Encontrado exemplar do "Primeiro Fólio" de Shakespeare
7 de abril de 2016
Coletânea é localizada numa coleção na Escócia e eleva para 234 o número de cópias conhecidas. Descoberta acontece poucos dias antes da comemoração do quarto centenário da morte do dramaturgo.
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Um exemplar do Primeiro Fólio, a primeira edição de uma coletânea das 36 peças de William Shakespeare (1564-1616), foi descoberto na Escócia, anunciou nesta quinta-feira (07/04) a Universidade de Oxford, a poucos dias do aniversário da morte do dramaturgo.
Emma Smith, professora de estudos shakespearianos em Oxford, confirmou a autenticidade do Primeiro Fólio, descoberto nas coleções da biblioteca de Mount Stuart, uma imponente mansão neogótica vitoriana na ilha escocesa de Bute. O exemplar ficará exposto para o público no local até outubro.
A descoberta eleva para 234 o número de exemplares conhecidos dessa compilação original, impressa em 1623 e que contém várias peças que nunca haviam sido publicadas e poderiam ter se perdido, como Macbeth, The Tempest e As you like it.
"Este fólio é incomum porque está em três volumes e apresenta muitas páginas em branco, previstas para ilustrações", explicou Smith, em comunicado divulgado pela universidade britânica. Geralmente, o Primeiro Fólio é um volume único, mas este foi dividido em três volumes, sendo um para comédias, outro para tragédias e um terceiro de dramas históricos.
A cópia de Mount Stuart pertenceu a Isaac Reed, um conhecido editor literário de Londres do século 18, segundo Smith. Uma carta de Reed revela que o editor comprou este exemplar em 1786 e outros registros mostram que ele mudou de mãos para as iniciais "JW" por 38 libras. Hoje ele está avaliada entre 2 milhões e 2,5 milhões de libras.
Depois da venda por 38 libras, não há mais registros do fólio, que não foi incluído no censo de 1906, relativo ao número de exemplares do Primeiro Fólio da obra shakespeariana.
A descoberta do exemplar de Mount Stuart acontece poucos dias antes da comemoração do quarto centenário da morte de Shakespeare, para a qual está prevista uma série de eventos no Reino Unido.
O Primeiro Fólio de Shakespeare foi compilado após a sua morte, em 23 de abril de 1616, por dois de seus colegas atores, John Heminge e Henry Condell, e publicado em 1623.
Cidade natal celebra William Shakespeare
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O livro contém o texto completo de 36 das peças do dramaturgo. Os principais editores foram Edward Blount (1565-1632), um livreiro e editor de Londres, e Isaac Jaggard (falecido em 1627), filho de William Jaggard (em torno de 1568-1623), um editor e impressor associado de longa data de Shakespeare, que faleceu no ano em que o fólio foi produzido.
O número de cópias impressas do Primeiro Fólio é desconhecido. A biblioteca Folger Shakespeare em Washington, Estados Unidos, tem no seu acervo 82 cópias da obra, o que é a maior coleção do mundo.
AS/lusa/afp/rtr/efe
Ricardo 3º: repouso eterno de um monarca
Durante 500 anos o paradeiro dos restos mortais do rei inglês imortalizado por Shakespeare foi um mistério. Em 2012, o achado sensacional sob um estacionamento em Leicester. Agora Ricardo 3º jaz na catedral da cidade.
Foto: Reuters/D. Staples
Leicester festeja
Uma cidade em júbilo por seu rei "reencontrado": Leicester homenageia Ricardo 3º com cinco dias de festividades. Milhares acorreram às ruas, para a procissão que levou até a catedral municipal o caixão com os restos mortais do soberano inglês morto em 1485.
Foto: Reuters/S. Plunkett
Sob um estacionamento
Durante mais de cinco séculos não se sabia o paradeiro do corpo de Ricardo 3º (1452-1485). Em 2012, pesquisadores encontraram um esqueleto sob o estacionamento do conselho municipal da cidadezinha inglesa de Leicester. O exame de DNA confirmou: os ossos pertenciam a ninguém menos que o lendário monarca imortalizado por Shakespeare.
Foto: Getty Images/AFP/A. Cowie
Enterro desonroso
Os restos mortais não se encontravam num sarcófago, nem mesmo envolvidos por uma mortalha. Isso significaria que o corpo de um rei consagrado teria sido simplesmente jogado numa vala. Impensável?
Foto: REUTERS/University of Leicester
Destino de perdedor
Nem tanto. Afinal, Ricardo foi o perdedor da Guerra das Rosas, pela sucessão ao trono da Inglaterra. Nela, as casas de Lancaster e York se lançaram em décadas de luta pelo poder. O rei só regeu por dois anos. Após sua morte, na Batalha de Bosworth, em 22 de agosto de 1485, seu cadáver foi desonrado, exposto nu em uma estalagem e enterrado sem cerimônias num mosteiro franciscano.
Foto: Hulton Archive/Getty Images
Depois da morte, a difamação
Durante séculos, Ricardo 3º foi visto como um monstro coroado. Também graças a William Shakespeare: 100 anos após a morte do rei, o dramaturgo inglês o descrevia como usurpador inescrupuloso e intrigante, que ao fim estava pronto para trocar seu reino por um cavalo. No drama histórico ele é apresentado, além disso, como feio e deformado: para a época, clara expressão de um caráter maligno.
Foto: picture-alliance/dpa/E. Filaktou
O vencedor define a história
Tal distorção histórica é facilmente compreensível. Desde a morte de Ricardo 3º a dinastia dos Tudors regia a Inglaterra. Para eles era interessante apresentar seu finado rival da forma mais negativa possível. Quando Shakespeare escreveu seu "Ricardo 3º", quem ocupava o trono era Elisabeth 1ª, neta de Henry Tudor, o vencedor da Guerra das Rosas que entrou para a história como Henrique 7º (foto).
Esclarecido, em vez de vilão
Neste meio tempo, já se reviu a concepção de Ricardo 3º como arquivilão da história britânica. Segundo diversos historiadores, ele era até bastante esclarecido e aberto, para sua época. Por exemplo, desenvolveu uma forma precursora de assistência legal. O rei também não era especialmente pequeno nem tinha corcunda, embora sofresse de escoliose.
Foto: picture-alliance/dpa/University of Leicester
Ascensão sem escrúpulos
Por outro lado, está confirmado que, para alcançar o poder, Ricardo 3º não media escrúpulos diante de seus adversários – mesmo dentro da própria família. Entre suas vítimas constam o próprio irmão e os sobrinhos. Estes eram ainda crianças ao serem confinados na Torre de Londres.
Foto: public domain
Honras tardias
Passados 530 anos desde a morte do soberano, soldados uniformizados levam o féretro de Ricardo 3º para o antigo campo de batalha de Bosworth. Lá ele é homenageado num breve culto religioso, antes de ser levado para a catedral de Leicester.
Foto: Reuters/E. Keogh
Rosas brancas para um York
Diante da catedral, uma estátua e uma placa comemorativa relembram o último rei inglês da Casa de York. Admiradores de Ricardo 3º depositaram flores brancas, símbolo daquela dinastia nobre.
Foto: Reuters/S. Plunkett
Despedida de um soberano
Depois de um réquiem para o "rei reencontrado", os restos mortais do controvertido nobre jazem agora na catedral, no centro de Leicester. Lá, ele finalmente encontra o repouso eterno em local consagrado, como convém a um monarca inglês.