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Em meio a tensões globais, gastos com armas nucleares sobem

17 de junho de 2024

Os nove países com armas nucleares gastaram 91,4 bilhões de dólares em seus arsenais em 2023. Número de armas prontas para uso aumenta. "Vivemos um dos períodos mais perigosos da história", alerta especialista.

Mísseis chineses Dongfeng-41 durante uma parada militar em Pequim
Pela primeira vez, também a China possui "algumas ogivas em alerta operacional elevado"Foto: Zhang Haofu/Xinhua/picture alliance

A Campanha Internacional para a Abolição de Armas Nucleares (Ican) afirmou nesta segunda-feira (17/06) que os nove Estados com armas nucleares (Rússia, Estados Unidos, França, Índia, China, Israel, Reino Unido, Paquistão e Coreia do Norte) gastaram um total combinado de 91,4 bilhões de dólares em seus arsenais em 2023, um aumento de 13% em relação ao ano anterior.

O grupo de ativistas com sede em Genebra, que em 2017 ganhou o Prêmio Nobel da Paz, disse que os números mostram um aumento de 10,7 bilhões de dólares nos gastos globais com armas nucleares entre 2022 e 2023, com os Estados Unidos respondendo por 80% desse aumento. A participação dos EUA nos gastos totais, de 51,5 bilhões de dólares, é maior do que a de todos os outros países com armas nucleares juntos.

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O segundo país que mais gastou foi a China, com 11,8 bilhões de dólares, e a Rússia foi o terceiro, com 8,3 bilhões de dólares. "Todo esse dinheiro não está melhorando a segurança global, mas ameaçando as pessoas, onde quer que elas vivam", disse a coordenadora de políticas e pesquisas da Ican, Alicia Sanders-Zakre.

Os Estados Unidos e a Rússia possuem, juntos, 90% das armas nucleares do mundo.

"Uma das épocas mais perigosas da história"

Esses nove Estados com armas nucleares continuam modernizando seu arsenal e em 2023 até mesmo aumentaram sua dependência delas como forma de dissuasão, afirmou separadamente, também nesta segunda-feira, o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz (Sipri), de Estocolmo.

"Vivemos uma das épocas mais perigosas da história da humanidade", alertou o diretor do Sipri, Dan Smith. "Estamos à beira do abismo, e é hora de as grandes potências darem um passo atrás e refletirem sobre o assunto. De preferência, em conjunto", sublinhou.

Em janeiro, das 12.121 ogivas nucleares existentes no mundo, 9.585 estavam preparadas para uma possível utilização. Destas, 3.904 foram implantadas em mísseis e aeronaves, sessenta a mais do que há um ano, e cerca de 2.100 estavam em estado de "alerta operacional elevado" para mísseis balísticos, a quase totalidade delas pertencentes à Rússia e aos Estados Unidos.

Porém, pela primeira vez, o Sipri considerou que também a China possui "algumas ogivas em alerta operacional elevado", ou seja, prontas para serem utilizadas de imediato.

Muitas fontes de instabilidade

"Não temos visto as armas nucleares desempenharem um papel tão importante nas relações internacionais desde a Guerra Fria", disse o diretor do programa de armas de destruição em massa do Sipri, Wilfred Wan. Ele acrescentou que essa tendência vai continuar e provavelmente se acelerar nos próximos anos.

Embora "o número total de ogivas nucleares continue diminuindo, à medida que as armas da era da Guerra Fria são progressivamente desmanteladas", assiste-se a um aumento do número de ogivas nucleares operacionais, ano após ano, por parte das potências nucleares, lamentou o diretor do instituto sueco de pesquisas.

Segundo o Sipri, são muitas as fontes globais de instabilidade e tensão: rivalidades políticas, desigualdades econômicas e problemas ambientais.

Em fevereiro de 2023, a Rússia anunciou a suspensão da sua participação no Novo Tratado Start – "o último tratado de controle que restringe o poder nuclear estratégico da Rússia e dos Estados Unidos", segundo Smith.

No início deste mês, a Rússia e Belarus lançaram um segundo estágio de exercícios destinados a treinar suas tropas com armas nucleares táticas, parte dos esforços do Kremlin para desencorajar o Ocidente a aumentar seu apoio à Ucrânia.

as/cn (AP, Lusa)

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