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Emagrecer com Ozempic e Wegowy: ciência ou "hype"?

Fred Schwaller
13 de outubro de 2024

Medicamentos criados para tratar diabetes e sobrepeso em crianças viraram febre como solução rápida para perda de peso. Especialistas alertam para efeitos colaterais e imitações sem eficácia no mercado.

Embalagem de Ozempic
Ozempic foi criado inicialmente para tratar diabetes e tem efeitos colateraisFoto: JOEL SAGET/AFP

Foi em algum momento da pandemia de covid-19 que o Ozempic e o Wegowy chegaram ao conhecimento geral. Desde então, eles dominam o setor de perda de peso.

Embora os dois medicamentos sejam canetas injetáveis à base do mesmo princípio ativo – a semaglutida –, eles foram originalmente destinados para casos diferentes.

O Ozempic foi aprovado pela primeira vez em 2017 pela FDA, agência americana reguladora de medicamentos e alimentos, como um remédio para ajudar a "reduzir os níveis de açúcar no sangue em adultos com diabetes mellitus tipo 2, além de dieta e exercícios".

O Wegovy foi aprovado no mesmo ano para ajudar adultos e crianças com 12 anos de idade ou mais com sobrepeso ou obesidade.

A semaglutida também pode ser tomada como comprimido, comercializada com o nome Rybelsus.

Da tecnologia à televisão: celebridades perdem peso

Celebridades, magnatas da tecnologia e influenciadores digitais têm propagado os benefícios da droga. Entre eles estão Oprah Winfrey, Amy Schumer e Elon Musk.

O dono da rede social X, da SpaceX e da Tesla tuitou em outubro de 2022 que estava tomando Wegovy, ao ser questionado sobre seu "segredo" para parecer em forma, forte e saudável.

Todo esse endosso de celebridades ao Wegovy e seus produtos "irmãos" teve um impacto social, mas também financeiro. O que era um medicamento para um mercado médico específico tornou-se um fenômeno, visível até mesmo nas passarelas da moda.

A Novo Nordisk, empresa farmacêutica dinamarquesa, fabrica e comercializa as três versões do medicamento. Ela foi avaliada em 570 bilhões de dólares (cerca de R$ 3,2 trilhões) em maio – montante superior a todo o PIB da Dinamarca.

Como funciona a semaglutida?

A semaglutida reduz o apetite imitando um hormônio natural chamado GLP-1.

O GLP-1 é liberado depois que comemos. Ele viaja até o cérebro para sinalizar que estamos saciados. Ele também vai para o sistema digestivo, onde retarda o processo.

A semaglutida diminui ainda os níveis de açúcar no sangue ao ajudar o pâncreas a produzir mais insulina – esse é o mecanismo do Ozempic, que trata pessoas com diabetes tipo 2, que não conseguem produzir insulina suficiente para as necessidades do corpo.

"O Ozempic também pode reduzir o risco de complicações cardiovasculares em pessoas com diabetes", explicou Penny Ward, médica do Kings College London, no Reino Unido.

Quando usado como medicamento para perda de peso, o Wegovy é recomendado apenas "como complemento de dieta e exercícios para reduzir o peso em pacientes muito obesos", disse Ward à DW por e-mail.

Em estudos clínicos, a maioria das pessoas que tomaram o Wegovy perdeu de 5% a 15% do peso corporal após 68 semanas de tratamento para emagrecimento.

Mas o medicamento só é recomendado para quem tem um índice de massa corporal, ou IMC, superior a 30 kg/m2 – quando a obesidade é considerada um risco para a saúde do indivíduo.

O Wegovy não é indicado para pessoas classificadas como "acima do peso", com IMC entre 25 e 29,9 kg/m2, ou para pessoas com "peso saudável".

Celebridades impulsionaram vendas de medicamentos à base de semaglutida para emagrecimento Foto: Sebastian Reuter/Getty Images

Wegovy não é um medicamento "cosmético"

Ward e outros especialistas em saúde estão preocupados com o fato de o medicamento estar sendo usado indevidamente como uma solução rápida para pessoas que querem emagrecer. Ward disse que o Wegovy "não é um medicamento para ser tomado por razões estéticas".

Wegovy e Ozempic podem causar uma série de efeitos colaterais, incluindo náuseas, vômitos, dor de estômago, cansaço ou danos à função renal.

A maioria dos sintomas é leve e de curta duração, disse Simon Cork, fisiologista da Anglia Ruskin University, no Reino Unido, mas "podem ocorrer alguns efeitos colaterais graves, como cálculos biliares e pancreatite".

Houve relatos de efeitos colaterais mais raros e mais graves, como obstruções intestinais, complicações na gravidez e perda de visão.

Cork associa esses possíveis efeitos adversos a quem toma doses "fora dos limites clínicos para prescrição, seja fora da licença ou por meios não legítimos".

Mas os efeitos colaterais significam que os medicamentos à base de semaglutida devem "ser tomados apenas por pacientes muito obesos com risco de complicações cardiovasculares graves e somente sob supervisão médica rigorosa", disse Ward.

Imitações à venda

Promessas de soluções rápidas para emagrecer circulam há muito tempo, mas esse nicho atingiu um nível totalmente novo desde que o Ozempic e o Wegovy se tornaram populares.

Toda essa fama fez com que versões falsas dessas duas marcas inundassem o mercado online, conforme alertou a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Novos coquetéis de suplementos prometem alternativas "naturais" e "sem efeitos colaterais" ao Wegovy e ao Ozempic como medicamentos para perda de peso.

A última a aderir à tendência é a empresária celebridade Kourtney Kardashian. Kardashian lançou o "GLP-1 Daily" por meio de sua marca de suplementos, a Lemme.

No entanto, apesar do nome, o suplemento não contém nenhum GLP-1 em forma natural ou sintética e não se comporta como o hormônio. A cápsula contém extratos alimentares de limão, açafrão e laranja.

É comercializada como "uma inovação revolucionária na saúde metabólica, formulada para aumentar naturalmente a produção de GLP-1 do seu corpo, reduzir o apetite e promover a perda de peso saudável".

Mas os especialistas em saúde consultados pela DW são céticos quanto a eficácia do suplemento.  Cork disse que "não havia encontrado nenhuma evidência convincente". Ward cravou que as alegações sobre o produto eram baseadas em "propaganda exagerada em vez de fatos".

"É útil ter em mente que 'embaixadores' de uma marca são frequentemente pagos por seus serviços na promoção de um produto", alertou Ward.

"Muitas alegações são feitas, mas nenhuma delas foi revisada ou aprovada por uma autoridade reguladora e os estudos citados são de qualidade limitada. Não há discussão sobre o perfil de segurança, portanto, não é possível saber se algum efeito colateral foi relatado", complementou Ward, concluindo que ela não recomendaria o produto a um paciente que deseja ou precisa reduzir o açúcar no sangue e reduzir o risco cardiovascular.

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