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Estados falidos

15 de novembro de 2010

A crise financeira que abalou o sistema bancário de alguns países parece ter chegado ao fim. Agora, a ameaça ao crescimento da economia mundial é o alto endividamento de algumas nações, como a Irlanda e a Grécia.

Moeda grega de um euro: Grécia emperra a recuperação da economia europeiaFoto: picture-alliance/dpa

A crise financeira mundial agravou o problema do déficit público (na zona do euro ele triplicou desde o início da crise), mas o endividamento das nações não é um problema recente.

O economista Uwe Wagschal, da Universidade de Freiburg, faz uma longa viagem no tempo. "A história da humanidade é uma história do endividamento. Os antigos gregos já eram cheios de dívidas e viviam às custas de outros", diz. As consequências desse comportamento eram, muitas vezes, guerras civis ou a falência do Estado.

Em 2009, para evitar a falência da Grécia e defender sua moeda comum, a União Europeia (UE) criou um pacote conjuntural de 750 bilhões de euros. Ele serviu principalmente para que os países endividados ganhassem tempo para ajustar seus orçamentos.

Só que as medidas de contenção de despesas adotadas por esses países ainda não conseguiram produzir os resultados esperados, ou seja, reduzir significativamente a dívida pública. Além disso, os cortes nos gastos – e portanto também nos investimentos – dos Estados acabaram por afetar negativamente os crescimentos das economias locais.

Diante disso, os PIBs (Produto Interno Bruto) da Grécia e da Espanha continuarão caindo em 2010. Os da Irlanda e de Portugal, os outros países com problemas na UE, vão na melhor das hipóteses ficar estagnados.

E quando a economia não cresce, a arrecadação de impostos também não cresce, o que acaba diminuindo ainda mais os recursos do Estado e prejudicando a amortização da dívida pública. Um círculo vicioso.

Efeito persistente

O efeito negativo dos cortes nos investimentos do Estado deverá acompanhar esses países por muito tempo. De acordo com o professor Thomas Straubhaar, diretor do instituto econômico HWWI, de Hamburgo, a história ensina que, em geral, em países com orçamentos públicos altamente endividados, a economia avança mais devagar no futuro do que em Estados menos endividados.

Uma saída tentadora para resolver o problema do endividamento estatal é elevar os impostos. Só que essa medida acaba gerando uma retração do consumo, ou seja, ela também enfraquece a economia.

Na prática, os esforços de consolidação dos orçamentos nacionais acabam frequentemente desacelerando o crescimento econômico. Já as dívidas raramente diminuem: as antigas acabam sendo substituídas por novos empréstimos.

Esse dinheiro novo não estará para sempre à disposição dos governos a juros praticamente zerados, como acontece hoje. Como afirma Straubhaar, assim que a situação da economia mundial melhorar, os bancos centrais vão voltar a elevar suas taxas básicas de juros para frear o avanço da inflação.

Com taxas maiores, os gastos dos Estados com os juros das dívidas também crescerão. A Alemanha, que tem uma dívida pública equivalente a 77% do PIB, já gasta hoje um em cada quatro euros que arrecada com as obrigações dessa dívida.

Gerações futuras

Wagschal diz que o problema do endividamento estatal deve ser levado a sério hoje para que as gerações futuras não sejam prejudicadas. "O que está acontecendo é uma redistribuição unilateral de futuras cargas tributárias. Ou seja, a conta será paga com os impostos no futuro, enquanto as atuais gerações vivem acima de suas reais condições."

No caso da Europa, há um agravante: o envelhecimento da população. Isso significa que um número cada vez menor de pessoas jovens terá que arcar com um sistema previdenciário no qual haverá cada vez mais velhos.

Segundo um estudo da agência de rating Standard & Poors, o tempo disponível para que os governos possam controlar seu alto endividamento está se esgotando no caso de alguns desses países em que há cada vez mais velhos e menos jovens.

Autor: Danhong Zhang (as)
Revisão: Carlos Albuquerque

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