"Empenho mesmo sem a Otan"
16 de outubro de 2004![](https://static.dw.com/image/783808_800.webp)
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DW — Sr. Struck, o senhor acabou de retornar do encontro de ministros da Defesa da Otan na Romênia. Até que ponto as discordâncias sobre a guerra do Iraque ainda afetam a organização?
Peter Struck
— Bem, não dá para esquecer o passado com tanta facilidade assim, esquecer o conflito político sobre a guerra do Iraque e tudo o que Rumsfeld disse da antiga e da nova Europa. Mas não faz sentido olhar para trás. Agora temos que ver como a Otan pode ajudar o Iraque a restabelecer uma estrutura democrática.Separação de metas militares e civis
DW
— Menos controverso dentro da Otan é o tema Afeganistão. Esta é a primeira vez que os ministros da Defesa cogitam a junção das duas grandes missões Isaf e Enduring Freedom. Como ficaram as coisas?Peter Struck
— Eu fiz muitas ressalvas em nome da Alemanha; outros países também. Afinal, há uma grande diferença entre uma missão de ajuda à reconstrução do país, como a da Isaf, e uma operação militar de combate ao terrorismo. Seria o caso de se ponderar se a fusão poderia gerar certos efeitos de sinergia. É justamente isso que a secretaria geral da Otan quer averiguar agora. Eu, pessoalmente, parto do pressuposto de que ambas as missões se mantenham separadas.DW
— Mas a luta contra o terror, ou seja, a tentativa de capturar Osama bin Laden e os Talibãs, não é o verdadeiro pressuposto para que a missão da ISAF funcione relativamente bem?Peter Struck
— Não necessariamente.Contínuos riscos no Afeganistão
DW
— Até que ponto é perigosa a situação no Afeganistão?Peter Struck
— A situação continua bastante perigosa. Sabemos que nossos soldados e os soldados de outras nações estão correndo risco de vida. Nossa equipe em Kundus já foi alvo de atentados, um soldado foi gravemente ferido, outros levemente. Ou seja, a situação ainda é instável, algo a ser atribuído ao que restou dos Talibãs, dispostos como sempre a gerar insegurança.DW
— As equipes alemãs de reconstrução são um sucesso. Muitos outros países ainda não se animaram a participar, no entanto. Por quê?Peter Struck
— Acho que é uma decisão difícil para todo ministro da Defesa e para o Parlamento europeu enviar pessoas para regiões em conflito. Entendo perfeitamente a hesitação.Alemanha "exemplar" em missões internacionais
DW
— Será que o senhor poderia explicar para leigos o que significa quando a Otan diz que o prestígio da aliança estaria em jogo no Afeganistão. Promete-se enviar tantos e tantos soldados para lá e daí não acontece nada...Peter Struck
—DW
— Quanto tempo demora a reestruturação de um exército clássico de defesa em uma tropa potencial de intervenção?Peter Struck
— Contamos com um período de seis anos. No ano 2010 já teremos incorporado integralmente as novas estruturas e encerrado a reforma das Forças Armadas alemãs. Trata-se de um processo difícil, vinculado a riscos políticos razoáveis. É necessário tornar as Forças Armadas mais eficientes através de reduções, fechar determinadas bases, o que geralmente gera muita polêmica. Dentro da cabeça dos soldados também tem que mudar muita coisa. Eles foram treinados para desempenhar tarefas diferentes das que teriam que assumir agora.Transações bélicas com a Turquia?
DW
— Em meados de novembro, o senhor viaja à Turquia. O governo em Ancara deu algum sinal de que continua interessado em comprar tanques alemães?Peter Struck
— A Turquia sempre esteve interessada nos tanques alemães.DW
— O senhor acredita que a Alemanha vai começar a exportar tanques para lá, ao contrário do que foi decidido há cinco anos?Peter Struck
— Como sabemos, nossos parceiros de coalizão ainda estão fazendo restrições, mas acho que as divergências podem ser superadas. A Turquia mudou muito nos últimos cinco anos. Em se tratando de um país a ser aceito na União Européia, não podemos nos comportar mais como se estivéssemos diante de um Estado em que a tortura está na ordem do dia.Anúncio