Fonte renovável poderia abastecer metade de toda a eletricidade consumida no país. Segundo especialistas, além da abundância de luz solar, Brasil detém a matéria-prima para produzir placas fotovoltaicas.
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O nível dos reservatórios nas usinas hidrelétricas nas regiões Sudeste e Centro-Oeste chegou ao limite. O risco de faltar energia aumentou, já que as usinas geradoras de eletricidade nessas duas regiões são responsáveis pelo abastecimento de cerca de 70% do país. As informações fazem parte do último relatório do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico que, ainda assim, tenta frisar que "não há insuficiência de suprimento energético neste ano".
Para evitar riscos de apagão, as melhores alternativas são diversificar a matriz energética e privilegiar a energia produzida no local de consumo. "Incluir outras fontes renováveis no mix energético é importante. E, no Brasil, temos um potencial solar muito grande", constata Mario Siqueira, professor da Universidade de Brasília.
Um estudo em andamento da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) tenta dimensionar esse potencial. A pesquisa identificou que painéis fotovoltaicos instalados nos telhados de casas poderiam gerar metade de toda a eletricidade consumida no Brasil. Seriam cerca de 287 mil gigawatt/hora ano, duas vezes mais que a energia consumida nas residências por todo o país.
"A geração nos telhados seria o que a gente chama de geração distribuída. E para estimular esse setor, estamos investindo primeiro na contratação de usinas centralizadas", explica Maurício Tolmasquim, diretor da EPE.
Só que quem compra o equipamento é o proprietário da casa, e para que ele se interesse por essa alternativa, os preços precisam cair um pouco mais. Atualmente, a instalação do kit completo para residências custa entre 7 mil e 15 mil reais, valor ainda elevado diante do rendimento médio do brasileiro – calculado em 2.100 reais, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Por outro lado, o investimento se paga em cerca de 10 anos, e os custos de manutenção ao longo desse tempo são baixos.
Para Mario Siqueira, o preço está deixando de ser uma barreira. "Ele já caiu bastante. A entrada da China fez com que o custo dos painéis fotovoltaicos baixasse, acho que chegou num ponto comercial. O valor deve cair mais e nivelar."
O pontapé inicial
Para popularizar essa fonte renovável e torná-la mais acessível, o governo tenta criar um mercado nacional. O primeiro passo foi dado em outubro, data do primeiro leilão promovido pelo Ministério de Minas e Energia para contratar energia exclusivamente gerada em usinas fotovoltaicas.
Venceram 31 empreendimentos que vão gerar, a partir de 2019, cerca de 1000 Megawatt (MW) – a usina nuclear Angra 2, por exemplo, tem capacidade de gerar 1.350 MW e atender ao consumo de uma cidade de 2 milhões de habitantes.
O preço do megawatt/hora contratado no leilão custou menos de 90 dólares. "Um dos menores preços do mundo de energia fotovoltaica", destaca Tolmasquim. De fato, na Alemanha, maior produtor desse tipo de energia, esse preço é de 112 dólares.
Potencial para liderar
Um fator que pode atrair a cadeia de produção de equipamentos para o país são as reservas nacionais de quartzo, matéria-prima do silício solar empregado nas placas fotovoltaicas. "O Brasil tem potencial para se consolidar como uma das principais lideranças no setor de energia solar, alternativa de baixo impacto ambiental que deverá gerar milhões de empregos nos próximos anos", avalia um estudo no Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE).
O Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) financiará a primeira fábrica de equipamentos do setor no país: a produtora Pure Energy, ligada a uma construtora de Alagoas, recebeu 26 milhões para a produzir painéis fotovoltaicos naquele estado.
"O leilão exclusivo de energia solar veio pra ficar e estamos trabalhando para incentivar a geração descentralizada (aquela que pode ser instalada em telhados, por exemplo)", adiciona Tolmasquim. A EPE tenta agora fazer uma proposta para que o Ministério fomente esse tipo de geração, embora o país viva um momento de corte de gastos.
A expectativa é que o próximo leilão destinado à contratação exclusiva de usinas solares ocorra ainda em 2015.
