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Em São Paulo, manifestantes culpam PT por radicalização

Marina Estarque, de São Paulo 14 de março de 2016

Na Avenida Paulista, onde foi realizado o maior protesto no país, manifestantes afirmam que partido de Dilma é principal responsável pela polarização social e clima de "fla-flu político".

Foto: Reuters/N. Doce

"O PT é muito radical, não tem meio termo com eles", disse Dennys Botelho. O economista de 47 anos é um dos milhares de brasileiros que foram à Avenida Paulista neste domingo (13/03) para protestar contra o governo da presidente Dilma Rousseff e o PT. Ele disse estar preocupado com o acirramento dos ânimos. "A esquerda está mais agressiva. Mas a postura da direita também é nociva", afirmou.

A advogada Maria Eulália Cecília, de 57 anos, disse que tem evitado certos assuntos com alguns conhecidos porque considera que as pessoas estão mais agressivas. "O Lula conseguiu tornar a sociedade radicalizada. Ele colocou no país um contra o outro, uma classe contra a outra. Aqui nunca foi assim. Ele faz graça dos coxinhas, como se nós não fossemos trabalhadores também", disse ela.

Para Tais Olhier, de 30 anos, e o pai, Marcos, de 56, a polarização é parte do cotidiano. O irmão, que ficou em casa, não partilha da opinião do resto da família. Marcos acredita que o PT contribuiu para aumentar essa radicalização. "Na época do impeachment do Collor, todos eram a favor. Hoje, não. O PT criou essa ideia de rico contra pobre", afirmou.

Manifestantes tiram foto com pedalinho na Paulista. José Mazarella alugou o brinquedo por 500 reais para o protestoFoto: DW/M. Estarque

Povo pacífico

Muitos manifestantes, entretanto, negaram que haja uma polarização social. A maioria disse que não conhece pessoas com opiniões divergentes e, por isso, não nota nenhuma radicalização.

"Só o PT que faz o discurso 'nós contra eles'. O povo brasileiro é pacífico. Não discuto com ninguém por política. Cem por cento dos meus conhecidos são contra o PT", explicou Luiz Carlos Nascimento, de 58 anos.

Já Ivete Vasconcelos, de 59 anos, disse que os brasileiros são "pacíficos demais" e que apenas uma minoria, composta de militantes do PT, é radical. "A situação só chegou a esse ponto porque somos tranquilos. Mas agora o povo está cansado, todo mundo quer a mesma coisa, que o governo caia", garantiu.

Silas Fujisaka, de 46 anos, foi além. Ele avaliou que os brasileiros são passivos e alienados. "Agressivos são os partidos, não a população", disse ele, que participava de uma oração na avenida. Abraçados e de olhos fechados, cerca de 50 pessoas da Igreja Evangélica Holiness, fundada no Japão, rezaram por alguns minutos durante o início do protesto. "Nós pedimos por um país mais ético, honesto e menos egoísta", explicou Fujisaka.

Esperança

A grande adesão ao protesto foi festejada diversas vezes pelos líderes dos movimentos, que divulgavam os números do alto dos carros de som, provocando euforia entre os manifestantes.

Segundo estimativa do Datafolha, o protesto reuniu 500 mil pessoas, superando o ato de março passado, quando 210 mil manifestantes foram à Paulista para pedir o impeachment de Dilma. De acordo com levantamento do instituto, o protesto foi maior do que as Diretas Já, em 1984.

Com isso, muitos manifestantes ficaram esperançosos com os resultados da marcha. Vários se disseram confiantes de que o governo do PT deve cair em breve.

"Nas outras manifestações nós não viemos, e ela continuou aí. Mas agora tem muita gente, ela vai cair, sim. Até porque agora há mais provas", afirmou a empresária Luciane Costa e Silva, de 37 anos, que veio com a família e usava máscaras com o rosto de Dilma, representada como um zumbi.

Gustavo Yazbek diz que confia na Justiça e que "essa história de dizer que o Judiciário trabalha para a oposição é mentira"Foto: DW/M. Estarque

Pedalinho e políticos

Além dos já tradicionais bonecos infláveis de Dilma e Lula – o famoso Pixuleco – e do pato gigante da Federação das Indústrias de São Paulo, a manifestação teve mais um atrativo, que reuniu dezenas de manifestantes atrás de uma selfie pitoresca.

O "pedalinho do Lula", uma menção ao objeto que faz parte da investigação dos bens do ex-presidente, foi levado por José Mazarella, de 48 anos, até a Paulista. O empresário, que disse não fazer parte de nenhum movimento social, alugou o pedalinho por 500 reais especialmente para a data. Dentro do brinquedo, duas pessoas desfilavam fantasiadas de Lula e Marisa, esposa do ex-presidente.

Celebridades e políticos também marcaram presença no protesto. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o senador mineiro Aécio Neves, ambos do PSDB, foram ao local, mas saíram rapidamente, após serem hostilizados por manifestantes.

Os grandes homenageados do dia foram o juiz Sérgio Moro, da Lava Jato, a Polícia Federal e a Polícia Militar de São Paulo. Em diversos momentos, organizadores puxaram uma salva de palmas para a PM e recebiam aplausos e gritos efusivos da multidão.

Fora os rostos de Dilma e Lula como zumbis, o de Moro era um dos mais frequentes nos cartazes e máscaras na Paulista. "Precisávamos de um juiz com coragem para colocar os corruptos na cadeia", defendeu o engenheiro Gustavo Yazbek, de 44 anos. Em seu cartaz, ele propunha uma "Morolização". "É um trocadilho", explicou, "precisamos moralizar o país para as pessoas de bem."

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