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“Em tempos de ditadura, nunca dá para ser você mesmo”, diz diretor de Akasha

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Melanie Matthäus
25 de março de 2021

Premiado internacionalmente, cineasta sudanês leva os conflitos de seu país para as telas do mundo.

Hajooj Kuka, do Sudão, morou por muitos anos em Nova York, mas decidiu deixar a vida em segurança, para retratar a guerra em sua terra natal: „eu morava no Brooklyn, tinha a minha bicicleta que eu curtia, era uma vida fácil, divertida, e muito criativa, mas meu trabalho por lá não tinha relevância. Enquanto a minha simples presença numa zona de guerra já fazia diferença.”

Hajooj, Berlinale Talent de 2016, se mudou para as Montanhas de Nuba, no sul do Sudao, em 2012. Longe da atenção internacional, uma guerra civil era travada entre o governo e tribos sudanesas que lutavam por independência. „É claro que você fica com medo, todos ao seu redor estão correndo para se esconder. Aí tem o momento em que você sai do esconderijo e quer se certificar de que todos estão bem. Assim que você percebe que todos estão bem, vem o momento de felicidade por estar vivo”, lembra o cineasta.

Hajooj registrou os conflitos de sua terra natal no documentário "Beats of the Antonov", premiado no Festival de Cinema de Toronto de 2018. Para ele, contar a história do Sudao para o mundo é uma forma de resistência e afirmacao: “acho que em tempos de ditadura nunca dá para ser você mesmo. Você nunca sabe qual é a sua identidade real. Sinto que para nos tornarmos quem realmente somos precisamos de liberdade, espaço... precisamos ser capazes de atuar. Acho que a cultura do cinema nos dá esse espaço para atuar, tentar entender quem somos e mostrar isso para nós mesmos.” 

Convicto do potencial afirmativo da cultura, Hajooj organiza oficinas de teatro no Sudao, atua como cronista de guerra e lidera um coletivo internacional de artistas.  Em 2018, dirigiu sua primeira ficcao: “Akasha” estreou no Festival de Cinema de Veneza e rodou o circuito internacional de festivais. O filme anti-guerra com uma equipe pequena em uma área sem água encanada nem eletricidade. “Com AKASHA queríamos criar um filme que tivesse a guerra como pano de fundo, mas também tivesse humor e vida. Um filme que questionasse a revolução e o que ela significa para nós. Foi incrível que ele tenha circulado por grandes festivais”, comenta o diretor.

"Eu não queria seguir transmitindo essa ideia heroica de guerra...de que guerra é algo grandioso, onde você se torna um homem, um herói. Eu queria destruir essa ideia. Mas, ao mesmo tempo, queria mostrar que as causas são reais. Ou seja, esse equilíbrio entre a luta legítima de pessoas por seus direitos, e o fato de guerra ser uma loucura que eu espero que acabe. Eu queria que tudo isso fosse mostrado no filme.”