Empresas financiaram mensagens pró-Bolsonaro, diz jornal
18 de junho de 2019
Segundo a "Folha de S.Paulo", prática proibida pela Justiça Eleitoral contou com agência espanhola especializada em disparos em massa no aplicativo.
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Empresas brasileiras contrataram durante a campanha eleitoral de 2018 uma agência de marketing espanhola para efetuar disparos em massa de mensagens no WhatsApp para impulsionar a candidatura de Jair Bolsonaro. As informações foram reveladas pelo jornal Folha de S.Paulo nesta terça-feira (18/06).
O jornal informa que obteve áudios do empresário espanhol Luis Novoa, dono da agência Enviawhatsapps. Nas gravações, o espanhol afirma a interlocutores de uma conversa que "empresas, açougues, lavadoras de carros e fábricas" do Brasil compraram um software da Enviawhatsapps para disparar mensagens em massa durante a campanha.
No diálogo, realizado com empresários que queriam contratar a Enviawhatsapps, Novoa ainda afirma que inicialmente não sabia que havia sido contratado por brasileiros para impulsionar uma campanha política e que ele só soube que seu software estava sendo usado nesse sentido quando o Whatsapp cortou, sob a alegação de mau uso, as linhas telefônicas da empresa.
"Eles contratavam o software pelo nosso site, fazíamos a instalação e pronto [...] Como eram empresas, achamos normal, temos muitas empresas [que fazem marketing comercial por WhatsApp]", afirmou o espanhol no áudio.
"Mas aí começaram a cortar nossas linhas, fomos olhar e nos demos conta de que todas essas contratações, 80%, 90%, estavam fazendo campanha política", disse o empresário espanhol. Um interlocutor, na mesma gravação, perguntou então a ele: "Era campanha para algum partido?" Novoa então respondeu: "Eram campanhas para Bolsonaro".
A Folha de S.Paulo afirma ainda que, além de obter o áudio, também confirmou detalhes da conversa. A fonte que entregou o áudio não foi identificada. O WhatsApp também confirmou à Folha que cortou linhas da empresa espanhola. "Não comentamos especificamente sobre contas que foram banidas, mas enviamos uma notificação judicial (Cease and Desist) para a empresa Enviawhatsapps." As regras do aplicativo proíbem o uso da plataforma para envio de mensagens em massa.
Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), apenas as campanhas oficiais dos candidatos podem fazer contratação de impulsionamento de conteúdo em redes sociais e mesmo isso não inclui o uso de ferramentas de automatização, como os softwares de disparo em massa, que são vedados.
Segundo a reportagem da Folha, "não há indicações de que Bolsonaro ou sua equipe de campanha soubessem que estavam sendo contratados disparos de mensagens a favor do então candidato".
Nesta terça, o presidente comentou as revelações. "Teve milhões de mensagens a favor da minha campanha e talvez alguns milhões contra também."
O jornal também procurou o espanhol Novoa para que ele comentasse o conteúdo do áudio. Ao jornal, ele negou que tenha trabalhado para políticos brasileiros. "É mentira, não trabalhamos com empresas que tenham enviado campanhas políticas no Brasil", afirmou. "Tanto faz se gravaram sem permissão uma conversa informal. Repito pela enésima vez: não trabalhamos com campanhas políticas no Brasil", completou.
Apesar da negativa do empresário, o jornal ainda informou que apurou que brasileiros compraram cerca de 40 licenças de software na agência e que cada linha pode disparar até 500 mensagens por hora. Dessa forma, um pacote permitia até 20 mil disparos com mensagens políticas por hora nas últimas eleições. Ainda de acordo com a Folha, os pagamentos eram feitos pela plataforma PayPal.
Ainda segundo o jornal, no site da Enviawhatsapps, a licença para um mês de uso do software sai por 89 euros (R$ 386), a anual custa 350 euros (R$ 1.518), e o WhatsApp Business API, voltado especificamente a empresas, sai por 500 euros ao ano (R$ 2.169).
Em outubro de 2018, antes do segundo turno das eleições presidenciais, a Folha já havia publicado que empresários brasileiros impulsionaram disparos por WhatsApp contra o PT na campanha eleitoral. Neste caso, o serviço foi vendido pelas agências Quickmobile, CrocServices e Yacows. Uma ação foi aberta na Justiça Eleitoral para apurar o caso.
