"A crise acabou", afirma presidente da Volkswagen brasileira. Ele e outros empresários, como chefe da Siemens, destacam números positivos da economia e afirmam que os negócios voltaram a andar. Único risco: a política.
Anúncio
O chefe vem nos receber pessoalmente. Pablo di Si nos espera na porta do seu espaçoso escritório em São Bernardo do Campo. A linha de produção e os escritórios da Volkswagen do Brasil ocupam mais de 1 milhão de metros quadrados nesta cidade do interior paulista.
A produção na primeira fábrica da Volkswagen fora da Alemanha começou em 23 de março de 1953. Agora, a empresa está pronta para dar um próximo grande passo, diz Di Si. Até 2020, a montadora alemã planeja investir 7 bilhões de reais no lançamento de 20 novos produtos, 13 dos quais para o mercado interno.
"Estamos muito otimistas em relação à economia brasileira", afirma Di Si. "A inflação está em queda, as taxa de juros estão baixas, os consumidores podem pegar empréstimos baratos – e vão comprar nossos carros."
O argentino está há apenas quatro meses na chefia da Volkswagen do Brasil, mas já mudou significativamente a empresa. Ele aposta na comunicação franca, encontra-se com jornalistas e revendedores, com consumidores e políticos. Ele chama sua iniciativa de "Nova Volkswagen".
"A crise acabou, as coisas estão andando de novo", afirma Di Si, e apresenta números. Em janeiro e fevereiro, a Volkswagen do Brasil vendeu 17% mais carros do que no mesmo período do ano anterior. Isso significa que também vendeu bem mais do que a concorrência.
Porém – e isso é algo sobre o que Di Si não gosta de falar – a crise econômica que afeta o Brasil desde 2013 atingiu em cheio a Volkswagen. A produção em três turnos teve de ser deixada de lado em várias áreas, pois um turno era suficiente para atender à demanda. Milhares de funcionários perderam seus empregos ou tiveram suas horas reduzidas.
Agora eles estão sendo trazidos de volta pouco a pouco. "Ok, não se trata de novos empregos porque eles já existiam antes, mas estamos gerando emprego de novo porque a economia está ganhando ritmo", comenta Di Si.
O risco político
Muitos representantes do setor econômico veem na política brasileira, abalada por sucessivos escândalos de corrupção que criaram um ambiente de incerteza para as eleições deste ano, o único fator de risco para o desenvolvimento econômico.
"Estamos num processo de transição", diz o presidente da Siemens do Brasil, André Clark. Ele se declara cautelosamente otimista. "O Brasil está abrindo seus mercados, e há muitas oportunidades."
Segundo ele, os pedidos estão aumentando, e os clientes da Siemens voltaram a investir. Clark avalia que a expansão da economia brasileira vai durar no mínimo até 2020 e criar novos postos de trabalho. "Acreditamos no Brasil", afirma.
O presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha (AHK), Thomas Timm, tem um ponto de vista similar e argumenta de forma pragmática. "O Brasil precisa fazer logo investimentos em infraestrutura, no setor de saúde e na digitalização que já estão atrasados", assegura.
Timm vive e trabalha no Brasil desde meados dos anos 1980 e já passou por várias crises. "Esta última foi a pior de todas, ela empurrou muitas pessoas para a pobreza. Mas agora as coisas estão andando de novo."
Ele menciona ainda a tradicional atitude de otimismo dos brasileiros perante as dificuldades. Além disso, Brasil é o maior e mais populoso país da América Latina e tem muito a oferecer. "Considere o número enorme de consumidores. Um mercado como esse interessa a muitas empresas", afirma.
Volkswagen do Brasil - 60 anos
Há 60 anos, a Volkswagen se instalava num galpão do bairro do Ipiranga em São Paulo. Confira imagens de seis décadas de história da maior montadora nacional.
Foto: Volkswagen do Brasil
Armazém no Ipiranga
Em 23 de março de 1953, a Volkswagen do Brasil se instalava num pequeno armazém em São Paulo. Dali saíram, de 1953 a 1957, os primeiros Fuscas e Kombis, a princípio, com peças importadas da Alemanha. Mas, já em 1949, pesquisas no mercado latino-americano apontaram o Brasil como local mais adequado para receber a primeira fábrica da marca fora da Alemanha.
Foto: Volkswagen do Brasil
Primeira fábrica
Com os estímulos à industrialização no Brasil, em 1956, a VW decidiu construir uma fábrica em São Bernardo do Campo (SP) – a primeira unidade da montadora fora da Alemanha. Em setembro de 1957, saía desta linha de produção o primeiro veículo da marca no Brasil: a Kombi, com 50% de componentes nacionais. Na foto, duas Kombis do ano de 1976.
Foto: Volkswagen do Brasil
Maior do setor
Na inauguração oficial da fábrica, em 18 de setembro de 1959, o então presidente Juscelino Kubitschek assistiu ao lançamento do primeiro Fusca nacional, passeando pela fábrica a bordo de um Fusca conversível. Após 60 anos de atividades no país, a marca produziu mais de 20 milhões de veículos no Brasil e tornou-se a maior fabricante de veículos e a maior exportadora do setor automotivo brasileiro.
