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"Empenho mesmo sem a Otan"

Alexander Kudascheff (sm)16 de outubro de 2004

Em entrevista à DW, o ministro alemão da Defesa, Peter Struck, esboça a posição da Alemanha dentro da Otan e reitera sua recusa à junção de missões internacionais com fins militares e civis no Afeganistão.

Struck considera insuficiente a participação de outros países na OtanFoto: AP

DWSr. Struck, o senhor acabou de retornar do encontro de ministros da Defesa da Otan na Romênia. Até que ponto as discordâncias sobre a guerra do Iraque ainda afetam a organização?

Peter Struck

— Bem, não dá para esquecer o passado com tanta facilidade assim, esquecer o conflito político sobre a guerra do Iraque e tudo o que Rumsfeld disse da antiga e da nova Europa. Mas não faz sentido olhar para trás. Agora temos que ver como a Otan pode ajudar o Iraque a restabelecer uma estrutura democrática.

Separação de metas militares e civis

DW

Menos controverso dentro da Otan é o tema Afeganistão. Esta é a primeira vez que os ministros da Defesa cogitam a junção das duas grandes missões Isaf e Enduring Freedom. Como ficaram as coisas?

Peter Struck

— Eu fiz muitas ressalvas em nome da Alemanha; outros países também. Afinal, há uma grande diferença entre uma missão de ajuda à reconstrução do país, como a da Isaf, e uma operação militar de combate ao terrorismo. Seria o caso de se ponderar se a fusão poderia gerar certos efeitos de sinergia. É justamente isso que a secretaria geral da Otan quer averiguar agora. Eu, pessoalmente, parto do pressuposto de que ambas as missões se mantenham separadas.

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Mas a luta contra o terror, ou seja, a tentativa de capturar Osama bin Laden e os Talibãs, não é o verdadeiro pressuposto para que a missão da ISAF funcione relativamente bem?

Peter Struck

— Não necessariamente.
Contingente alemão na Isaf (Afeganistão)Foto: AP
Vimos que os chamados provincial reconstruction teams, dos quais a Alemanha coordena dois, estão tendo êxito na reconstrução das províncias. As eleições afegãs no fim de semana passado são uma prova clara de que o regime Talibã não conta com o apoio da população. Desta forma, não acho que devemos esperar a derrota do terrorismo, mas sim continuar agindo.

Contínuos riscos no Afeganistão

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Até que ponto é perigosa a situação no Afeganistão?

Peter Struck

— A situação continua bastante perigosa. Sabemos que nossos soldados e os soldados de outras nações estão correndo risco de vida. Nossa equipe em Kundus já foi alvo de atentados, um soldado foi gravemente ferido, outros levemente. Ou seja, a situação ainda é instável, algo a ser atribuído ao que restou dos Talibãs, dispostos como sempre a gerar insegurança.

DW

As equipes alemãs de reconstrução são um sucesso. Muitos outros países ainda não se animaram a participar, no entanto. Por quê?

Peter Struck

— Acho que é uma decisão difícil para todo ministro da Defesa e para o Parlamento europeu enviar pessoas para regiões em conflito. Entendo perfeitamente a hesitação.
Gerhard encontra soldados alemães da Isaf em Kabul (11/10/1004)Foto: AP
Mas já fiquei meio irritado com isso e não hesitei em demonstrar a minha irritação quando a cúpula Otan assumiu em Istambul certos compromissos que não podem ser adiados. É necessário maior esforço para instalar equipes semelhantes no oeste do país.

Alemanha "exemplar" em missões internacionais

DW

Será que o senhor poderia explicar para leigos o que significa quando a Otan diz que o prestígio da aliança estaria em jogo no Afeganistão. Promete-se enviar tantos e tantos soldados para lá e daí não acontece nada...

Peter Struck

Gerhard Schröder, junto com o presidente turco Ahmet Necdet Sezer, e o secretaário geral da Otan, Jaap de Hoop, na cúpula da alinaça em Istambul (28/06/2004)Foto: AP
Este é sem dúvida um ponto fraco. Não quero me gabar de que somos exemplares, mas reconhecemos, sim, a necessidade de nos empenharmos, mesmo que a Otan não demonstre tanto empenho. Seja nas conferências ou em círculos fechados, sempre é necessário fazer pressão, a fim de que aconteça mais do que até então.

DW

Quanto tempo demora a reestruturação de um exército clássico de defesa em uma tropa potencial de intervenção?

Peter Struck

— Contamos com um período de seis anos. No ano 2010 já teremos incorporado integralmente as novas estruturas e encerrado a reforma das Forças Armadas alemãs. Trata-se de um processo difícil, vinculado a riscos políticos razoáveis. É necessário tornar as Forças Armadas mais eficientes através de reduções, fechar determinadas bases, o que geralmente gera muita polêmica. Dentro da cabeça dos soldados também tem que mudar muita coisa. Eles foram treinados para desempenhar tarefas diferentes das que teriam que assumir agora.

Transações bélicas com a Turquia?

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Em meados de novembro, o senhor viaja à Turquia. O governo em Ancara deu algum sinal de que continua interessado em comprar tanques alemães?

Peter Struck

— A Turquia sempre esteve interessada nos tanques alemães.
Tanque alemão do tipo Leopard 2, cobiçado pela TurquiaFoto: dpa
Há cinco anos, no entanto, havia a clareza política de que a venda não seria autorizada. Então a Turquia passou a se concentrar nos tanques americanos. Mas com certeza não é sobre a venda de tanques que conversarei com meus interlocutores na Turquia e sim sobre as tarefas da Otan no Iraque e em outros lugares.

DW

O senhor acredita que a Alemanha vai começar a exportar tanques para lá, ao contrário do que foi decidido há cinco anos?

Peter Struck

— Como sabemos, nossos parceiros de coalizão ainda estão fazendo restrições, mas acho que as divergências podem ser superadas. A Turquia mudou muito nos últimos cinco anos. Em se tratando de um país a ser aceito na União Européia, não podemos nos comportar mais como se estivéssemos diante de um Estado em que a tortura está na ordem do dia.

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