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Em meio a xadrez diplomático, Olaf Scholz busca seu papel

9 de fevereiro de 2022

Washington, Berlim, Kiev e Moscou: após críticas à Alemanha, chanceler federal alemão parte para ofensiva diplomática na tentativa de aplacar a crise Rússia-Ucrânia. Uma tarefa nada fácil logo no início de seu mandato.

Biden e Scholz em Washington
Scholz ouviu Biden dizer que o Nord Stream 2 não começara a funcionar em caso de invasão da Ucrânia pela RússiaFoto: Anna Moneymaker/Getty Images

Sóbrio, pragmático – e o mais silencioso possível. É assim que Olaf Scholz faz política. Nas últimas semanas, talvez silencioso até demais. No próprio país, o chanceler federal alemão viu suas taxas de aprovação diminuírem, e no cenário internacional, teve de enfrentar a acusação de não adotar uma posição clara na crise Rússia-Ucrânia.

O principal motivo para críticas é o fato de a Alemanha ter se negado a fornecer armamento para a Ucrânia. Mesmo sob a antecessora, Angela Merkel, essa atitude encontrou pouca aprovação internacional. Afinal, fabricantes alemães de armas têm feito há anos bons negócios com Egito, Israel e os curdos, entre outros. Qual seria a diferença?

Também foi observado com estranheza como o governo alemão tentou durante muito tempo manter o gasoduto Nord Stream 2, que ainda não entrou em operação, fora da lista de possíveis sanções do Ocidente contra o Kremlin no caso de uma invasão da Ucrânia. O gasoduto que liga a Rússia à Alemanha através do Mar Báltico é um "projeto do setor privado" e o processo de aprovação é "completamente apolítico", argumentou Scholz em dezembro.

Aliado confiável?

A pergunta sobre a Alemanha ainda ser um aliado confiável veio principalmente dos EUA. A questão é uma "bobagem", disse Scholz, soando um tanto rude, em entrevista à emissora CNN nesta segunda-feira (07/02), após se reunir com o presidente americano, Joe Biden, em Washington.

O chanceler federal parece irritado com o fato de a percepção do público ser tão diferente de como ele e seus assessores veem e planejaram a situação. A Chancelaria Federal alemã diz que há semanas se trabalha duro nos bastidores para encontrar uma solução pacífica para a crise da Ucrânia. Além disso, diz haver uma coordenação contínua com parceiros europeus e americanos sobre o que deve acontecer no caso de uma escalada das tensões.

"Nós nos preparamos intensivamente para que possamos adotar as sanções necessárias em termos concretos no caso de agressão militar contra a Ucrânia", disse Scholz em Washington.

Azar no início do mandato

Seria o problema uma falha de comunicação? "Este governo federal teve a infelicidade de ter acabado de tomar posse quando esta crise explodiu politicamente e se transformou numa grande crise transatlântica e euro-americana", comenta o organizador da Conferência de Segurança de Munique, Wolfgang Ischinger.

Após passar os últimos dias criticando o novo governo alemão por sua política relativa à Ucrânia, Ischinger agora o defende. "Deve-se também respeitar o fato de que Scholz, que nunca havia se reunido pessoalmente como chanceler com Vladimir Putin ou Joe Biden, por exemplo, não simplesmente pegue o telefone como fez Emmanuel Macron e diga: 'Vladimir, temos que falar sobre isto e aquilo'."

Saindo da defensiva

Macron passou cinco horas negociando com Putin em Moscou nesta segunda-feira, depois voou para Kiev para se encontrar com o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, e depois para Berlim. Na terça-feira à noite, o presidente francês discutiu a crise Rússia-Ucrânia com Scholz e seu homólogo polonês, Andrzej Duda, na Chancelaria Federal alemã. Esse formato de conversas entre os líderes dos três países em momentos de crise é conhecido como Triângulo de Weimar e existe há 30 anos.

Scholz pretende sair da defensiva com nada menos do que uma ofensiva diplomática. Após sua viagem a Washington, estão previstas visitas a Kiev e Moscou para 14 e 15 de fevereiro. E, antes disso, haverá encontros em Berlim.

