Em Riad, Macron defende estabilidade no Oriente Médio
10 de novembro de 2017
Após ataque com míssil à capital da Arábia Saudita e em meio a tensões elevadas no Líbano, presidente francês faz visita surpresa ao príncipe herdeiro e reforça importância da cooperação com Riad na região.
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O presidente da França, Emmanuel Macron, realizou uma visita surpresa à Arábia Saudita, onde se reuniu com o príncipe herdeiro, Mohammed Bin Salman, para tratar da situação atual no Oriente Médio, informaram autoridades de ambos os países nesta sexta-feira (10/11).
Macron disse que a decisão de visitar o país nesta quinta-feira foi, em parte, motivada pelo desejo de demonstrar solidariedade após a interceptação de um míssil balístico próximo ao aeroporto de Riad, lançado pelos rebeldes houthi no Iêmen.
A Arábia Saudita, que lidera a coalizão internacional que combate a insurgência dos houthi no Iêmen, reagiu ao míssil com o fechamento de portos, aeroportos e estradas iemenitas no início da semana, gerando um alerta da ONU sobre o agravamento da crise humanitária no país.
O presidente francês atribuiu a responsabilidade do ataque ao Irã, afirmando que o míssil interceptado era "obviamente de fabricação iraniana", o que, segundo observou, demonstra a força do programa iraniano de mísseis. Após a interceptação do projétil, Riad alertou Teerã que o lançamento contra seu território poderia ser considerado um "ato de guerra".
A imprensa estatal saudita informou que, no encontro com o príncipe herdeiro, Macron condenou o ataque a Riad. "Foram discutidos os recentes acontecimentos no Oriente Médio e os esforços em nome da segurança e estabilidade na região, incluindo a coordenação conjunta na luta contra o terrorismo", afirmou a Agência Saudita de Imprensa (SPA).
"Acredito na importância de trabalharmos com a Arábia Saudita no propósito de garantir a estabilidade na região e o combate ao terrorismo", disse Macron.
Tensões no Líbano
A visita de Macron também se deu num momento em que se elevam as tensões no Líbano. Segundo indicou a presidência francesa em comunicado, Macron e o príncipe herdeiro discutiram a situação libanesa, após a renúncia do primeiro-ministro Saad Hariri, no último fim de semana.
O premiê, que se encontra na Arábia Saudita, disse que sua vida estava ameaçada. A presença do ex-chefe de governo em Riad elevou as tensões em Beirute, onde dirigentes políticos acusaram os sauditas de forçarem sua renúncia e mantê-lo retido.
Macron reiterou ao príncipe herdeiro saudita que "a estabilidade, a segurança, a soberania e a integridade do Líbano" são de suma importância para a França.
O presidente francês também reiterou o apoio ao acordo nuclear alcançado entre o Irã e potências internacionais em 2015, mas destacou a necessidade da elaboração de um tratado semelhante para o programa de mísseis do país.
"Se abandonarmos [o acordo nuclear com o Irã], isso poderá nos levar à guerra imediata ou à ausência de controle, o que nos conduziria inevitavelmente a uma situação semelhante à da Coreia do Norte, que é algo que não posso aceitar", disse o francês.
Macron evitou fazer comentários sobre a série de prisões efetuadas pelas autoridades sauditas, justificadas como medidas anticorrupção.
Alguns críticos e observadores consideraram as prisões de príncipes do alto escalão, ministros e empresários como uma atitude ousada e arriscada do príncipe herdeiro para consolidar seu poder no país.
RC/ap/dpa/efe
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O lento avanço dos direitos das mulheres na Arábia Saudita
Em 2018, país passou a permitir que mulheres obtenham carteira de motorista e dirijam sem serem acompanhadas por um tutor do sexo masculino. Conheça outras conquistas femininas na nação islâmica nas últimas décadas.
Foto: Getty Images/F.Nureldine
Escola em 1955; universidade só em 1970
As meninas nem sempre puderam frequentar escolas na Arábia Saudita. Só a partir de 1955 foi permitida a matrícula de garotas na primeira escola para meninas, Dar Al Hanan. Já a Riyadh College of Education, primeira instituição de ensino superior para mulheres, foi aberta em 1970.
Foto: Getty Images/AFP/F. Nureldine
2001: Carteira de identidade
Em 2001 foi permitido às mulheres sauditas terem carteira de identidade, para poderem provar quem são, por exemplo, em questões de herança ou de propriedade. Mas a identificação só podia ser feita com a permissão do guardião dela e era entregue a ele, em vez de diretamente à mulher. Só em 2006 as sauditas passaram a receber carteiras de identidade sem precisar da permissão do responsável por elas.
Foto: Getty Images/J. Pix
2005: Fim do casamento forçado – só no papel
Embora a Arábia Saudita tenha acabado com os casamentos forçados em 2005, eles continuam sendo negociados pelo noivo com o pai da noiva, e não com ela.
Foto: Getty Images/A.Hilabi
2009: Mulher em ministério
Em 2009, o rei Abdullah nomeou Noura al Fayez vice-ministra da Educação. A primeira mulher em um ministério saudita é encarregada de assuntos para mulheres.
Foto: Foreign and Commonwealth Office
2012: primeiras atletas olímpicas
A Arábia Saudita permitiu em 2012 que atletas do sexo feminino competissem pela equipe nacional nos Jogos Olímpicos. Uma delas foi Sarah Attar, que correu a prova de 800 metros em Londres usando uma touca. Antes dos Jogos, houve especulações de que a equipe saudita poderia ser banida por discriminação de gênero se não permitisse que as mulheres participassem.
Foto: picture alliance/dpa/J.-G.Mabanglo
2013: Mulher pode andar de sobre duas rodas
Em 2013 foi permitido às mulheres na Arábia Saudita andar de bicicleta e moto – mas apenas em áreas de lazer e desde que completamente cobertas por roupas islâmicas e acompanhadas por um parente do sexo masculino.
Foto: Getty Images/AFP
2013: Mulheres no Conselho Consultivo
Em fevereiro de 2013, o rei Abdullah indicou 30 mulheres para o Conselho Consultivo, ou Shura. A nomeação de mulheres para o conselho, que costuma ser composto apenas por homens, marcou um momento histórico. O órgão aconselha o rei em questões de política e legislação. Pouco tempo depois, mulheres receberam a permissão de se candidatar ao cargo.
Foto: REUTERS/Saudi TV/Handout
2015: Mulheres em eleições municipais
Nas eleições municipais de 2015 na Arábia Saudita, as mulheres puderam se candidatar e votar pela primeira vez. Apenas para comparar: a Nova Zelândia foi o primeiro país a permitir o voto feminino já em 1893. A Alemanha fez isso em 1919. Na votação saudita de 2015, 20 mulheres foram eleitas para cargos em nível municipal.
Foto: picture-alliance/AP Photo/A. Batrawy
2017: Mulher na Bolsa de Valores
Em fevereiro de 2017, a Bolsa de Valores saudita nomeou a primeira presidente mulher em sua história: Sarah Al Suhaimi.
Foto: pictur- alliance/abaca/Balkis Press
2018: Mulheres na direção (de carros)
Em 26 de setembro de 2017, a Arábia Saudita anunciou que a partir de junho de 2018 as mulheres não precisariam mais da permissão de seu tutor do sexo masculino para obter uma carteira de motorista e não seria mais necessário que seu guardião as acompanhasse no veículo.