mais conservadores na alta cúpula da Igreja Católica a um relatório divulgado no início da semana, no qual, bispos sugerem que a Igreja poderia passar a aceitar casais do mesmo sexo e até mesmo a reconhecer seus "aspectos positivos".

Em declaração dada à Rádio Vaticano nesta quarta-feira (15/10), o arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, foi taxativo ao afirmar que a Igreja está unida e que não há uma briga entre conservadores e progressistas na alta cúpula. "Não existe uma divisão, duas bancadas", garantiu. O cardeal brasileiro participa da Terceira Assembleia Extraordinária do Sínodo dos Bispos, que deu origem ao controverso relatório.

"A presença de bispos e representantes da Igreja do mundo inteiro, de todas as culturas, povos, raças, línguas e nações, de sensibilidades diferentes, aparece no sínodo, evidentemente. Há percepções diferentes das questões, a partir de olhares diferentes. E isso é uma riqueza no sínodo, ao contrário de ser um problema", minimizou Scherer, importante nome no Vaticano e que em 2013 chegou a ser cotado para substituir o papa Bento 16.

"Inaceitável"

Logo após a divulgação do relatório, no início da semana, vários cardeais presentes ao Sínodo dos Bispos reclamaram que suas opiniões não estavam representadas no documento. Classificando-o como "inaceitável", afirmaram que ele precisava de uma urgente revisão. Nesta quarta-feira, o gabinete de imprensa do Vaticano assinalou a necessidade de "justa prudência, para que não se crie a impressão de que há uma avaliação positiva de tal orientação [homossexual] por parte da Igreja".

Cardeal Scherer minimiza: "Há percepções diferentes de questões a partir de olhares diferentes"Foto: Reuters

Oficialmente, porém, o documento é considerado a síntese das intervenções feitas por mais de 200 bispos reunidos no Vaticano para discutir os desafios da evangelização para a família. "As pessoas homossexuais devem ser respeitadas, como é respeitada a dignidade de cada indivíduo, independentemente da sua orientação sexual", afirmou o cardeal húngaro Peter Erdo, relator do documento, ainda na segunda-feira.

Agora, o relatório está sendo debatido em grupos menores, que propõem emendas e a retirada de alguns pontos, para nova discussão. O texto final sobre a posição dos bispos deve ser divulgado neste sábado.

"O clima é sereno, fraterno, e de muita liberdade, como o papa Francisco pediu", disse dom Odilo Scherer. Nos bastidores, no entanto, acredita-se que a ideia de uma Igreja mais misericordiosa e menos moralista, pregada pelo sumo pontífice, tenha desencadeado uma disputa entre grupos progressistas e conservadores na alta cúpula.

Sem mencionar o trecho específico que cita o tratamento que a Igreja deve dar aos homossexuais – ressaltando que gays têm "dons e qualidades" para oferecer à comunidade cristã – o arcebispo de São Paulo ressaltou apenas que questões de cunho pastoral, ligadas à realidade social, precisam de uma fundamentação teológica.

"E é natural que quem tem maior preparo teológico argumente teologicamente, e aquele que tem mais sensibilidade pastoral, por estar no meio do povo, fale a partir de questões pastorais."

MSB/rv/lusa/ap

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