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Empresa americana suspende compra de couro do Brasil

29 de agosto de 2019

Em meio à crise ambiental, VF Corporation diz que só vai retomar compras quando tiver segurança de que o material não contribui para a degradação do meio ambiente. Companhia controla Kipling, Timberland e outras marcas.

Queimadas na Amazônia
Crise ambiental vem sendo alimentada pelos dados negativos do desmatamento e as políticas do governo BolsonaroFoto: AFP/C. de Souza

A VF Corporation, empresa americana que controla 20 marcas de vestuário e calçados – entre elas a Timberland, Vans, Kipling e The North Face – confirmou nesta quinta-feira (29/08) que não vai mais comprar couro de produtores brasileiros. O anúncio ocorre em meio à crise ambiental e de imagem que o Brasil enfrenta por causa das queimadas e aumento do desmatamento na Amazônia.

Segundo a empresa, a medida vai valer até que ela "tenha confiança e segurança de que os materiais usados em seus produtos não estão contribuindo para a degradação ambiental no país".

"Desde 2017, nós aprimoramos nosso abastecimento global de couro através de estudos para garantir que os fornecedores de couro estejam de acordo com nossos requisitos de abastecimento responsável. Como um resultado desse estudo detalhado, não conseguimos assegurar satisfatoriamente que nossos volumes mínimos de couro comprados de produtores brasileiros sigam esse compromisso", disse a empresa em nota distribuída para veículos de imprensa. 

"Sendo assim, a VF Corporation e suas marcas decidiram não seguir abastecendo diretamente com couro e curtume do Brasil para nossos negócios internacionais até que haja a segurança de que os materiais usados em nossos produtos não contribuam para o dano ambiental no país", completou a nota.

A decisão da VF Corporation representa uma das primeiras consequências econômicas para produtores brasileiros desde o início da crise ambiental, que foi alimentada pelos dados negativos do desmatamento e as políticas do governo de Jair Bolsonaro na área ambiental – que são alvo de críticas de ambientalistas e nações estrangeiras.

Diversos políticos brasileiros ligados ao agronegócio já vinham manifestando temor de que a forma como o governo Bolsonaro vem lidando com a crise poderia diminuir o espaço dos produtores do Brasil em mercados do exterior e até mesmo provocar sanções.

As queimadas e a política ambiental brasileira também já levaram a Irlanda e a França, duas nações com fortes lobbies agrícolas locais, a se posicionarem contra o acordo de livre-comércio entre o Mercosul e a União Europeia.

Além da Timberland, Vans, Kipling e The North Face, outras marcas da VF Corporation, que tem sede em Denver, também deixaram de usar couro brasileiro: Dickies, Kodiak, Terra, Walls, Workrite, Eagle Creek, Eastpack, JanSport, Napapijri, Bulwark, Altra, Icebreaker, Smartwoll e Horace Small.

Vai e vem de informações

O anúncio da VF Coporation havia sido antecipado na terça-feira pelo Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), entidade que representa produtores de couro do país.

O CICB enviou uma carta para o Ministério do Meio Ambiente relatando a decisão da VF e alertando contra os efeitos negativos das queimadas para o setor. O conteúdo foi divulgado pelo jornal Folha de S. Paulo e gerou repercussão imediata.

No entanto, na quarta-feira, após o caso ganhar bastante repercussão, o presidente do CICB, José Fernando Bello, minimizou o conteúdo da carta e disse que o "fornecimento e exportações continuam normais, sendo o Brasil um dos maiores produtores mundiais de couro".

Ele também disse ao Broadcast Agro, do jornal O Estado de S. Paulo, que a entidade havia cometido um "equívoco" ao afirmar originalmente que compradores estrangeiros de couro estavam cancelando compras, e que na verdade eles estavam simplesmente pedindo "esclarecimentos adicionais" sobre a origem e rastreabilidade do produto, e que não havia nenhum plano de boicote em andamento.

O recuo da CICB acabou sendo explorado pelo presidente Bolsonaro, que aproveitou o caso para atacar a imprensa. "Àqueles que torcem contra o país e que vergonhosamente divulgaram felizes a notícia, informo que o Centro das Indústria de Curtumes do Brasil negou tal suspensão. As exportações seguem normais", escreveu no Twitter, sem mencionar que os jornais só haviam reproduzido a notícia divulgada originalmente pelo próprio CICB.

No final, a confirmação do cancelamento das compras acabou sendo feita pelos próprios compradores.  

Após a VF Corporation esclarecer o assunto, José Fernando Bello, do CICB, disse ao G1 que os produtores ainda não foram comunicados oficialmente sobre o boicote.

"Nossos curtumes estão surpresos, eles possuem certificação internacional (de boas práticas de produção) com o maior nível de avaliação. Mas a gente entende que tem o fato da Amazônia, das queimadas, isso sensibiliza, e a gente entende", disse.

Bello acrescentou que a VF "não compra grandes volumes, mas é um cliente importante". "Vender para uma marca famosa ajuda a vender para outras."

Em sua carta enviada ao Ministério do Meio Ambiente na terça-feira, o CICB havia apontado que o Brasil exporta mais de 80% de sua produção de couros, que gera receita de 2 bilhões de dólares em vendas ao ano.

JPS/rtr/ots

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