Empresa brasileira exporta casas para refugiados na Alemanha
Jean-Philip Struck9 de novembro de 2015
MVC Plásticos, do Paraná, pretende enviar 1.200 unidades pré-fabricadas ao país europeu, num negócio de até 65 milhões de reais. Primeiro kit será montado em Bremen.
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A crise dos refugiados enfrentada pela Alemanha entrou na rota das exportações brasileiras. A MVC Plásticos, empresa baseada em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, começará a exportar na semana que vem casas pré-fabricadas que devem abrigar algumas das milhares de pessoas que buscam asilo na Alemanha.
O kit da primeira unidade vai ser despachado na quinta-feira (12/11) por via aérea e montado na cidade de Bremen, no noroeste do país. A empresa espera que, em 2016, o total de casas exportadas chegue a 1.200 unidades, num negócio que deve render 65 milhões de reais.
As casas, que têm 64m² e dois dormitórios, são baseadas em chapas de compósitos e fibra de vidro. Elas serão adquiridas pelo consórcio alemão AMD, baseado em Bremen, que pretende revendê-las para empresas alemãs interessadas em doar as unidades para prefeituras e governos estaduais. Futuramente, a AMD espera negociar diretamente com as autoridades a venda das casas pré-fabricadas. O material usado é semelhante ao de trailers e turbinas eólicas.
De acordo com o diretor-geral da MVC, Gilmar Lima, a primeira casa exportada servirá de "cobaia" para avaliar a necessidade de eventuais modificações. Os kits já sofreram várias adaptações para se adequar ao clima europeu. "Tivemos que modificar algumas coisas, como reforçar o teto por causa do acúmulo de neve e adequar o layout ao gosto dos alemães", afirma Lima. A empresa já exportou casas do mesmo modelo para Angola, Moçambique e Venezuela.
A primeira unidade será montada por uma equipe de técnicos brasileiros, em até 15 dias. O plano prevê que operários alemães sejam treinados para montar as unidades que serão exportadas em 2016. Após o período de testes, que também deve durar 15 dias, a previsão é que seja exportado um lote inicial de 40 casas. A partir de março, cem casas por mês deverão ser enviadas do Brasil para a Alemanha. A AMD não revela onde as casas serão distribuídas.
"Como prevemos que a demanda para casas de refugiados não deve diminuir tão cedo, estamos estudando aumentar a capacidade para eventualmente exportar até 400 casas por mês", afirma Lima, da MVC.
Cada unidade vai custar 13.800 dólares (cerca de 52 mil reais) na fábrica brasileira. Além de paredes, forro e teto, os kits já incluem as instalações hidráulicas e elétricas. O acabamento final, que inclui janelas, portas e outros itens, vai ser fornecido por empresas alemãs, o que deve elevar o valor de cada unidade para 25 mil dólares (95 mil reais). A empresa afirma que as unidades são capazes de resistir por anos sem muita manutenção.
Segundo o diretor da MVC, empresa controlada pela Artecola Química e pelo grupo Marcopolo, o interesse pelas unidades brasileiras surgiu na Alemanha em parte devido à alta do dólar, que tornou o produto mais competitivo perante concorrentes da Turquia e da China.
O negócio envolvendo os refugiados é visto como um alívio para a empresa, que teve receitas de 670 milhões de reais em 2014, mas espera registrar pouco menos da metade disso em 2015 por causa da retração do mercado brasileiro de componentes automotivos e da construção de unidades para programas como o Minha Casa, Minha Vida, que vem sofrendo cortes.
Crise
Oficialmente, o governo alemão espera receber 800 mil solicitantes de asilo em 2015, principalmente refugiados que fogem das guerras na Síria e no Iraque e imigrantes que deixam seus países por razões econômicas, especialmente pessoas originárias dos Bálcãs.
A maioria dos que fogem do Oriente Médio tem grande chances de conseguir o documento de permanência. Já os imigrantes econômicos têm poucas chances de ficar na Alemanha – só que, até que seus casos sejam analisados (o que costuma demorar semanas), eles têm uma permissão temporária para permanecer no país.
Várias prefeituras e governos estaduais afirmam que estão sobrecarregados com as tarefas de abrigar e alimentar os recém-chegados. Algumas cidades estão tendo que improvisar abrigos e instalações. Em Berlim, um terminal do antigo aeroporto de Tempelhof foi convertido num dormitório para mil pessoas. Outras cidades, como Hamburgo, armaram barracas para abrigar famílias.
O temor é que, com a chegada do inverno, muitas dessas instalações provisórias se revelem inadequadas. Segundo um levantamento realizado em outubro pelo jornal Die Welt, pelo menos 42 mil refugiados estão abrigados em barracas instaladas em acampamentos improvisados por prefeituras e governos estaduais da Alemanha.
Algumas empresas alemãs já entraram no negócio de fornecer casas e alimentação para refugiados. Entre elas está a European Homecare, que fechou contratos com prefeituras e fornece abrigo e comida para 15 mil refugiados. O governo alemão estima que vai gastar 6 bilhões de euros (24 bilhões de reais) com os refugiados em 2015.
