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PolíticaQuirguistão

Em meio ao caos, Quirguistão declara emergência

9 de outubro de 2020

Violentos protestos abalam o país na Ásia Central após acusações de fraude nas eleições legislativas. Presidente Jeenbekov se diz pronto para deixar o cargo para por fim à crise política.

Quirguistão vive onda de protestos após denúncias de fraude nas eleições legislativas
Quirguistão vive onda de protestos após denúncias de fraude nas eleições legislativasFoto: Vladimir Voronin/AP Photo/picture-alliance

O presidente do Quirguistão, Sooronbai Jeenbekov, decretou nesta sexta-feira (09/10) um estado de emergência na capital Bishkek para tentar pôr fim às violentas manifestações que tiveram início após uma contestada eleição para o Legislativo. Ele se diz pronto para deixar o cargo, após a estabilização da situação política no país.

A onda de protestos abalou o país nos últimos dias, em meio a acusações de fraude na votação do último domingo, oficialmente vencidas por dois partidos aliados ao governo de Jeenbekov.

Os manifestantes invadiram a sede do governo, do Parlamento, a câmara municipal de Bishkek e o Comité de Segurança do Estado, de onde libertaram o ex-presidente Aslambek Atambayev e outros ex-altos funcionários que haviam sido presos por diversas acusações. Dos 16 partidos que participaram nas eleições legislativas deste domingo, 11 recorreram aos protestos para exigir a anulação da votação.

Jeenbekov decretou o estado de emergência válido desde esta sexta-feira até o dia 21 de outubro e ordenou o envio de tropas às ruas da capital para fazer valer a medida. O governo pode ainda impor um toque de recolher e restrições de movimento à população.

"Testemunhamos uma ameaça real à existência de nosso Estado", afirmou o presidente em nota. "A vida pacífica de nossos cidadãos não deve ser sacrificada por paixões politicas."

Na última terça-feira, a Comissão Eleitoral Central anulou em decisão unânime o resultado das eleições legislativas no intuito de "impedir o aumento da tensão no país", o que não aconteceu. Os confrontos em Bishkek já causaram pelo menos uma morte e deixaram centenas de feridos. 

Sob forte pressão, a Comissão apontou nesta terça-feira o parlamentar Sadyr Zhaparov como novo primeiro-ministro, em uma decisão amplamente contestada por alguns grupos de manifestantes e que acabou por agravar o caos na capital.

Em nota, Jeenbekov afirmou estar "pronto para deixar o cargo de presidente da República" para por fim à crise política. Ele disse que deverá renunciar "depois que autoridades executivas legítimas forem aprovadas e do retorno à legalidade."

Sua saída deve ocorrer após a marcação de um data para as novas eleições e depois de serem efetuadas mudanças no governo. O presidente, que não aparece em público desde a segunda-feira, afirmou várias vezes que não considerava a hipótese da renúncia, enquanto ocorriam negociações entre diferentes grupos políticos.

Novas manifestações estavam marcadas para esta sexta-feira, o que amplia os temores de confrontos violentos na capital entre as diversas facções políticas.

O ex-presidente Atambayev, que havia sido condenado a 11 anos de prisão por acusações de corrupção e abuso do cargo em um caso considerado por seus apoiadores como uma vingança política de Jeenbekov, fez um pronunciamento aos manifestantes nesta sexta feira, pedindo o fim da violência.

"Sou contra o uso da força, tudo deveria ser feito através de meios pacíficos", disse. Pouco depois, seus apoiadores foram atacados com pedras e garrafas por partidários de Zhaparov na praça central de Bishkek.

O Quirguistão, uma das mais pobres ex-repúblicas soviéticas, é a nação mais pluralista, mas também mais instável na Ásia Central. O país já foi palco de duas revoluções e teve três presidentes detidos ou exilados desde a independência da antiga União Soviética. 

Esta é a terceira vez em 15 anos que uma onda de protestos tenta remover o chefe de governo, no país de 6,5 milhões de habitantes. A Rússia, um dos principais aliados do governo quirguiz, manifestou a preocupação com os tumultos e pediu a uma solução dentro dos limites constitucionais.

RC/lusa/ap

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