Emergentes do Bric perdem dinamismo econômico
15 de março de 2012A abreviatura Bric foi cunhada há uns bons dez anos por um especialista norte-americano em finanças, tendo se transformado a partir de então em marca registrada das economias emergentes Brasil, Rússia, Índia e China. Enquanto o Brasil e a Rússia atraíram investidores estrangeiros com suas reservas de matéria-prima, Índia e China, países densamente populosos, prometiam mão-de-obra barata e, com isso, baixos custos de produção.
Apenas cinco anos mais tarde, esses países emergentes já contribuem mais para o crescimento econômico global que as velhas nações industrializadas. No entanto, nos últimos tempos essa máquina de crescimento parece estar emperrando. Pela primeira vez, a China precisa enfrentar déficits da balança comercial. E os outros países do Bric também lutam contra diversos problemas. Seu crescimento econômico mingua.
China e Índia continuam encabeçando a lista
Em entrevista à DW, Maria Laura Lanzeni, especialista em mercados emergentes do Deutsche Bank, relativiza essa tendência, lembrando que os últimos números provêm do ano passado. "No segundo semestre de 2012, iremos presenciar nova aceleração do crescimento", diz ela.
Não se deve, segundo Lanzeni, comparar anos isolados, mas sim as épocas "antes da crise" e "depois da crise". Assim, pode ser que os emergentes, sobretudo a China e a Índia, continuem crescendo com grande dinâmica.
Na China e na Índia, as metas de crescimento para 2012 foram reduzidas a 7,5% e 7% respectivamente. Comparadas às taxas dos países industrializados, estes percentuais continuam sendo altíssimos. Mas em relação às taxas de crescimento de dois dígitos dos anos anteriores, isso significa um recuo. As razões dessa baixa estão nos preços cada vez mais altos das matérias primas que os dois países precisaram importar em grandes quantidades.
Brasil e Rússia com problemas
Já o Brasil sofre com salários que sobem drasticamente, com a inflação e com a valorização do real pelo crescente fluxo de capital vindo do exterior. Investidores estrangeiros escolhem o Brasil, porque em seus países de origem ficou difícil obter lucros, devido ao combate à crise, acarretando liquidez alta e de juros baixos.
Na Rússia, a dependência do próprio petróleo emperra o desenvolvimento. O país precisa modernizar e ampliar urgentemente sua economia, mas a corrupção e as intervenções estatais na economia privada amedrontam os investidores. Quem tem dinheiro no país, leva para o exterior. Estimativas sérias apontam uma evasão de capital de aproximadamente 85 bilhões de dólares, apenas em 2011.
Além disso, não se pode esquecer que os emergentes não passam incólumes à crise de endividamento do Ocidente: as exportações para os países industrializados diminuem e a demanda interna não consegue compensar tais perdas.
No entanto, Maria Laura Lanzeni acredita que os emergentes seguirão dando impulsos importantes para a economia mundial, no futuro. "Uma outra questão é saber se esses países poderão ser, de fato, uma locomotiva de crescimento", observa Lanzeni. Esse papel, segundo ela, só poderá ser desempenhado pela China e pela Índia.
Emergentes de segunda liga
Mas enquanto os Estados do Bric enfraquecem, outros emergentes chamam a atenção. Segundo estimativas de especialistas, esses "emergentes de segunda ordem" já contribuem para um quarto do crescimento global. No ano de 2050, esse percentual será de 40%.
A especialista Lanzeni vê tal potencial em países como a Indonésia, o México e a Coreia, por exemplo, embora suas taxas de crescimento individuais sejam, obviamente, distintas. "Trata-se de um grupo heterogêneo, mas acredito que esses países poderão se tornar muito atraentes para investidores e empresários", completa Lanzeni.
O banco norte-americano de investimento Goldman Sachs inclui também, na lista de emergentes com boas perspectivas de longo prazo, o Vietnã, as Filipinas, o Paquistão e Bangladesh, embora, em alguns deles, a insegurança política ainda possa frear o desenvolvimento. O mesmo vale para Estados do Oriente Médio populosos como o Egito e o Irã, assim como para a Nigéria.
Por outro lado, a África do Sul, depois de uma fase de crescimento, decepciona, devido a suas taxas de crescimento minguantes. Também na Turquia, anteriormente usada como exemplo a ser seguido, houve uma desaceleração dramática. Depois de registrar taxas de crescimento de 8%, durante dois anos consecutivos, a economia turca cresceu menos de 3% em 2011.
Autor: Klaus Ulrich (sv)
Revisão: Augusto Valente