Únicas peças que restaram do acervo etnológico do Museu Nacional estão em exposição em Brasília. Após incêndio no Rio de Janeiro, China ordena inspeção nacional de seus museus.
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A exposição Índios: Os Primeiros Brasileiros, em exibição até o dia 16 de dezembro no Memorial dos Povos Indígenas, em Brasília, conseguiu salvar o que sobrou do acervo etnológico brasileiro de mais de 40 mil peças do Museu Nacional no Rio de Janeiro, consumidas pelo incêndio de domingo passado (2/9).
As peças não se perderam porque já se encontravam emprestadas para a exposição desde o dia 29 de agosto no Memorial dos Povos Indígenas. Entre os itens expostos, há uma série de imagens dos raríssimos mantos tupinambás e um conjunto de praiás (vestimentas rituais) do povo indígena pankararu, como também maracás, arcos, flechas e cocares de povos indígenas do Nordeste, como os xucuru, kiriri, tupinambá e fulniô.
O professor de antropologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e curador da exposição João Pacheco comemorou a sorte em ter os objetos integrando uma mostra fora do Rio. "Se o material não estivesse nessa exposição, provavelmente teria sido destruído também com o restante da coleção. É o que resta de memória das atividades antropológicas do Museu Nacional", disse.
Pacheco disse que a coleção em exposição foi reunida por ele dentro de um projeto de pesquisa. "O aspecto muito triste é que essa é a única coleção que restou de todo o acervo do Museu Nacional. Todo material foi destruído, todo nosso acervo. Quarenta mil peças de todos os povos indígenas do Brasil, peças de mais de cem anos, recolhidas por viajantes no tempo do Brasil Império, peças mais recentes, material do Brasil, África e Oceania. Material arqueológico muito precioso também foi perdido”, destacou.
Segundo o professor, algumas peças que não vieram para Brasília ficaram guardadas num galpão anexo ao museu. "Essas peças também se salvaram", disse. No início da semana passada, já havia sido anunciado que parte do acervo de etnologia havia sido salvo devido à sua descentralização e digitalização.
Entre as partes salvas do acervo de cultura indígena por terem sido digitalizadas estão documentos do etnólogo alemão Curt Nimuendajú sobre as lendas e as línguas dos povos amazônicos, como também gravações do antropólogo Edgar Roquette-Pinto, de acordo com Carlos Fausto, pesquisador do Museu Nacional .
China começa inspeção nacional de seus museus após incêndio no Brasil
Após o fogo que destruiu a maior parte do acervo de 20 milhões de peças do Museu Nacional, as autoridades de patrimônio cultural da China anunciaram que farão inspeções dos sistemas de combate a incêndios em todos os museus do país, a fim de reduzir riscos e evitar desastres como o ocorrido há uma semana no Rio de Janeiro.
A campanha vai se centrar principalmente nos museus mais visitados e nos que se considera que têm sistemas de prevenção mais obsoleta, destacou uma circular da Administração Nacional de Patrimônio Cultural da China.
No documento, as autoridades recomendam especialmente a revisão das saídas de incêndios, dos sistemas elétricos em mal estado e do uso ilegal de eletrodomésticos e outros aparelhos, como também a contratação de pessoal especializado para organizar as medidas de prevenção.
Depois do incêndio, também a Biblioteca Nacional, que se localiza no Rio de Janeiro, afirmou que vai abrir uma nova licitação para concluir a renovação de seu sistema elétrico.
Incêndio que destruiu Museu Nacional no Rio chama atenção para outras instituições culturais e científicas em prédios históricos. Devido a riscos, alguns se encontram fechados.
Foto: Imago/M. A. Rummen
Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro
Construída em 1603 na antiga Ponta do Calabouço, no centro do Rio de Janeiro, a Fortaleza de Santiago deu origem ao conjunto arquitetônico que abriga o Museu Histórico Nacional, o mais importante museu de história do país. Seu acervo inclui 258 mil itens e uma biblioteca especializada em história do Brasil, história da arte, museologia e moda.
