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Emmanuel Macron: salvador ou algoz da nação francesa?

Elizabeth Bryant de Paris
16 de novembro de 2017

Diz-se que, na França, é impossível reformar algo e continuar popular. O atual presidente está vivendo isso na pele: eleito há seis meses numa plataforma de esperança e transformação, ele viu sua aprovação despencar.

Macron durante visita à Alemanha
Macron durante visita à AlemanhaFoto: Getty Images/AFP/L. Schulze

O jovem presidente da França tem sido comparado a Júpiter, Napoleão e Luís 14, não necessariamente com intenções lisonjeiras. Seu nível de popularidade pode ter despencado das estonteantes alturas pós-eleição, mas até o momento Emmanuel Macron tem conseguido se esquivar dos maciços e paralisantes protestos de rua que frustraram esforços anteriores para sacudir a adormecida economia nacional e cortar a taxa de desemprego, hoje em quase 10%.

A implosão da rotina política no país – que lançou os partidos e líderes tradicionais numa luta pela sobrevivência e impeliu ao poder a novata legenda de Macron, A República em Marcha – deixou o caminho livre para o presidente de 39 anos governar.

"Na França, é impossível reformar algo e continuar popular", afirma o analista Philippe Moreau Defarges, do Instituto Francês de Relações Internacionais, sediado em Paris. "E, se ele não agir rapidamente, vai perder."

Impopularidade: um mal necessário

Numa entrevista recente à revista Time, Macron minimizou a própria impopularidade como um mal necessário. "A pior coisa é perder popularidade sem agir nem ser eficiente", explicou, acrescentando que está apenas cumprindo suas promessas eleitorais e impondo logo as reformas mais pesadas, para que tenham tempo de dar resultado.

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Macron também está agindo com rapidez para garantir a influência no palco mundial. Já na segunda semana de novembro, depois de ter inaugurado o novo Museu do Louvre em Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos, fez uma visita-surpresa à Arábia Saudita, em meio à apreensão quanto ao destino do primeiro-ministro libanês, Saad Hariri. Em seguida, de volta a seu país, abriu o Museu da Primeira Guerra Mundial ao lado do presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier.

"Em questão de cumprir as promessas de campanha, de colocar a França de volta no mapa, acho que ele está sendo bem eficaz", especialmente em termos de estilo e de projetar em nível internacional uma imagem moderna do país, avalia Lafont Rapnouil, diretor do escritório do Conselho Europeu de Relações Internacionais em Paris.

"Mas, quando se trata de certas prioridades-chave da campanha dele – clima, terrorismo, Europa e resolução de conflitos, entre outros – essas questões ainda estão para ser enfrentadas."

Viajante diligente: presidente francês (esq,) visita príncipe herdeiro saudita. Mohammad bin Salman al-Saud, em RiadFoto: picture-äalliance/AA/Saudi Royal Council/B. Algaloud

Sentado à mesa com os grandes

É possivelmente na Europa que as iniciativas de Macron na política externa estão sendo examinadas mais de perto. Logo no dia seguinte à posse, fez sua primeira viagem internacional, indo encontrar a chefe de governo Angela Merkel em Berlim. Os dois líderes se comprometeram a traçar um roteiro comum para a União Europeia, embora discordem em questões como o futuro da zona do euro.

O posicionamento decididamente pró-Europa do presidente francês também repercutiu numa Bruxelas abalada pela saída do Reino Unido da UE, a extrema direita e as divisões profundas entre os Estados-membros em questões como a imigração.

O discurso de Macron na Universidade de Sorbonne, em Paris, em setembro, recebeu elogios do presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker – enquanto o primeiro-ministro tcheco, Andrej Babis, comentou que o francês deveria se ater a governar o próprio país.

No entanto, apesar de toda a retórica pró-Europa, Macron não está dando uma volta de 180 graus com a França, acredita Lafont Rapnouil. "Observando-se sua política externa, ela parece política externa francesa bem clássica", afirma, citando como exemplo o apoio do presidente às negociações de paz para a Síria, ao lado das principais potências mundiais: "Há algumas iniciativas pan-europeias, mas ele está também interessado em que a França se sente à mesa com a Rússia e os Estados Unidos."

De olho na África, nos EUA – e na própria casa

Na África, ele deu continuidade ao papel ativo da França no combate aos militantes islâmicos do Sahel – sua segunda visita oficial foi ao Mali – e sugeriu que seu país poderá agir em outras regiões do continente, se preciso. E também cometeu gafes: seus« comentário, na cúpula do G20, em julho, de que a África tinha "problemas civilizatórios" gerou oposição. Mas ele também apelou para que se incremente a ajuda externa para os africanos.

Emmanuel Macron também desenvolveu uma relação complexa com Donald Trump, que se inaugurou com uma luta de aperto de mãos durante a visita do americano à França, no Dia da Bastilha.

No entanto, os esforços para modificar a visão de Trump, em pontos como as sanções ao Irã e a mudança climática, parecem estar dando em nada. Com Washington isolado em sua oposição ao Acordo de Paris, o chefe de Estado francês fez manchetes na segunda semana de novembro ao deixar de convidar o americano para uma cúpula climática em dezembro.

Mas Macron emprega grande parte de seu tempo enfrentando batalhas internas. Em setembro, milhares de franceses saíram em passeata contra as controvertidas reformas trabalhista, fiscal e da aposentadoria, que o presidente afirma serem essenciais para recolocar a nação em curso e torná-la mais competitiva.

Interferência na área trabalhista, impostos e aposentadoria custou o apoio de boa parte do eleitoradoFoto: Getty Images/AFP/L. Bonaventura

Nada menos do que a reforma da França

Apesar de uma encorajadora queda recente das taxas de desemprego, a popularidade do jovem político despencou para 35%, segundo sondagem da empresa Harris Interactive. Nas ruas da capital, os cidadãos estão profundamente divididos quanto a seu novo líder nacional.

"Acho que tudo o que ele está fazendo é basicamente o oposto do que as pessoas querem", comenta o professor de inglês Florian Breneur, de 36 anos, dando a Macron nota 2, na escala de 1 a 10. "As políticas dele favorecem os 5% mais ricos, e não foi para isso que ele foi eleito."

Por sua vez, a estudante de 21 anos Imane Amtribouzar está satisfeita com as realizações do presidente, até o momento: "Não acho que ele possa provocar uma mudança enorme em apenas seis meses. Acho que tem sido bastante positivo, no geral."

O analista Moreau Defarges lembra que Macron está sob pressão para fornecer resultados: "Ele tem que reformar a França, é por seu sucesso ou fracasso nessa tarefa que ele vai ser avaliado."

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