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Em Porto Alegre, exposição destaca legado da imigração alemã no RS

Marco Sanchez17 de agosto de 2014

Através de documentos históricos, objetos do cotidiano e arte, "Heimat Brasilien – Os novos brasileiros" foca na adaptação dos imigrantes à nova terra e na influência deles no processo de formação do Rio Grande do Sul.

Foto: Fred Jordan

Mostrar a diversidade e a profundidade da influência da imigração alemã no Rio Grande do Sul é o objetivo da exposição Heimat Brasilien – Os novos brasileiros: as imigrações alemãs no Rio Grande do Sul, em cartaz no Memorial do Rio Grande do Sul/Museu dos Direitos Humanos em Porto Alegre.

A ideia para a exposição surgiu quando, no ano passado, o Arquivo Alemão do Exílio, da Biblioteca Nacional Alemã, organizou outra exposição, que mostrava a influência dos exilados alemães no Brasil entre 1933 e 1945. A mostra Olhando mais para frente do que para trás contou com o apoio do Instituto Goethe e do Museu dos Direitos Humanos, responsáveis pela atual mostra na capital gaúcha.

"Receber uma exposição que falava de um momento importante e dramático da imigração alemã ao Brasil nos recordou, de pronto, o imenso manancial de documentos que o Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul – que coabita o mesmo prédio do museu – possui em seu acervo e que permitem construir um panorama das ondas de imigração alemã no Rio Grande do Sul", diz o diretor do Arquivo Histórico do RS, Márcio Tavares, em entrevista à DW Brasil.

Heimat Brasilien – Os novos brasileirosvai a fundo nos documentos do Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul e busca criar um painel que mostra, de diferentes ângulos, o processo da imigração alemã no estado e as consequências dela.

"A partir daí nos colocamos a trabalhar numa exposição que explorasse a noção de 'adaptação' como centro gravitacional, para demonstrar a integração dos alemães ao universo gaúcho, o quanto sua presença transformou o cenário e, principalmente, explorar os diversos legados da presença germânica", explica Tavares, que também é curador da atual exposição em cartaz em Porto Alegre.

Pioneirismo ofereceu o privilégio das melhores terrasFoto: Arquivo Historico do RS

Novo olhar sobre a imigração

Assim, documentos que tratam de imigração, comércio e educação são complementados por objetos, fotografias, gravuras e lembranças familiares que mostram como viviam essas famílias no sul do Brasil, seus hábitos alimentares, esportivos, comunitários e religiosos.

"Queríamos construir uma exposição diferente e inovadora sobre a imigração. Nosso desejo era fugir da possibilidade de uma espécie de hagiografia da imigração alemã. Trabalhamos, portanto, no limiar das possibilidades da comemoração dos 190 anos. Por isso, selecionamos documentos que dão conta de pioneirismos da imigração, como na cena esportiva, no comércio e na industrialização do Estado. Mas também exploramos a busca e a negação da cidadania brasileira", explica Tavares.

Essa negação se originou de conflitos religiosos e políticos envolvendo imigrantes de origem alemã e que aconteceram em diferentes momentos históricos. "Esse aspecto multifacetado era fundamental para que conseguíssemos demonstrar uma das discussões historiográficas mais profícuas do Estado: a transformação do status do imigrante no final do século 19 e início do século 20, quando os estrangeiros passaram a ser valorizados. Para isso, era fundamental apresentar um panorama que contrabalançasse o êxito dos imigrantes, mas também explorasse muitos dramas e fracassos", afirmou o curador.

Outra novidade da exposição é destacar a participação dos imigrantes e seus descendentes em conflitos como a Revolução Farroupilha, a Guerra do Paraguai, a Revolução Federalista e a Revolução de 1923, bem como os problemas enfrentados pelos imigrantes com a polícia e o Estado Novo.

Arte e pioneirismos

A exposição percorre um arco histórico, que começou em 1824, ano em que os primeiros imigrantes alemães chegaram ao Rio Grande do Sul, e conta essa história até hoje. Além de documentos e objetos, os curadores também utilizam a arte para contar essa história.

"A história da arte gaúcha está muito ligada ao processo de imigração. A pintura do século 19, por exemplo, tem em Pedro Weingärtner seu maior expoente e um precursor. Então há um caminho que demonstra como os artistas reproduziam um estilo consagrado das belas artes europeias até, no momento contemporâneo, incorporarem completamente a linguagem da arte da América Latina", diz o curador.

Documentos e objetos mostram as facetas da imigração alemã no estadoFoto: Arquivo Historico do RS

Expoentes que foram importantes para a arte gaúcha em movimentos como a pop art e o construtivismo também fazem parte da seleção. Outro ponto de destaque são trabalhos de artistas de ascendência alemã convidados para construir obras que refletissem essa identidade. "Isso dotou a exposição de uma dimensão de memória muito sensível e que aproxima muito o universo da exposição dos visitantes. A arte me parece uma chave de entendimento muito importante da contribuição dos imigrantes para a formação da sociedade contemporânea", completa Tavares.

O curador também destaca o pioneirismo da imigração alemã como resultado da forte influência no estado. A antecipação ofereceu o privilégio das melhores terras, em posições estratégicas junto aos rios, que fizeram os alemães conquistarem importantes posições no comércio. Os alemães trouxeram também diversidade religiosa e profissionais que ocuparam ofícios técnicos, que os brasileiros não ocupavam, em cidades como Porto Alegre.

"A imigração alemã trouxe uma série de legados. Mas me parece que há um elemento cultural importante: a valorização da educação. As comunidades germânicas logo construíram escolas, e isso se tornou um espaço de produção técnica e cultural que fez do Rio Grande do Sul pioneiro na industrialização. Me parece que esse dado cultural da valorização do esforço pessoal e da busca de conhecimento é legado dos alemães e da imigração, que se tornou um dado da cultura gaúcha", diz Tavares.

A exposição Heimat Brasilien - Os novos brasileiros: as imigrações alemãs no Rio Grande do Sulestá em cartaz no Museu dos Direitos Humanos em Porto Alegre até 28 de setembro.

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