Depois do Triângulo de Weimar, a primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, é aguardada na capital alemã nesta quarta, e os chefes de governo de Estônia, Lituânia e Letônia na quinta-feira.

Ao lado dos presidente da Polônia, Andrzej Duda (esq.), e da França, Emmanuel Macron (dir.), Scholz disse que o objetivo comum é evitar uma guerra na EuropaFoto: HANNIBAL HANSCHKE/REUTERS

O que será do Nord Stream 2?

O nervosismo está aumentando no Leste Europeu diante do que o presidente polonês chamou de mobilização de tropas russas sem precedentes. Países da região querem mais firmeza em relação a Moscou - e mais pressão. "Precisamos de unidade e solidariedade e não devemos dar um passo atrás e creio que temos os instrumentos necessários", disse Duda.

Um instrumento, também do ponto de vista da Polônia, é o Nord Stream 2. O gasoduto que liga a Rússia à Alemanha através do Mar Báltico está pronto, mas ainda não começou a operar.

"Se a Rússia, por exemplo, cruzar a fronteira com a Ucrânia com tanques e tropas, não haverá mais um Nord Stream 2", disse Biden enfaticamente na segunda, após se reunir com Scholz.

O chanceler federal alemão, no entanto, evitou falar explicitamente sobre o gasoduto, dizendo apenas que a Alemanha agirá em conjunto com os EUA. "Se houver uma agressão militar contra a Ucrânia, haverá sanções duras, acordadas em conjunto e de amplo alcance", disse o chanceler federal. "Haverá custos muito, muito altos para a Rússia dar esse passo. Isso é claramente afirmado e compreendido por todos."

A contenção de Scholz está ligada ao fato de que ele tem que levar em consideração o clima dentro do próprio Partido Social-Democrata (SPD). A ala mais à esquerda da legenda atém-se à tradição da antiga política do SPD para o leste e à aproximação com a Rússia associada a ela. E políticos do SPD dos estados do Leste alemão tendem a perseguir interesses de política econômica que remontam a antigas relações da época da Alemanha Oriental.

Gerhard Schröder e Vladimir Putin são amigos, e o alemão ainda está nos conselhos de administração da Rosneft e da GazpromFoto: Alexei Druzhinin/dpa/picture alliance

Ex-chanceler federal ligado à Rússia

O Nord Stream 2 termina em Mecklemburgo- Pomerânia Ocidental, no nordeste da Alemanha. A governadora do estado, a social-democrata Manuela Schwesig, vem fazendo tudo o que pode há anos para garantir a construção do gasoduto, agindo na mesma linha que seu colega de partido e ex-chanceler federal Gerhard Schröder, amigo pessoal de Putin.

Schröder começou a atuar no setor de gás russo logo depois da derrota nas eleições federais de 2005. Ele é presidente do comitê de acionistas e do conselho de administração da Nord Stream 2 AG. O alemão também preside o conselho de administração da petrolífera estatal russa Rosneft. E acabou de ser nomeado para integrar o conselho de administração da poderosa estatal energética russa Gazprom, que alimentará o Nord Stream 2.

Para o parlamentar Roderich Kiesewetter, líder da União Democrata Cristã (CDU) no Comitê de Relações Exteriores do Bundestag (Parlamento alemão), a nomeação de Schröder para a Gazprom deve ser vista "como um movimento da Rússia para dividir o governo alemão em sua posição de travar o Nord Stream 2 como possível sanção e assim desacreditar a Alemanha como um todo".

"Eu sou o chanceler federal"

Scholz rejeita veementemente tais acusações. Em Washington, ele disse à CNN: "Ele [Schröder] não fala em nome do governo. Ele não trabalha para o governo. Ele não é o governo. Eu sou o chanceler federal agora, e as estratégias políticas da Alemanha são as que vocês ouvem de mim."

Em relação a possíveis sanções contra a Rússia, no entanto, as estratégias permanecem vagas. Scholz parece não querer afirmar categoricamente se a Alemanha abandonará ou não o Nord Stream 2 em caso de emergência. Ele justifica isso dizendo que Berlim não quer prejudicar seu papel de mediador e, assim, não quer "colocar tudo sobre a mesa", "porque é necessário que a Rússia também entenda: poderá acontecer muito mais do que eles mesmos talvez calculem".

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