Foto: Volkswagen do Brasil
Carismático Fusquinha
Com mais de 3 milhões de unidades produzidas, o Fusca foi um dos modelos de maior sucesso da VW do Brasil. O primeiro automóvel de baixo custo, responsável pela motorização de milhões de brasileiros, ganhou até data comemorativa: o dia 20 de janeiro é o Dia do Fusca. Na foto: o último Fusca produzido no Brasil, em 1986. Ele se encontra hoje no Museu da VW em Wolfsburg, sede mundial da empresa.
Foto: DW/C.Albuquerque
Outros tempos
Para incentivar a fabricação de carros populares, em 1993, o então presidente Itamar Franco reinaugurou a linha de montagem do Fusca. Porém, os tempos eram outros e o espartano Fusca não pôde mais concorrer com modelos de outras marcas surgidos na década de 1990, com preços semelhantes e acabamento e espaço interno melhores. Em 1996, a sua produção foi definitivamente encerrada no Brasil.
Foto: Volkswagen do Brasil
Fim de uma era
No final de 2013, a produção da Kombi, outro grande sucesso da VW no Brasil, também deverá ser encerrada – por não atender ao cumprimento de normas de segurança. Além disso, a marca alemã pretende modernizar sua frota. A Kombi, do alemão "Kombinationsfahrzeug" (veículo combinado), é a versão brasileira do VW Bus Tipo 2, produzido na Alemanha até 1979. Na foto: linha de montagem da Kombi no Brasil.
Foto: Volkswagen do Brasil
Clássicos da VW
Ao longo de sua história no Brasil, a Volkswagen projetou e desenvolveu no país uma série de modelos nacionais de grande sucesso, como o Gol, o Fox, a Variant, o Karmann Ghia e o esportivo SP2. No entanto, o primeiro veículo totalmente projetado e desenvolvido pela VW no Brasil foi a Brasília, lançada em 1973.
Foto: Volkswagen do Brasil
O primeiro milhão
As exportações da VW do Brasil começaram em 1970 para países da América do Sul e para o México. No mesmo ano, a empresa alcançou o primeiro milhão de veículos vendidos. Em março de 1972, o Fusca completava o primeiro milhão de unidades vendidas no país. Na foto: a segunda fábrica da Volkswagen no Brasil, inaugurada em 1976 em Taubaté (SP) e responsável pela fabricação dos modelos Gol e Voyage.
Foto: Volkswagen do Brasil
Made in Brazil
Entre os modelos exportados, uma curiosidade é o Passat, que até hoje é visto nas ruas do Iraque. Um total de 170 mil veículos foram exportados entre 1983 e 1988. Conhecidos no Iraque como "Brazili", os veículos traziam no vidro traseiro os dizeres "Made in Brazil". Os carros foram pagos com petróleo. Na foto: soldados norte-americanos controlam as ruas de Bagdá em 2009.
Autolatina
No final dos anos 1980, a economia brasileira estava assolada. Entre 1987 e 1993, a inflação anual pulou de 416% para 2.709%. Para reduzir custos e aproveitar os recursos disponíveis, a VW do Brasil juntou-se à Ford, formando a Autolatina. Com o aquecimento do mercado interno, em 1994, as duas marcas decidiram separar as operações. Na Foto: VW Santana (1984), que deu origem ao Ford Versailles.
Foto: Volkswagen do Brasil
Motores
Em 1996, a fábrica de motores da Volkswagen do Brasil inicia suas atividades em São Carlos (SP) e, em janeiro de 1999, a marca inaugurava sua quarta fábrica no Brasil, em São José dos Pinhais, no Paraná. Com um total de 24 mil empregados em suas quatro fábricas no país, a Volkswagen do Brasil é uma das maiores empregadoras da indústria automotiva brasileira.
Foto: Volkswagen do Brasil
Tecnologia Total Flex
Ao longo de sua história, a Volkswagen do Brasil foi responsável também por importantes inovações tecnológicas. Em 2003, ao completar 50 anos no país, a VW do Brasil foi a primeira a lançar a tecnologia Total Flex, que permite o uso de etanol, um combustível renovável, e/ou gasolina em qualquer proporção.
Foto: Volkswagen do Brasil
Sustentabilidade
Nos próximos anos, a VW deverá investir bilhões em novos produtos e nas fábricas brasileiras. Entre os investimentos, estão uma segunda Pequena Central Hidrelétrica (PCH), no estado de São Paulo. Inaugurada em 2010, a primeira PCH recebeu no início de 2012 o Certificado de Emissões Reduzidas (CER). Juntas, as duas usinas deverão suprir 40% da demanda energética da VW no Brasil.
Foto: Volkswagen do Brasil
Novo Fusca
Após a China, o Brasil é o maior mercado de carros da Volkswagen. Em apenas cinco anos, as vendas da empresa aumentaram 40% no país. Em 2012, a Volkswagen do Brasil alcançou o maior volume de vendas de sua história (768.395 unidades) e recorde no volume de produção anual, com 852.086 unidades. A VW iniciou o ano de 2013 com o lançamento de um velho conhecido: o Novo Fusca.