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Encontro Europeu de Maracatus colore as ruas de Colônia

23 de julho de 2012

Durante três dias, 370 pessoas participaram de oficinas e desfile pelas ruas da cidade alemã. A participação especial de instrutores brasileiros enriqueceu o evento, que integrou o folclore e a religiosidade do maracatu.

Foto: DW/A. Netto

Uma colorida parada típica do carnaval de Recife invadiu Colônia neste final de semana (20 a 22/07). Organizado pelo grupo Maracatu Colônia, o 5º Encontro Europeu de Maracatus teve mais de 370 participantes, sendo apenas uma pequena parcela de brasileiros, disse a responsável pela organização do evento, Magda Garrido.

Antes do desfile, muito treino. Grupos de maracatu da Alemanha, França, Irlanda, Inglaterra, Itália, Espanha, Áustria e Suíça e participantes independentes ocuparam-se no sábado com aulas de dança e percussão, formando um grande grupo harmônico para o desfile no último dia do encontro. Alguns grupos também fizeram apresentações individuais em frente ao Museu do Chocolate de Colônia na noite do sábado, no qual puderam contar aos espectadores um pouco da história deste batuque.

Workshop de percussão no salão GürzenichFoto: DW/A. Netto

Na praça Harry Blum, à margem do rio Reno, o baque de maracatu tomou forma com instrumentos de percussão acompanhados de um coro guiado pelo Mestre. Por mais de três horas, foi representada a antiga cultura brasileira de coroação do rei e da rainha do Congo. O cortejo real, com rainha, baianas e outras figuras típicas dançavam, chamando a atenção das pessoas nas ruas, que puderam aproveitar o domingo (22/07) de forma bem brasileira: carnaval de rua com caipirinha.

Para a instrutora de dança Ubiracy Santana, algumas pessoas ainda acham que o Brasil é só samba e, por isso, ela acredita que esta é uma ótima oportunidade para mostrar a cultura e a diversidade dos ritmos brasileiros, como também o frevo e a ciranda, que poucos conhecem na Europa.

Cortejo de maracatu com figuras tradicionaisFoto: DW/A. Netto

Pernambuco é o berço deste ritmo africano com mais de 300 anos de história no Brasil. Mestre Walter de França, instrutor de percussão e canto convidado para o evento, acredita que o maracatu seja o pai e a mãe de todos os ritmos brasileiros. Ainda nas senzalas, "a magia do tambor" podia ser ouvida nas noites de descanso, quando os escravos batucavam e faziam preces, pedindo forças para o dia seguinte. Por isso, diz o Mestre, a "toada de maracatu não é alegre. Toada de maracatu é lamento".

Questões religiosas e culturais

A religiosidade das raízes africanas, representada pelo candomblé, é evidente nas letras das músicas e nos rituais de preparação de seus participantes e instrumentos, como os tambores. Tradicionalmente, este instrumento percussivo recebe trabalhos de espiritualidade de orixás, terminando com um isolamento sacro, para só depois de todo o processo seguir para a avenida.

Mestre Walter, que veio do samba, mas achou sua verdadeira vocação no grupo Nação Estrela Brilhante, bicampeão do carnaval de Recife, diz que no maracatu acontece o encontro da musicalidade com o candomblé. Porém, muitas pessoas sem o conhecimento religioso tocam o tambor sem respeitar essa importância espiritual. Para o pernambucano, "quando a gente é maracatu, a gente sente que alguém está próximo, um ancestral nosso ou um antepassado está ali. A gente não pode ver, mas eu sinto dentro de mim".

Mestre Walter esteve à frente dos grupos durante o encontroFoto: DW/A. Netto

O candomblé, embora inerente ao maracatu desde sua origem, não é proporcionalmente difundido na Europa ou nos grupos que aprendem esse ritmo. As tradições, como o cortejo, são seguidas pelos amantes da música, mas o lado religioso é apenas uma história interessante, como conta Svenja Parey, do Maracatu de Hamburgo.

Em 2007, Svenja entrou para o grupo da cidade portuária, o maior do país, com 80 integrantes entre percussão e dança. O grupo participa regularmente de eventos como os festivais em Coburg e em Bad Wildungen, assim como do Carnaval das Culturas em Berlim e o famoso carnaval de Colônia.

Cortejo de maracatu contagiou o públicoFoto: DW/A. Netto

Para a profissional de terapia ocupacional, o Maracatu de Hamburgo é como uma grande família, com a qual ela já viajou para o Brasil e conheceu mais das origens do ritmo afro-descendente. A rainha do grupo chegou a ministrar palestras sobre a religiosidade do maracatu, a fim de transmitir também a face religiosa da música brasileira.

Dois anos de espera

O primeiro encontro aconteceu em 2006, com apenas 100 pessoas. Idealizado por Sam Alexander, diretor do Maracatu Estrela do Norte, de Londres, e Mestre Letho Nascimento, do Maracatu Nação Oju Oba, de Paris, o evento cresce a cada ano e já teve seu palco montado duas vezes na Inglaterra e duas vezes na França.

Em 2014, a Irlanda sediará o 6º Encontro Europeu de Maracatus, com expectativas de mais grupos participantes e um enorme cortejo pelas ruas.

Autora: Giovana M. Ferreto
Revisão: Roselaine Wandscheer