As eleições de 2018 foram marcadas pela disseminação de conteúdo falso nas redes sociais e em grupos de WhatsApp. Com a expansão do acesso à internet e o direcionamento de parte do debate político para esses meios, se multiplicaram os casos de boatos disseminados para impulsionar candidaturas e prejudicar outras. Houve casos de calúnias que envolveram acusações grosseiras, por exemplo, de pedofilia, incesto, tortura, corrupção, homicídio que atingiram candidatos.
Na internet, apoiadores de Bolsonaro de destacaram espalhando mentiras grosseiras contra adversários, especialmente o petista Fernando Haddad, que chegou a ser falsamente acusado de defender o incesto e de distribuir um "kit gay" quando era ministro da Educação.
A campanha de Haddad também foi multada pelo TSE em março de 2019 por impulsionamento irregular de conteúdo desfavorável a Bolsonaro. Neste caso, a campanha de Haddad foi acusada de impulsionar nas redes trechos negativos de uma reportagem do jornal americano The New York Times sobre o então candidato do PSL.
JPS/ots
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Treze candidatos se apresentaram para disputar o Planalto. O líder das pesquisas acabou fora da corrida, e vários nomes tentam contornar isolamento partidário. Veja os principais episódios da disputa.
Foto: Reuters/A. Machado
Bolsonaro é eleito presidente
Em segundo turno, os brasileiros elegeram Jair Bolsonaro (PSL) como presidente. Após uma campanha eleitoral polarizada, o militar reformado de extrema direita recebeu 55,13% dos votos, contra 44,87% de Fernando Haddad (PT). Com bandeiras do Brasil e vestidos nas cores verde e amarelo, eleitores comemoram pelo país. No discurso da vitória, Bolsonaro prometeu um governo constitucional e democrático.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S.Izquierdo
TSE abre investigação contra Bolsonaro
A pouco mais de uma semana do segundo turno, o Tribunal Superior Eleitoral abriu uma ação para investigar suspeitas de compra de disparos de mensagens antipetistas no WhatsApp por parte de empresários aliados a Bolsonaro. O pedido de investigação foi feito pelo PT, após uma reportagem do jornal "Folha de S. Paulo". A PF também abriu inquérito para investigar a disseminação em massa de "fake news".
Foto: Reuters/R. Moraes
Bolsonaro e Haddad vão ao segundo turno
Numa das eleições mais polarizadas da história, em 7 de outubro os brasileiros levaram ao segundo turno os dois candidatos que, segundo sondagens, são também os mais rejeitados: Bolsonaro (PSL) e Haddad (PT). Favorito no Sul e Sudeste, o ex-militar teve 46% dos votos válidos contra 29% do petista, que foi o mais votado em oito estados do Nordeste e no Pará. Em terceiro, Ciro Gomes (PDT) teve 12%.
Foto: Reuters/P. Whitaker/N. Doce
Bolsonaro cresce nas pesquisas
Já líder nas pesquisas, o candidato do PSL ampliou sua vantagem no início de outubro, ultrapassando pela primeira vez a marca de 30% em sondagens do Ibope e do Datafolha. Ao longo da semana que antecedeu as eleições, o ex-capitão foi subindo e, na véspera do pleito, cruzou a barreira de 40% dos votos válidos. Após ser esfaqueado, a campanha do candidato se concentrou nas redes sociais.
Foto: Reuters/P. Whitaker
A troca de Lula por Haddad
Após meses de suspense e com aval de Lula, Fernando Haddad foi oficializado candidato à Presidência pelo PT em 11 de setembro, a menos de um mês do primeiro turno, após se esgotarem as chances de o ex-presidente concorrer. Preso e virtualmente inelegível pela Ficha Limpa, Lula era líder nas pesquisas de intenção de voto. O desafio agora será transferir votos para o ex-prefeito.
