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Em Angola a negócios, Steinmeier é confrontado com temas sociais

Guilherme Correia da Silva26 de março de 2014

Ministro do Exterior da Alemanha viaja ao país africano acompanhado de delegação empresarial, mas sociedade civil angolana quer debater corrupção e direitos humanos.

Foto: picture-alliance/dpa

Em meados de 2011, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, e o presidente angolano, José Eduardo dos Santos, fizeram um brinde "dourado" no Palácio Presidencial em Luanda. A fotografia desse momento correu o mundo – era a primeira vez que um chefe de governo alemão visitava Angola. A viagem de Merkel serviu para estreitar os laços entre os dois países, particularmente ao nível da cooperação econômica. Foi um "sinal de confiança", descreveram analistas.

Quase três anos depois, Luanda volta a receber um membro do governo alemão. Desta vez, o ministro do Exterior, Frank-Walter Steinmeier, que faz a primeira viagem a África desde que retornou ao cargo, em dezembro. Ele viaja nesta quarta-feira (26/03), acompanhado de uma delegação empresarial.

As relações comerciais entre Angola e a Alemanha serão um ponto central da viagem. Angola já se tornou no terceiro maior parceiro econômico da Alemanha na África subsaariana, segundo o Ministério alemão do Exterior.

Nesta quarta, Steinmeier inaugura, em Luanda, o Fórum Econômico Germano-Angolano. Na agenda do chefe da diplomacia alemã estão também encontros com o homólogo angolano, Georges Chikoti, e com o presidente José Eduardo dos Santos, no poder desde 1979. O ministro alemão reúne-se ainda com representantes da oposição angolana e da sociedade civil.

Brinde de Merkel e de José Eduardo dos Santos, que desde 1979 domina a política angolanaFoto: dapd

Além do crescimento econômico

O ativista Cláudio Silva colabora com a página online Central Angola 7311 e participará esta quarta-feira de uma mesa redonda com o ministro alemão. No encontro, o jovem pretende trazer para a mesa de discussão temas que vão além dos números do petróleo e do crescimento econômico.

"Estou interessado em saber se o ministro alemão realmente conhece ou está interessado em conhecer a realidade angolana como ela não é contada nos órgãos oficiais do Estado e certamente como ela não é explicada pelas entidades governamentais com quem ele vai falar", afirma.

Em Angola há uma série de investimentos por fazer. Silva fala de carências nas áreas de educação e na saúde, além de um plano matriz para Angola e para a cidade de Luanda, em particular. Além disso, segundo o ativista, os angolanos enfrentam também a falta de liberdade de expressão e de manifestação e de desrespeito pela Constituição, aprovada pelo partido no poder.

"Trata-se de uma realidade que é um pouco ofuscada pelo crescimento econômico que temos tido aqui no país", argumenta.

No final de janeiro, a Human Rights Watch alertou que as medidas de restrição à liberdade de expressão e reunião em Angola aumentaram no ano passado.

A organização de direitos humanos lembrou o exemplo do jovem Manuel "Nito" Alves, que foi preso por ter imprimido camisetas com dizeres sobre o presidente angolano, considerados ofensivos pelo governo.

Bairro da periferia de Luanda, a capital de AngolaFoto: pi

Corrupção

Outro tema que Silva gostaria de abordar no encontro com o ministro alemão é a corrupção. Angola teve má nota no Índice de Percepção da Corrupção de 2013 da organização Transparência Internacional. Ficou na posição 153 num total de 177 países e territórios.

O combate à corrupção não deve ser apenas uma tarefa das autoridades angolanas, argumenta Silva. Para ele, a Europa também tem culpas no cartório. "Falamos muito de corrupção em Angola, mas a corrupção no país só está como está porque tem participantes no continente europeu ou americano, que fazem negócios corruptos com entidades angolanas e que permitem que a corrupção continue. Este não é só um problema africano, é também um problema europeu", afirma.

Silva gostaria de saber qual a opinião do ministro sobre como se pode "combater realmente a corrupção, não só cá como também na União Europeia."

Respeito pelos direitos humanos

Sendo um parceiro importante para Angola, a Alemanha tem responsabilidades ainda maiores, comenta outro ativista, Rafael Morais, da SOS-Habitat. A organização não-governamental angolana denuncia frequentemente demolições que não levam em conta os direitos das pessoas e que são feitas para abrir caminho para estradas ou empreendimentos habitacionais. Morais é outro dos representantes da sociedade civil que deverá se encontrar esta quarta-feira com o chefe da diplomacia alemã.

Para ele, sobretudo as grandes empresas alemãs que investem em Angola deveriam "pautar-se pelo respeito dos direitos humanos porque alguns dirigentes e alguns empresários angolanos talvez estejam a olhar para aquilo que é a reconstrução, o seu rendimento, e não estão exatamente a olhar para poder respeitar o direito das pessoas."

O ativista propõe cooperação contra a violação dos direitos desses cidadãos angolanos. "Se houver alguma parceria com qualquer empresário alemão, é claro que tem de ter em conta o respeito pelo direito das pessoas das zonas de investimento ou das zonas afetadas", salienta.

Tanto Morais como Silva saúdam o convite para o encontro com Steinmeier. É um bom sinal, sublinham.

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