Em vídeo de 46 minutos, Trump insiste em fraude eleitoral
3 de dezembro de 2020
No que chamou de "o discurso mais importante" de sua presidência, republicano repete acusações sem provas para contestar a vitória de Biden. Twitter e Facebook colocam alertas na postagem.
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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, divulgou nesta quarta-feira (02/12) um vídeo de 46 minutos, gravado na Casa Branca, no qual insiste em suas denúncias sem provas de fraude eleitoral na eleição presidencial nos EUA, vencida pelo democrata Joe Biden.
As afirmações de Trump contradizem as do procurador-geral William Barr, que um dia antes declarou que o Departamento de Justiça não encontrou provas de qualquer fraude que possa ter alterado o resultado da eleição presidencial dos EUA em 2020.
Tanto o Twitter como o Facebook colocaram alertas no vídeo de Trump. O Facebook acrescentou uma nota que diz que Biden é o vencedor da eleição.
Trump repetiu as acusações sem provas que a sua equipe de advogados tem feito e que têm fracassado sucessivamente nos tribunais dos estados decisivos, em especial o argumento de terem votado imigrantes e pessoas que "estão mortas há 25 anos".
Alegações sem provas
Na gravação, que Trump chamou de "o discurso mais importante" de sua presidência, ele declara: "Estas eleições foram roubadas. Todos sabem disso." Ele disse que houve uma "ação orquestrada" de declarar Biden como vencedor, sem apresentar qualquer prova.
O republicano, que teve a derrota certificada em todos os estados-chave, insistiu que a certificação dos resultados nesses estados tem de ser "adiada imediatamente" porque houve "milhões de votos emitidos de forma ilegal", afirmação de novo sem base em provas.
"Ainda há tempo de sobra para certificar o vencedor correto da eleição", disse Trump, em referência aparente à data de 14 de dezembro, quando o Colégio Eleitoralvai se reunir para oficializar a vitória de Biden.
O vídeo lança questões sobre até que ponto Trump pretende ir na sua campanha para tentar reverter a vitória de Biden. Aliados sugerem que ele poderá pressionar os republicanos no Congresso para não certificarem o resultado da votação no Colégio Eleitoral.
A recusa de Trump em reconhecer a derrota tem lhe custado o afastamento de vários líderes republicanos. Até mesmo o senador Mitch McConnell, líder do governo no Senado, que até aqui evitou se posicionar sobre as declarações de Trump, referiu-se esta semana à "nova administração" que assumirá no ano que vem.
AS/lusa/ap
Que poderes tem o presidente americano?
Muitos pensam que quem chefia a Casa Branca tem a supremacia política mundial. Mas não é bem assim: os poderes do presidente dos Estados Unidos são limitados por instrumentos democráticos.
Foto: Klaus Aßmann
O que diz a Constituição
O presidente dos EUA é eleito por quatro anos, com direito a uma reeleição. Ele é, ao mesmo tempo, chefe de Estado e de governo. Cerca de quatro milhões de pessoas trabalham no Executivo americano, incluindo as Forças Armadas. É tarefa do presidente implementar as leis aprovadas pelo Congresso. Como o mais alto diplomata, ele pode receber embaixadores − e assim reconhecer outros Estados.
Foto: Klaus Aßmann
Controle entre os Poderes
Os Três Poderes se influenciam mutuamente, de forma que limitam o poder um do outro. O presidente pode conceder indultos a pessoas condenadas e nomear juízes federais − mas somente com a aprovação do Senado. O presidente também nomeia seus ministros e embaixadores − se aprovados pelo Senado. Esta é uma das formas de o Legislativo controlar o Executivo.
Foto: Klaus Aßmann
A importância do Estado da União
O presidente informa o Congresso sobre a situação do país no pronunciamento chamado Estado da União. Embora não esteja autorizado a apresentar propostas de leis ao Congresso, o presidente americano pode apresentar ali os temas que acha importantes e, assim, pressionar o Congresso a tomar atitudes. Mas não mais do que isso.
Foto: Klaus Aßmann
Ele pode dizer "não"
Quando o presidente devolve um projeto de lei ao Congresso sem sua assinatura, isso significa que ele o vetou. Esse veto só pode ser anulado pelo Congresso com uma maioria de dois terços em ambas as câmaras (Câmara dos Representantes e Senado). Segundo dados do Senado, em toda a história, dos pouco mais de 1.500 vetos, apenas 111 foram anulados, ou seja, 7%.
Foto: Klaus Aßmann
Pontos indefinidos
A Constituição e as decisões da Suprema Corte não explicitam claramente quanto poder o presidente tem. Um truque permite um segundo tipo de veto, o "veto de bolso". Sob certas circunstâncias, o presidente pode "embolsar" um projeto de lei e assim ele não terá validade. O Congresso não pode anular esse veto. O truque já foi usado mais de mil vezes.
Foto: Klaus Aßmann
Instruções com poder de lei
O presidente pode ordenar aos funcionários do governo que cumpram suas responsabilidades. Essas ordens, conhecidas como "executive orders", têm força de lei. Ninguém precisa ratificá-las. Mesmo assim, o presidente não pode fazer o que bem entender. Tribunais podem derrubar essas ordens ou o Congresso pode aprovar uma lei contra elas. Ou então o próximo presidente pode simplesmente revogá-las.
Foto: Klaus Aßmann
Pequena autonomia
O presidente pode negociar acordos com outros governos, mas no final eles têm que ser aprovados por uma maioria de dois terços pelo Senado. Para contornar isso, em vez de acordos, os presidentes usam "acordos executivos", são documentos governamentais que não requerem a aprovação do Congresso. Eles podem ser aplicados desde que o Congresso não se oponha ou aprove leis que invalidem o acordo.
Foto: Klaus Aßmann
Congresso pode intervir
O presidente é o comandante supremo das Forças Armadas, mas é o Congresso que pode declarar guerra. Não está definido até que ponto um presidente pode comandar soldados em um conflito armado sem aprovação prévia. Isso aconteceu na Guerra do Vietnã, quando o Congresso interveio por lei após achar que o presidente extrapolou sua competência.
Foto: Klaus Aßmann
Impeachment e rejeição do Orçamento
Se um presidente abusar de seu cargo ou cometer algum crime, a Câmara dos Representantes pode iniciar um processo de impeachment. Isso já aconteceu três vezes na história americana, mas sem sucesso. No entanto, existe uma ferramenta mais poderosa para tolher o presidente: por ser responsável pela aprovação do Orçamento público, o Congresso pode vetá-lo e, assim, paralisar o trabalho do governo.