Embraer diz que Boeing rescindiu contrato indevidamente
26 de abril de 2020
Empresa brasileira acusa americanos de usarem "falsas alegações" para cancelar fusão e diz que vai exigir compensação. Negócio que envolvia área de aviação comercial da Embraer havia sido avaliado em US$ 4,2 bilhões.
Anúncio
A Embraer disse neste sábado (25/04) que a Boeing rescindiu indevidamente o contrato de parceria anunciado entre as duas empresas em 2018. Em nota, a Embraer acusa a Boeing de ter fabricado "falsas alegações" para evitar cumprir o fechamento da transação e pagar à Embraer o preço de compra de US$ 4,2 bilhões.
"A empresa acredita que a Boeing adotou um padrão sistemático de atraso e violações repetidas ao MTA [Acordo Global da Operação, na sigla em inglês], devido à falta de vontade em concluir a transação, sua condição financeira, ao 737 MAX e outros problemas comerciais e de reputação", diz a nota.
A Embraer informou ainda que não descumpriu as obrigações contratuais, motivo alegado pela Boeing para rescindir o contrato, e que buscará as medidas cabíveis contra a fabricante americana, "pelos danos sofridos como resultado do cancelamento indevido e da violação do MTA".
O posicionamento da Embraer foi divulgado após a Boeing responsabilizar a Embraer pelo cancelamento. Os americanos haviam dito que exerceram "seu direito de rescindir (o contrato) após a Embraer não ter atendido as condições necessárias”. Os americanos não especificaram que condições eram essas.
Apesar do tom da nota, outros fatores parecem ter desempenhado um papel decisivo na decisão da Boeing. No momento, a aeroespacial americana enfrenta a maior crise da sua história, que envolve problemas com sua aeronave 737 MAX e a retração vertiginosa no mercado de aviação causada pela pandemia de covid-19.
O preço das ações da Boeing desabou por causa da dupla crise. No final de 2019, suas ações estavam avaliadas em 1.820 reais. Na última sexta-feira, não passavam de 716 reais. A Boeing chegou a pedir um auxílio de 60 bilhões de dólares ao governo americano para que a indústria aeronáutica americana consiga superar a crise. Tudo isso despertou dúvidas sobre se a companhia teria capacidade para pagar os 4,2 bilhões de dólares pelo setor de aviação civil da Embraer.
Pelo acordo, a Boeing e a Embraer seriam parceiras em duas joint-ventures. A principal delas, envolvendo a área de aviação comercial da Embraer, seria controlada pelos americanos, que teriam 80% de participação. Os 20% restantes permaneceriam sob controle da companhia brasileira.
Ao longo de dois anos, as duas empresas venceram a resistência de acionistas, do governo brasileiro (que tinha a prerrogativa de vetar o negócio), do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e até mesmo da Justiça (que chegou a suspender a fusão). Mas órgãos regulatórios da União Europeia ainda não haviam dado seu aval até agora e a Comissão Europeia chegou a abrir uma investigação aprofundada sobre o tema, devido a uma potencial ameaça à competição nos preços e desenvolvimentos de produtos no setor da aviação.
Pelos termos negociados do acordo, a Boeing ficaria com 80% da joint-venture a ser criada com a divisão e a Embraer poderia vender sua parte restante posteriormente. Se tivesse sido concluído, a Embraer ainda ficaria com os negócios de defesa e jatos executivos.
O negócio era visto como estratégico pelas duas empresas. Para Boeing, permitiria entrar com peso no mercado de jatos regionais. Também poderia concorrer nessa área com a europeia Airbus, que adquiriu em 2017 uma linha de jatos regionais da canadense Bombardier.
As negociações ainda contemplavam a criação de uma segunda joint-venture voltada para a produção da aeronave de transporte militar Embraer C-390 Millennium, com participação de 51% da Embraer e 49% da Boeing. Com o abandono do negócio, esta joint-venture também naufragou, mas a empresa americana ainda afirma que pretende manter um acordo para a comercialização e manutenção conjunta da aeronave.
As companhias aéreas mais antigas ainda em operação
A indústria da aviação é cheia de adversidades e, ao longo da história, muitas empresas deixaram de existir. Confira as dez aéreas mais antigas do mundo ainda em atividade. Somente uma latino-americana figura na lista.
Foto: picture-alliance/ZUMA Wire/B. Stanley
#10: LOT, da Polônia
A LOT foi criada em 29 de dezembro de 1928 pelo governo polonês, assumindo as aéreas existentes Aerolot (fundada em 1922) e Aero (1925). A era do jato foi introduzida na Polônia em 1968, quando o primeiro dos cinco Tupolev Tu-134 adquiridos pela LOT pousou em Varsóvia. Com uma frota com cerca de 70 aeronaves, entre elas o Boeing 787 Dreamliner (foto), a empresa voa para mais de 110 destinos.
