Em plebiscito, suíços rejeitam salário básico a todos
5 de junho de 2016
Pesquisas iniciais mostram que uma ampla maioria votou "não" à proposta da renda básica incondicional, que garantiria o pagamento mensal de mais de 2,2 mil euros a cidadãos, independentemente de trabalharem.
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A população da Suíça foi às urnas neste domingo (05/06) votar em um plebiscito sobre a chamada renda básica incondicional, que asseguraria um rendimento mínimo a todos que vivem no país. Segundo a imprensa suíça, a proposta foi rejeitada por uma clara maioria dos eleitores.
A projeção, divulgada pelo instituto de pesquisas gfs.bern uma hora depois do fechamento das urnas, ao meio-dia (horário local), mostra que 78% dos eleitores foram contrários à proposta, com uma margem de erro de 3%. Cerca de 22% dos que votaram disseram "sim".
A iniciativa propunha o pagamento de 2,5 mil francos suíços como renda básica mensal aos cidadãos ou estrangeiros que residem legalmente no país há mais de cinco anos – isso equivale a 2.250 euros ou 9 mil reais. As crianças receberiam cerca de um quarto desse valor.
Enquanto os defensores da proposta alegam que ela ajudaria a combater a pobreza e a desigualdade num mundo onde bons empregos com salários fixos estão ficando difíceis de encontrar, os contrários – incluindo o governo suíço e todos os partidos do país – criticam que a ideia seria nociva para a economia e impossível de ser financiada.
O plebiscito sobre a questão aconteceu depois de ativistas terem recolhido as 100 mil assinaturas necessárias para a realização de uma votação popular, característica comum da democracia suíça.
"Decisão realista"
Andreas Ladner, cientista político da Universidade de Lausanne, disse à emissora pública de televisão RTS que a população foi "realista" ao avaliar a proposta. Segundo o especialista, aceitar que pessoas podem "ganhar dinheiro sem precisar trabalhar teria sido um passo muito grande".
Para Claude Longchamp, cientista político e pesquisador do instituto gfs.bern, em entrevista à televisão suíça SRF, a principal razão para a rejeição da proposta foi a falta de clareza e as dúvidas a repeito de como esse montante seria financiado.
"Alcançar um amplo debate público sobre essa importante questão já é uma vitória", declarou, por sua vez, um defensor da renda básica incondicional e um dos líderes da campanha, Ralph Kundig, em entrevista à agência de notícias France-Presse antes do plebiscito.
O porta-voz da campanha, Daniel Haeni, afirmou que os 22% favoráveis à proposta representam um "sucesso sensacional", já que foi uma parcela "significativamente maior do que nós esperávamos". "Isso significa que o debate continua, e também a nível internacional."
Outras questões em debate
Além da medida sobre o rendimento básico, os suíços foram às urnas votar também sobre outros pontos, acerca da crise migratória e de questões genéticas. Segundo a projeção do gfs.bern, 66% disseram "sim" à proposta do governo de acelerar o processo de acolhida de refugiados no país.
Além disso, também segundo o instituto, 61% dos eleitores foram favoráveis a uma medida que quer permitir testes genéticos em embriões antes que eles sejam inseridos no útero feminino, em caso de fertilizações in vitro.
EK/afp/ap/dpa/dw
Fatos sobre o Túnel de São Gotardo
Suíça inaugura um novo túnel para trens que passa por baixo dos Alpes e levou 17 anos para ficar pronto. Confira alguns dos principais fatos sobre essa maravilha da engenharia moderna.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Settnik
Os números
O Túnel de São Gotardo tem 57,1 quilômetros de extensão e até 2,3 quilômetros de profundidade. Quando estiver em operação plena, passarão por ele, todos os dias, 260 trens de carga e 65 de passageiros. Ele comporta dois trilhos de oito metros de diâmetros, que têm 178 interligações, uma a cada 325 metros. O custo total da obra foi de 11 bilhões de euros.
Foto: picture-alliance/dpa/L. Gillieron
Montanhas em movimento
Após 17 anos de construção, o Túnel de São Gotardo está finalmente pronto para o uso. Cerca de 28 milhões de metros cúbicos de rochas foram retiradas dos Alpes suíços por tuneladoras. O cascalho produzido foi usado para fazer o concreto utilizado nas paredes do túnel. As viagens inaugurais estão previstas para o dia 1º/06, mas as operações normais só começam após outros 3.000 testes.
Foto: picture-alliance/Keystone/M. Ruetschi
Pista de corrida para trens
Uma das principais vantagens do túnel é a superfície plana da sua ferrovia. Isso facilita as viagens de trens pesados entre Erstfeld e Bodio, pois eles necessitam de menos potência e podem alcançar velocidades maiores. Assim, 260 trens de carga poderão atravessar o túnel por dia, um grande avanço em relação aos 180 que passam pelo túnel atual.
Foto: picture alliance/KEYSTONE
Máquina de criar empregos
No total, 2.600 pessoas trabalharam nos canteiros de obras do Túnel de São Gotardo, incluindo engenheiros, geólogos e operários. Juntos, eles contabilizaram quatro milhões de horas de trabalho. Os suíços, fiéis à sua reputação de precisão e pontualidade, concluíram o projeto com um ano de antecedência em relação ao cronograma original só um pouco acima do orçamento previsto.
Foto: AlpTransit Gotthard AG
Heidi, Sissi e Gabi
Os tatuzões de 400 metros de comprimento (fundo da foto), fabricados na Alemanha, foram carinhosamente apelidados de Heidi, Sissi, Gabi 1 e Gabi 2 pelos construtores. Os quatro trabalharam muito e retiraram 28,2 milhões de metros cúbicos de terra e pedras dos Alpes ao longo de 17 anos.
Sai pra lá, Japão!
Com a conclusão do túnel, a Suíça tira do Japão o título de país com a ferrovia subterrânea mais extensa do mundo. Aberto em 1988, o túnel de Seikan foi projetado após um tufão devastador afundar cinco balsas. Em busca de uma forma mais segura de atravessar o Estreito de Tsugaru, os japoneses cavaram uma passagem de 53,9 quilômetros numa região de terremotos frequentes.
Foto: Imago/Kyodo News
Mais longo que o Eurotúnel
Além de ser um prodígio da engenhria, o Túnel de São Gotardo é sete quilômetros mais longo do que o túnel sob o Canal da Mancha, que liga França e Reino Unido e já é considerado uma maravilha da engenharia moderna. O Eurotúnel, com 50,5 quilômetros de extensão, tem ainda um dos trechos submarinos mais longos já construídos, com 37,9 quilômetros.
Foto: Getty Images/AFP/D. Charlet
Não por muitos anos
O reinado de São Gotardo como o túnel ferroviário mais longo do mundo deverá acabar em 2026. Para esse ano está prevista a abertura do Túnel de Brennero, que terá 64 quilômetros e pretende reduzir os engarrafamentos no popular e sempre lotado Passo do Brennero, que liga a Áustria à Itália, aos pés dos Alpes.
Muitos engenheiros alemães trabalharam na construção do Túnel de São Gotardo, e essa situação chama a atenção para as dificuldades que megaprojetos de engenharia têm no país vizinho. O caso mais escandaloso é novo aeroporto de Berlim: a inauguração está quatro anos e meio atrasada, e o orçamento não para de subir.