Em prol de um governo iraquiano
25 de junho de 2003Segundo a Resolução 1483 da ONU, a missão de Sérgio Vieira de Mello no Iraque é não apenas coordenar o recomeço da ajuda humanitária das Nações Unidas ao país, mas também cooperar com as potências de ocupação – os Estados Unidos e a Grã-Bretanha – "no processo de formação de um governo representativo e internacionalmente reconhecido".
O diplomata brasileiro, que é também Alto Comissário para Direitos Humanos da ONU, assumiu a sua missão em Bagdá no início do corrente mês de junho e vem testemunhando o aumento diário da tensão política no Iraque. Diante desse panorama, Vieira de Mello defendeu a constituição urgente de um governo próprio para o Iraque.
Responsabilidade própria
Segundo o diplomata, é indispensável para o êxito da ação internacional que os iraquianos sejam responsáveis por decisões concernentes ao seu próprio destino. "Afinal, este é o seu país e eles devem governá-lo", afirmou o representante da ONU. Nas três últimas semanas, Sérgio Vieira de Mello viajou pelo interior do Iraque, a fim de fazer o maior número possível de contatos com o povo e com os líderes regionais do país.
Ele afirma ter aprendido muito sobre o Iraque durante suas viagens. Principalmente sobre a riqueza do país, que não se restringe ao petróleo, mas se expressa também no grande número de pessoas capacitadas e de boa formação profissional, pela sua cultura, história e tradição. "Aprendi que não podemos impor nada a esta nação", afirma o diplomata.
Mas o representante das Nações Unidas vai ainda mais longe nas suas afirmações: "Temos de ajudar, onde for necessário e onde os iraquianos nos convidarem a prestar ajuda, quando eles estiverem construindo o país pluralista e democrático que tanto anseiam e que merecem."
Situação bizarra
Nas atuais condições, o papel que a ONU pode desempenhar é bastante limitado, diz ainda Vieira de Mello. No entanto, ele nota que os iraquianos desejam uma influência maior das Nações Unidas no processo de reconstrução do país.
A situação no Iraque é ímpar, na opinião de Sérgio Vieira de Mello: "O Conselho de Segurança deu ao secretário-geral um mandato para um país que é membro fundador da ONU e que, no momento, está ocupado por dois outros membros fundadores da ONU, os quais são, além disto, membros do Conselho de Segurança. Não temos nenhum adversário na forma de um governo nacional. Esta situação pode ser classificada, na melhor das hipóteses, de bizarra."
Aspiração legítima
Vieira de Mello deixou claro que a ONU quer trabalhar da forma mais eficiente possível em tal situação desconfortável. E não apenas no setor da ajuda humanitária: "Eu creio que já prestamos suficiente ajuda humanitária ao Iraque."
A seu ver, os iraquianos têm direito a receber mais do que simples esmolas. É legítima a sua aspiração ao exercício completo dos seus direitos, "em especial o direito à dignidade e à autodeterminação", conclui o diplomata brasileiro a serviço das Nações Unidas.