Foto: Reuters
#9: Iberia, da Espanha
A empresa foi fundada em 28 de junho de 1927. Sua primeira rota nacional foi de Madrid para Barcelona (1927); a internacional, para Lisboa (1939); e a intercontinental, para Buenos Aires (1946). Em 2011, a empresa fez uma fusão com a British Airways para formar a International Airlines Group (IAG). No entanto, cada empresa opera ainda com seu próprio nome. No Brasil, ela voa para São Paulo e Rio.
Foto: picture-alliance/dpa/NurPhoto/A. Widak
#8: Air Serbia, da Sérvia
Fundada em 17 de junho de 1927, a Aeroput começou a voar regularmente entre Belgrado e Zagreb em 1928. A 2ª Guerra interrompeu as operações e, em 1947, a tradição da Aeroput foi continuada pela Aerolíneas Iuguslavas (JAT). Em 2013, a Etihad comprou 49% da empresa junto ao governo sérvio e a rebatizou de Air Serbia. Ela voa para 61 cidades com 19 aeronaves, entre jatos da Airbus e turboélices ATR.
Foto: ANDREJ ISAKOVIC/AFP/Getty Images
#7: Delta Airlines, dos EUA
Com o nome de Huff Daland Dusters, a aérea começou como uma empresa de pulverização de lavouras em 30 de maio de 1924. Somente em 1928 ela adotou o nome Delta e se tornou uma das maiores do mundo em número de passageiros ao comprar a Pan Am, em 1991, e fazer uma fusão com a Northwest Airlines, em 2008. Com mais de 300 destinos em ao menos 50 países, no Brasil ela voa para São Paulo e Rio.
Foto: dapd
#6: Finnair, da Finlândia
A empresa foi fundada com o nome de Aero em 1º de novembro de 1923. Seu voo comercial inaugural levou 162 kg de correio de Helsinque para Talín. Durante seu primeiro ano, a Aero transportou 269 passageiros. Ela oferece as ligações aéreas mais curtas entre Europa e Ásia devido à localização geográfica da Finlândia. São 19 destinos na Ásia, oito na América do Norte e mais de cem na Europa.
Foto: Imago Images/Aviation-Stock/M. Mainka
#5: Czech Airlines, da República Tcheca
A empresa foi fundada em 6 de outubro de 1923 pelo governo da antiga Tchecoslováquia. Seu primeiro voo foi na rota entre Praga e Bratislava, 23 dias depois de sua fundação. As operações foram interrompidas durante a 2ª Guerra, e a companhia foi mais tarde reintegrada pelo governo comunista pós-guerra. Atualmente ela voa para mais de 30 destinos na Europa, Oriente Médio e Ásia.
Foto: picture-alliance/dpa
#4: Aeroflot, da Rússia
A Aeroflot foi fundada em 17 de março de 1923 e seguiu a tendência, após a 1ª Guerra, de usar a aviação para fins pacíficos ao transportar passageiros, correio e carga, operando aviões de guerra reequipados. Em 1956, ela introduziu o Tupolev Tu-104, o primeiro avião civil a jato da Rússia. De seu hub no terminal Sheremetyevo, em Moscou, ela operou 159 rotas em 54 países no verão europeu de 2019.
Foto: Reuterrs/M. Shemetov
#3: Qantas, da Austrália
Em novembro de 1920, os veteranos da 1ª Guerra Paul McGinness e Hudson Fysh conceberam um serviço aéreo que ligasse a Austrália ao mundo. O primeiro serviço regular, entre Charleville e Cloncurry, começou em 1922. Em 1947, o governo comprou a companhia e a transformou na aérea de bandeira nacional. Na década de 1990, ela foi reprivatizada e voa atualmente para mais de 80 cidades em 20 países.
Foto: picture-alliance/AP Photo/R. Griffith
#2: Avianca, da Colômbia
A empresa foi fundada em 5 de dezembro de 1919 por imigrantes alemães e com o nome de SCADTA. Em 1920, a companhia mais antiga das Américas fez seu primeiro voo entre as cidades colombianas de Barranquilla e Puerto Berrío. Em 1972, ela se tornou a primeira companhia latino-americana a operar um Boeing 747. A Avianca possui 189 aeronaves e voa para 108 destinos em 26 países, inclusive o Brasil.
Foto: Imago/Rüdiger Wölk
#1: KLM, da Holanda
A KLM foi fundada em 7 de outubro de 1919 e é a companhia mais antiga do mundo que ainda opera sob seu nome original. Seu primeiro voo, porém, foi realizado em 1920, entre Londres e Amsterdã. Em 1946, ela se tornou a primeira a ligar a Europa continental aos EUA. Em 2004, se juntou com a Air France para formar um dos maiores grupos europeus. No Brasil, voa para São Paulo, Rio e Fortaleza.