Como alemães ajudam refugiados
Ataques a abrigos de migrantes tornaram-se rotineiros na Alemanha. Mas essa é apenas uma parcela da realidade do país, onde milhares de voluntários e iniciativas auxiliam os que nele buscam refúgio.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Endig
Desafio das boas-vindas
Usando a hashtag #WelcomeChallenge no Facebook e no Youtube, voluntários alemães promovem a ajuda a refugiados. Quem auxilia os migrantes de alguma maneira posta uma imagem com a hashtag. A chef alemã Sarah Wiener foi convidada a ajudar e, sorridente, levou 150 porções de sopa orgânica com pão a um abrigo em Berlim.
Foto: picture-alliance/dpa/G. Fischer
Um time de refugiados
Henning Eich, jogador do time de futebol Lok Postdam, congratula os jogadores do Welcome United 03, a primeira equipe alemã formada somente por refugiados. Logo no primeiro jogo do campeonato, em Postdam, o Welcome United 03 venceu o Lok Potsdam por 3 a 2. "O futebol une", afirma Manja Thieme, responsável pela equipe com 40 integrantes.
Foto: picture-alliance/dpa/O. Mehlis
Alemão no cotidiano
Em Thannhausen, na Baviera, o voluntário Karl Landherr dá aulas de alemão a requerentes de asilo. Junto com alguns colegas, o professor aposentado também criou um livro de alemão que oferece uma espécie de "estratégia de sobrevivência" para os refugiados recém-chegados ao país, segundo Landherr. O livro dá dicas práticas para o dia a dia e ficou conhecido em toda a Alemanha.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Puchner
Festa de boas-vindas
Refugiados e apoiadores dançaram juntos numa festa de boas-vindas, organizada pela aliança Dresden Nazifrei (Dresden livre dos nazistas). Os 600 requerentes de asilo de Heidenau – alojados numa antiga loja de materiais de construção e protegidos atrás de cercas altas – já nem pensam em deixar seus alojamentos por medo da extrema direita.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Willnow
Bicicletas para refugiados
Na foto, Tobias Fleiter enche o pneu da bicicleta de um refugiado do Togo. Fleiter é um dos integrantes do projeto Bicicletas Sem Fronteiras, que contava somente com dois voluntários quando começou. Hoje, 15 voluntários formam o time, que já consertou mais de 200 bicicletas em Karlsruhe, emprestando-as a refugiados.
Foto: picture-alliance/dpa/U. Deck
Escola vira abrigo
Em Berlim, os centros de refugiados estão lotados. Recentemente, três novos abrigos foram abertos, sendo um deles a escola Teske, em Schöneberg, que estava vazia há tempos. Até 200 pessoas podem ser acomodadas no local, onde contam com o apoio de assistentes sociais. Muitos voluntários também ajudam por ali, organizando as roupas, por exemplo.
Foto: picture-alliance/dpa/B. von Jutrczenka
Bem-vindos à ilha de Sylt
Joachim Leber (no centro) auxilia esta família da Síria. Ele é membro da associação Integrationshilfe na ilha de Sylt, na qual cerca de 120 refugiados recebem assistência. A maioria deles vem do Afeganistão, da Somália e da Síria. Voluntários procuram ajudá-los com a língua alemã e motivação pessoal. "A Alemanha também foi ajudada após a Segunda Guerra", diz Leber.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Marks
Resgate no Mediterrâneo
Em lanchas, soldados alemães resgatam refugiados no Mediterrâneo e os levam para seus navios. Desde o começo de maio deste ano, as tripulações alemãs salvaram cerca de 7,5 mil pessoas. Entre elas estava Rahmar Ali (no centro), de vestido roxo. A mulher de 33 anos, grávida, é natural da Somália e estava em fuga sozinha há cinco meses.
Foto: picture-alliance/dpa/Bundeswehr/T. Petersen
Primeiro bebê refugiado
Sophia nasceu com 49 centímetros e três quilos. Ela é o primeiro bebê que veio ao mundo num navio da Bundeswehr (Forças Armadas da Alemanha). Foi um nascimento assistido por médicos no último segundo e uma grande alegria para a mãe, Rahmar Ali, da Somália. "Especialmente nesses momentos você sente que está fazendo algo com sentido", diz um soldado que esteve presente no nascimento da criança.
Foto: Reuters/Bundeswehr/PAO Mittelmeer
Caminho seguro
Como eu vou de trem do ponto A ao B? O que significam os sinais? Onde eu posso obter um bilhete de trem? Em Halle, refugiados da Síria aprendem tudo isso na estação central da cidade. Na foto, uma policial mostra que, por motivos de segurança, é preciso ficar atrás da faixa branca quando um trem passa pela plataforma.
Foto: picture-alliance/dpa/H. Schmidt
Primeiro clube de natação
Na cidade de Schwäbisch Gmünd, refugiados podem aprender a nadar. Ludwig Majohr (de boné) dá as aulas de natação. Ele é um dos oito aposentados voluntários no clube de natação, recém-fundado. O objetivo principal é a integração, segundo Gmünd. "Na natação, as pessoas se ajudam", completa o voluntário Roland Wendel. "Não perguntamos as nacionalidades."
Foto: picture-alliance/dpa/S. Puchner
Mais café, menos ódio
Em Halle, o partido ultradireitista NPD pretendia protestar recentemente contra um planejado centro para requerentes de asilo. A cidade respondeu com um convite para um café da manhã aberto, em prol da tolerância. Mais de 1.200 pessoas compareceram, compartilhando pãezinhos e bolos com os refugiados. Um belo gesto de boas-vindas.