Foto: Agencia Brasil/R. Rosa
Ataque a Bolsonaro
O candidato do PSL foi esfaqueado durante um ato de campanha em Juiz de Fora, um ataque que prometia mudar os rumos da corrida presidencial. Seus adversários condenaram a agressão, e alguns chegaram a mudar o tom da campanha. Não houve, contudo, um impacto decisivo sobre o eleitorado. Ele segue líder das intenções, mas com percentual praticamente igual. A rejeição a ele, por outro lado, aumentou.
Foto: picture-alliance/dpa/Agencia O Globo/A. Scorza
O "plano B" do PT
Com Lula virtualmente inelegível, a escolha do seu vice passou a ser encarada como um trampolim para um candidato substituto. No início de agosto, o PT acabou indicando Fernando Haddad, que desde o início do ano era cotado como "plano B". Manuela D'Ávila (PCdoB) ficou com a curiosa posição não oficial de "vice do vice", assumindo a posição com Lula candidato ou não.
Foto: Agência Brasil/F.Rodrigues Pozzebom
A novela dos vices
A fase de convenções começou no fim de julho sem que a maioria dos pré-candidatos tivesse um vice. Bolsonaro teve três convites recusados até fechar com o general Mourão (PRTB). Henrique Meirelles (MDB) e Ciro Gomes (PDT) se contentaram com nomes do próprio partido. Alckmin teve convite recusado pelo empresário Josué Alencar, cuja família é ligada a Lula, antes de optar por Ana Amélia (PR).
Foto: Agência Brasil/F.Frazão
Os candidatos isolados
A jogada de Alckmin com o "centrão" acabou isolando outros candidatos. Jair Bolsonaro (PSL) tentou negociar com o PR, mas teve que se contentar com o nanico PRTB. Ciro Gomes (PDT) também viu suas investidas no grupo naufragarem. Marina Silva (Rede) e Ciro também não conseguiram apoio do PSB, que ficou neutro numa manobra do PT. Os três terminaram a fase de convenções com pouco apoio e tempo de TV.
Alckmin fecha com o "centrão"
Em julho, o tucano Geraldo Alckmin ainda patinava nas pesquisas, mas criou um fato novo na campanha ao conseguir o apoio do "centrão", as siglas que costumam emprestar seu apoio a governos em troca de cargos e verbas. Ao se aliar com PR, PP, PSD, DEM e SD, Alckmin passou a dominar 44% da propaganda eleitoral na TV. Sua coligação também recebe 48% do novo fundo de campanhas.
Foto: Getty Images/AFP/E. Sa
Candidaturas descartadas
A eleição de 2018 parecia destinada a superar o número de candidatos de 1989, quando 22 disputaram. Em abril, 23 manifestavam interesse em concorrer, entre eles o presidente Michel Temer, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o ex-presidente Fernando Collor. Mas eles logo desistiram ou foram abandonados por seus partidos. Outros aceitaram ser vices. Em agosto, só 13 permaneciam na corrida.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Os "outsiders" saem de cena
A possibilidade de Lula ficar de fora e o sentimento antipolítico entre a população sinalizavam que esta seria a eleição dos "outsiders". O ex-ministro do Supremo Joaquim Barbosa e o apresentador Luciano Huck chegaram a ser incluídos em pesquisas. O empresário Flávio Rocha anunciou candidatura. Em julho, todos já haviam desistido, e a disputa ficou restrita a velhos nomes da política.
Foto: Imago/ZUMA Press/M. Chello
Lula é condenado e preso
Quando anunciou, em 2016, a intenção de disputar a eleição, Lula se tornou o líder nas pesquisas. Em janeiro, porém, sua situação se complicou após uma condenação em segunda instância que o deixou virtualmente inelegível. Em abril, foi preso. Com a possibilidade de a candidatura ser barrada, o PT passou a ter dificuldades em formar alianças, e o desfecho do pleito ficou ainda mais imprevisível.
Foto: Reuters/L. Benassatto
Entra em cena o fundo de campanhas
Diante da proibição das doações por empresas, o Congresso criou em outubro de 2017 um novo fundo de R$ 1,7 bilhão para financiar candidaturas, já definindo a capacidade financeira de várias campanhas. Quase 60% do valor ficou concentrado em seis legendas: MDB, PT, PSDB, PP, PSB e PR, deixando candidatos à Presidência de pequenas e médias siglas com menos recursos na largada.