Em meio a seca, temporais deixam ao menos 8 mortos no Brasil
13 de outubro de 2024
Em São Paulo, vendavais derrubaram árvores e estruturas, matando 7 pessoas e deixando 2 milhões de casas sem luz; após 167 dias sem chuva, Brasília enfrenta tempestades – uma pessoa morreu com queda de árvore.
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Pelo menos sete pessoas morreram e 2,1 milhões de casas ficaram sem luz após fortes chuvas atingirem o estado de São Paulo na noite de sexta-feira (11/10).
Autoridades do estado informaram que as rajadas de vento registradas foram de até 108 km/h, derrubando linhas de transmissão, árvores e muros, e causando prejuízos, como carros e casas destruídas.
A tempestade também fechou aeroportos e interrompeu o serviço de água em várias áreas, de acordo com o governo estadual. Autoridades pediram aos moradores que limitassem o consumo de água.
A Enel, concessionária responsável pela distribuição de energia na Grande São Paulo, informou que ao menos 1,3 milhão de pessoas ainda estavam sem luz até as 21h de sábado, sendo 870 mil só na capital, e afirmou que o religamento acontecerá até segunda-feira.
A Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) avalia cassar a concessão da empresa por não resolver os problemas de falta de energia de forma rápida e satisfatória, e pediu esclarecimentos sobre a situação.
Outras regiões do país também foram varridas por temporais no fim da semana. Em Brasília, após 167 dias seguidos de estiagem, a chuva foi recebida como alívio por moradores, mas também causou estragos. Um soldado foi morto e outro ficou ferido depois que uma árvore caiu enquanto removiam uma bandeira em frente ao quartel-general da Polícia Militar, segundo a corporação.
Vídeos mostram ainda funcionários da Câmara dos Deputados usando guarda-chuvas dentro do plenário da casa, pois a água da chuva vazou para dentro do prédio.
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Extremos climáticos
Nos últimos meses, o Brasil passou pela pior seca desde que se tem registro, o que, segundo especialistas, está ligado às mudanças climáticas.
De acordo com um relatório divulgado no sábado (12/10) peloMapBiomas, sistema de alerta sobre desmatamento por meio de imagens de satélite, 22,4 milhões de hectares foram destruídos pelo fogo nos primeiros nove meses de 2024, um aumento de 150% em comparação com o mesmo período de 2023. Isso representa 2,6% do território brasileiro.
Mais da metade da área queimada foi na região amazônica. Somente em setembro, 5,5 milhões de hectares sofreram com incêndios – um salto de 196% em comparação com o mesmo mês em 2023.
"A estação seca na Amazônia, que normalmente vai de junho a outubro, foi particularmente severa este ano e exacerbou ainda mais a crise de incêndios na região", disse Ane Alencar, do MapBiomas.
Em setembro, o cerrado, reservatório de água do Brasil e lar de cerca de 5% de todas as espécies de plantas e animais da Terra, foi o bioma mais afetado por incêndios em termos proporcionais de área, com 4,3 milhões de hectares.
Em setembro, quase 318 mil hectares do pantanal, a maior área úmida do mundo, foram destruídos pelo fogo - um aumento de 662% em comparação com o mesmo mês do ano passado.
sf (AFP, DPA, ots)
Os devastadores incêndios florestais no Brasil
Fogo da Amazônia a São Paulo: agosto respondeu por quase metade da área queimada no Brasil ao longo de 2024.
Foto: JOEL SILVA/REUTERS
Metrópoles cobertas de fumaça
Somente no dia 24 de agosto de 2024, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou cerca de 5 mil incêndios no Brasil. Várias cidades que concentram milhões de habitantes ficaram totalmente cobertas por nuvens densas de fumaça, incluindo Manaus (foto), no Amazonas. Na Amazônia, foram contabilizados 1,7 mil incêndios, e muitas cidades decretaram situação de emergência.
Foto: Bruno Kelly/REUTERS
A dimensão da catástrofe ambiental
A fumaça se espalhou por mais de 4 mil quilômetros, da região amazônica, no Norte, passando pelo Pantanal, no Centro-Oeste, e chegando a uma das regiões agrícolas mais importantes do país, no sudeste do estado de São Paulo.
Foto: CARLOS FABAL/AFP/Getty Images
Por um triz
O fogo que se espalhava numa plantação próxima a um condomínio de luxo em São Paulo foi controlado pouco antes de as chamas atingirem as casas. De acordo com as autoridades, os incêndios deixaram pelo menos duas pessoas mortas no estado e destruíram mais de 20 mil hectares em menos de uma semana. O governo paulista estima um prejuízo de R$ 935 milhões.
Foto: Joel Silva/REUTERS
Incêndios criminosos
Na maioria dos casos, as chamas são provocadas intencionalmente. Práticas de queimadas ilegais são usadas para abrir áreas para agricultura e pecuária. A Polícia Federal e as autoridades ambientais investigam dezenas de casos. Três pessoas foram detidas no penúltimo fim de semana de agosto de 2024.
Foto: JOEL SILVA/REUTERS
Pior caso em 17 anos
Manaus, capital do Amazonas, foi coberta por fumaça no dia 27 de agosto. Esses são os piores incêndios registrados na Amazônia nos últimos 17 anos, com mais de 60 mil casos desde o começo do ano. A região amazônica como um todo enfrenta uma grave seca, que os especialistas acreditam estar relacionada com os efeitos do El Niño e das mudanças climáticas.
Foto: Edmar Barros/AP Photo/picture alliance
Seca recorde
Os incêndios são agravados pela seca. Bancos de areia estão aparecendo no Rio Madeira, um afluente do Rio Amazonas. Os níveis do rio vêm diminuindo desde o começo de junho, um mês antes do habitual, dificultando o acesso das vilas e cidades da região a suprimentos básicos. As autoridades temem que a atual seca seja ainda mais intensa que a de 2023, que já havia sido recorde.
Foto: EVARISTO SA/AFP/Getty Images
Agosto responde por metade da área queimada em 2024
De acordo com o Monitor do Fogo da plataforma MapBiomas, 56.516 km² foram queimados no Brasil em agosto, quase metade do total de 113.960 km² atingidos pelo fogo no país em 2024. A área queimada em oito meses equivale a mais que o dobro da registrada no mesmo período de 2023 (52.519 km²). Este foi o pior agosto desde que o MapBiomas iniciou as medições, em 2019.
Foto: Eraldo Peres/AP/picture alliance
São Paulo: metrópole com a pior qualidade de ar no mundo
Em setembro, São Paulo foi considerada por vários dias seguidos a grande cidade mais poluída do mundo pela agência de monitoramento IQAir. A fumaça vinda de focos de queimada na Amazônia e no interior do estado mudou a cor do céu paulistano. A Defesa Civil de São Paulo afirmou no dia 9 de setembro que quase todo o estado estava em situação de emergência para incêndios.
Foto: Paulo Lopes/ZUMA/picture alliance
Brasil concentra três quartos dos incêndios da região
Em 10 de setembro, o Inpe afirmou que, em 24 horas, o Brasil concentrou 75,9% das áreas afetadas pelo fogo em toda a América do Sul. Uma missão humanitária composta por 62 bombeiros do Brasil foi designada para combater incêndios florestais na faixa de fronteira com a Bolívia, que ameaçam atingir o Pantanal brasileiro.
Os incêndios estão sendo considerados um revés político para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que prometeu proteger a Amazônia e combater o desmatamento ilegal até 2030. Sob o governo antecessor do ex-presidente Jair Bolsonaro, a destruição da Amazônia alcançou patamares recordes.