Música eletrônica
23 de junho de 2011Algumas barreiras são difíceis de quebrar. Diziam que a música eletrônica e o rock não se misturavam ou ainda que música feita por computadores não tinha alma. Com um disco chamado I Love You, Dude ("te amo cara", em inglês) o Digitalism, banda hamburguesa formada por Jens Moelle e Ismail Tüfekçi, mostra querer ser espacial, humana, raver, roqueira e ainda amar a vida.
A dupla se conheceu há 10 anos, Jens trabalhava em uma loja de discos que Ismail visitava frequentemente. Os dois passavam as tardes ouvindo vinis de house e techno e começaram a "discotecar" e produzir música juntos. O tédio que sentiam com o que estava sendo lançado na época fez com que seu repertório acabasse sendo composto quase que totalmente por material que eles próprios produziam. Nascia, assim, o Digitalism.
"Quando começamos a produzir, estávamos ouvindo muito uma música do Bob Sinclair chamada Africanism. Como estávamos fazendo nossa música com a ajuda do computador, escrevíamos Digitalism nos CDs, e isso acabou virando o nome da banda", lembra Jens, que depois descobriu que o termo está relacionado com uma ideologia e uma corrente artística.
Do espaço para o coração
O som do disco de estreia da dupla era perfeito para as pistas de dança, pesado e espacial. Distante do que se produz na Alemanha, a mistura de electro, techno e indie estava mais próxima de bandas francesas como Daft Punk e Justice. "Nosso primeiro disco foi feito por produtores, já o novo foi composto por uma banda. Ganhamos muita experiência na estrada e vimos muitos shows", comenta o músico.
Jens considera I Love You, Dude um disco mais "extremo", onde as faixas podem ser mais rápidas ou mais lentas, mas as melodias são muito mais sofisticadas que no trabalho anterior. Eles não tiveram medo de arriscar. As músicas do novo álbum são mais curtas e pop, e a banda ainda consegue fazer música não só para a pista, mas também para aquele momento mais relaxado do final ou começo da noite.
Essa naturalidade está evidente no título do disco, que surgiu quando a dupla estava desfrutando o sol do verão australiano. "Acho que é uma coisa natural de se dizer em um momento de euforia. No final de um dia perfeito não há nada melhor para se dizer", afirma Jens. O título inesperado também remete à conexão que as pessoas criam na pista de dança, geralmente associada ao consumo de ecstasy.
Do estúdio para o palco
Para uma dupla de DJs e produtores, nem sempre é fácil deixar de se esconder atrás de samplers, teclados e pick-ups. Esse foi um desafio, depois que o grupo lançou seu primeiro disco e passou anos na estrada. "Não queríamos trazer todo o nosso equipamento de estúdio para o palco. Foi um desafio adaptar as faixas para terem a mesma força ao vivo", diz Jens. Os primeiros shows eram menores e mais simples. Hoje, a banda conta, além dos teclados e sintetizadores, com uma bateria, microfones e efeitos de luzes e vídeo. "Quando tocamos, nos empolgamos muito no palco. Não queremos apenas tocar música, queremos interagir com a plateia. Somos como uma banda de rock sem as guitarras", compara.
A banda, que esteve no Brasil em 2008, teve o seu maior sucesso Pogo remixado pelos brasileiros do Cansei de Ser Sexy. "Gostamos muito de bandas como Twelves, Mixhell, Bonde do Role. Mal posso esperar para ouvir o novo disco do Cansei", diz Jens. Do Brasil, a banda guarda ótimas lembranças. "O Brasil foi incrível. Ficamos uns dias a mais e fomos à praia. O público na América do Sul é um dos melhores e mais animados do mundo".
Para sorte dos brasileiros, o Digitalism diz que não vê a hora de levar o show de I Love You, Dude para o país.
Texto: Marco Sanchez
Revisão: Marcio Damasceno