Foto: public domain
Museu do Ipiranga, São Paulo
Localizado no Parque da Independência, em São Paulo, o Museu do Ipiranga foi inaugurado em 1895, como museu de história natural e marco da independência. Seu acervo abrange 450 mil itens, do século 17 até o século 20, referentes à história da sociedade brasileira. O museu se encontra fechado desde 2013, quando um laudo apontou risco de desabamento do forro. O prédio aguarda obras de restauração.
Foto: Imago/M. A. Rummen
Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro
O prédio da antiga Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, abriga hoje a maior e mais importante coleção de arte brasileira do século 19, além de documentos e livros. O acervo do Museu Nacional de Belas Artes teve origem nas pinturas trazidas e produzidas pela Missão Artística Francesa, que chegou ao Rio em 1816, como também nas peças da coleção de D. João 6° deixadas no Brasil.
Foto: Imago/imagebroker/K. Kozlowski
Museu Emílio Goeldi, Belém
A criação do Museu Emílio Goeldi, em Belém, remonta a 1866. Atualmente, a instituição possui três bases físicas. A mais antiga foi instalada em 1895 numa área de 5,2 hectares, atualmente conhecida como Parque Zoobotânico, na capital paraense. Desde sua fundação, suas atividades se concentram no estudo científico dos sistemas naturais e socioculturais da Amazônia.
Foto: Divulgação Portal Brasil
Museu da Inconfidência, Ouro Preto
O museu dedicado a preservar a memória da Inconfidência Mineira ocupa a antiga Casa de Câmara e Cadeia de Vila Rica, hoje Ouro Preto, construída no fim do século 18. Além do Panteão com os restos mortais dos inconfidentes, o acervo da instituição abriga mais de quatro mil peças do cotidiano mineiro nos séculos 18 e 19, além de importantes obras, por exemplo, de Aleijadinho e Mestre Ataíde.
Foto: picture-alliance/imageBROKER/G. Barbier
Museu Imperial, Petrópolis
O antigo palácio de verão da família imperial brasileira em Petrópolis abriga hoje o principal acervo relativo ao império brasileiro, que cobre sobretudo o período governado por D. Pedro 2°, que também mandou construir o prédio neoclássico. Entre os cerca de 300 mil itens estão a coroa imperial brasileira e a pena de ouro usada pela princesa Isabel para assinar a Lei Áurea.
Inaugurado em 2006 no prédio histórico da Estação da Luz, aberto em 1901, em São Paulo, o moderno museu em homenagem à diversidade da língua portuguesa recebeu quase 4 milhões de visitantes até um incêndio destruir dois andares de sua estrutura, em dezembro de 2015. Por ser virtual, seu acervo, no entanto, não se perdeu. O prédio está sendo restaurado e sua reinauguração está prevista para 2019.
Foto: Imago/Fotoarena/B. Rocha
Museu de Arte de São Paulo (Masp), São Paulo
O Masp abriga a maior coleção de arte europeia do Hemisfério Sul. Idealizado por Assis Chateaubriand, o museu foi fundado em 1947. No entanto, o prédio icônico que ocupa na Avenida Paulista, projetado pela arquiteta Lina Bo Bardi e que se tornou marco da arquitetura do século 20, foi inaugurado em 1968, com a presença da rainha Elizabeth 2ª. Seu acervo abrange hoje mais de 10 mil obras.
Foto: picture-alliance/Demotix/A. M. Chang
Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro
Além de um dos principais acervos de arte moderna brasileira, o prédio icônico do arquiteto modernista Affonso Eduardo Reidy e os jardins de Burle Marx, na praia do Flamengo, são atrações do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM), fundado há sete décadas. Em 1978, um incêndio destruiu quase por completo as obras de sua coleção, entre elas, pinturas de Picasso e Salvador Dalí.
Foto: picture-alliance/dpa/Campus & Davis
Museu Nacional, Rio de Janeiro
Boa parte do prédio e do acervo de 20 milhões de itens do Museu Nacional – o maior de história natural do país – foi destruída no incêndio na noite de 2 de setembro de 2018. O museu era a mais antiga instituição científica do Brasil. Fundado como Museu Real, ele ocupava a antiga residência oficial dos imperadores do Brasil, na Quinta da Boa Vista, desde 1892.