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Em meio a protestos, premiê do Líbano renuncia ao cargo

29 de outubro de 2019

Primeiro-ministro libanês entrega renúncia ao presidente e afirma que o país chegou a um "beco sem saída". O Líbano está paralisado há quase duas semanas por uma série de protestos contra a corrupção da classe política.

Primeiro-ministro do Líbano, Saad al-Hariri
Primeiro-ministro do Líbano, Saad al-Hariri, comunica renúncia do cargo durante discurso televisionado à nação Foto: Reuters/M. Azakir

O primeiro-ministro do Líbano, Saad al-Hariri, comunicou a entrega de sua renúncia nesta terça-feira (29/10) ao presidente do país, Michel Aoun. Hariri declarou ter atingido um "beco sem saída" ao tentar resolver uma crise desencadeada por protestos maciços contra a elite governante do Líbano.

O político sunita se dirigiu à nação num discurso televisionado depois que uma multidão leal aos grupos muçulmanos xiitas Hisbolá e Amal atacou e destruiu um acampamento montado por manifestantes antigovernamentais em Beirute.

O Líbano está paralisado há quase duas semanas por uma onda sem precedentes de protestos contra a corrupção desenfreada da classe política, que levou o país à pior crise econômica desde a guerra civil entre 1975 e 1990.

"Vou ao Palácio Baabda [residência presidencial] para apresentar a renúncia do governo ao presidente, Michel Aoun, em resposta aos muitos libaneses que foram às praças para pedir mudança", disse o premiê em breve discurso televisionado.

Hariri explicou que não pode mais "esconder" o fato de o Líbano ter chegado a um "beco sem saída", então colocou o cargo "nas mãos do presidente e de todos os libaneses". Agora, cabe a Aoun aceitar ou rejeitar o pedido de renúncia.

Aos aliados políticos, Hariri declarou que estes têm a responsabilidade de proteger o país e procurar formas de desenvolver a economia, para a qual, segundo ele, agora existe uma boa oportunidade que não deve ser desperdiçada. "Os cargos vêm e vão, mas a coisa mais importante é a dignidade e segurança da pátria. Ninguém é maior que o meu país", comentou o premiê.

Hariri já renunciou de surpresa em 2017, em discurso televisionado da Arábia Saudita no qual denunciou que um ataque estava sendo preparado contra si e criticou a interferência do Irã no Líbano e no mundo árabe.

Um mês depois, retirou o pedido de renúncia após uma reunião extraordinária do Conselho de Ministros na qual todas as forças políticas libanesas se comprometeram a dissociar-se dos conflitos regionais.

Hisbolá destrói acampamento de manifestantes

No centro de Beirute, homens vestidos de preto, com pedaços de madeira e canos em mãos, destruíram um acampamento montado por manifestantes e que tem sido o ponto focal dos protestos em todo o país contra a elite arraigada.

A desordem agravou a aguda crise econômica do Líbano, atrelada à escassez de divisas fortes e, consequentemente, ao enfraquecimento da libra libanesa. Além disso, os títulos do governo sofreram quedas significativas durante os dias de protestos.

A demonstração de força em Beirute ocorreu depois que o líder do Hisbolá, Sayyed Hassan Nasrallah, afirmou na semana passada que as ruas fechadas por manifestantes deveriam ser reabertas e insinuou que os manifestantes eram financiados por inimigos estrangeiros.

Trata-se do conflito mais sério nas ruas de Beirute desde 2008, quando os combatentes do Hisbolá tomaram o controle da capital numa breve erupção de um conflito armado com adversários libaneses leais ao sunita Hariri.

Os protestos que sacudiram o país neste ano começaram em 17 de outubro, depois que o governo anunciou a intenção de tributar as ligações telefônicas por meio de serviços gratuitos de mensagens instantâneas.

Desde então, milhares de pessoas saíram às ruas de Beirute e de outras cidades do país exigindo a renúncia do governo e respostas contra a corrupção e a situação econômica.

PV/efe/rtr

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