Expansão da oferta de energia
Para suprir a demanda por eletricidade, que cresce num ritmo de 4 a 5 % ao ano, o governo planeja adicionar ao sistema cerca de 70 mil MW até 2023. "Desse total, 51% já foram contratados", garante Tolmasquim. Atualmente, o país conta com 118 mil MW de capacidade instalada.
As usinas hidrelétricas ainda manterão a liderança e serão responsáveis por 30 mil MW dessa expansão. A energia eólica vem em segundo lugar, com 20 mil MW; as fontes fósseis, como carvão e gás natural, adicionarão 9 mil MW. Já a energia solar ficará com apenas 3,5 mil MW, a biomassa com 2,5 mil MW e a nuclear, com Angra 3, vai gerar outros 1,4 mil MW.
Apesar do atual panorama sombrio, o cronograma de expansão evitaria que o Brasil sofresse com a falta de energia. "É uma expansão importante, que vai livrar o pais dessas ameaças", defende a EPE. E em épocas de seca, ausência de vento ou de sol, as usinas térmicas continuarão sendo acionadas em caso de emergência.
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
Em 2015, os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio da ONU devem ser substituídos. Uma equipe elaborou um projeto com 17 metas para serem aplicadas em nível mundial.
Foto: MEHR
1º: Um mundo sem pobreza
Até 2030, ninguém deverá viver em pobreza extrema. Com esta meta, a comunidade internacional busca ir mais longe do que os antigos Objetivos do Milênio, que estipulavam a redução da pobreza extrema pela metade até 2015. Pessoas que vivem com menos de 1,25 dólar por dia vivem em pobreza extrema, segundo a definição da ONU.
Foto: Daniel Garcia/AFP/Getty Images
2º: Um mundo sem fome
Atualmente, mais de 800 milhões de pessoas não têm o suficiente para comer, de acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). A intenção é erradicar a desnutrição até 2030. A agricultura sustentável terá função importante para o cumprimento desta meta. Pequenos produtores e o desenvolvimento rural devem ser apoiados.
Foto: picture-alliance/dpa
3º: Saúde para todos
A cada cinco segundos, uma criança morre no mundo. O total anual é de 6,6 milhões de mortes de crianças menores de 5 anos. Cerca de 300 mil mães perdem a vida durante a gravidez ou o parto. A mortalidade infantil e a materna poderiam ser evitadas por meios simples. Até 2030, todas as pessoas devem ter acesso à assistência médica e a medicamentos e vacinas com preços acessíveis.
Foto: DW/P.Kouparanis
4º: Educação para todos
Menino ou menina, rico ou pobre. Até 2030, toda criança tem a necessidade de receber uma educação que permita a ela uma futura carreira profissional. Homens e mulheres devem ter oportunidades educacionais iguais, independentemente da origem étnica ou social, e independentemente de uma possível deficiência.
Foto: DW/S. Bogdanic
5º: Igualdade de direitos para as mulheres
Mulheres devem poder participar da vida pública e política em igualdade de condições. Violência e casamentos forçados devem fazer parte do passado. Em todo o mundo, mulheres devem ter acesso à contracepção e ao planejamento familiar. Este ponto gera críticas de setores religiosos.
Foto: Behrouz Mehri/AFP/Getty Images
6º: Água é um direito humano
A água é um direito humano. No entanto, 770 milhões de pessoas não bebem água potável, e 1 bilhão não têm acesso a saneamento básico, segundo a ONU. Até 2030, todas as pessoas devem ter acesso à água potável e ao saneamento básico. Os recursos hídricos devem ser utilizados de forma sustentável, e os ecossistemas, protegidos.
Foto: DW/B. Darame
7º: Energia para todos
Até 2030, todas as pessoas devem ter acesso à eletricidade, de preferência oriunda de fontes renováveis. A eficiência energética global precisa ser duplicada, e a infraestrutura – especialmente nos países mais pobres, deve ser expandida. Hoje, cerca de 1,3 bilhão de pessoas vivem sem eletricidade.
Foto: Fotolia/RRF
8º: Trabalho justo para todos
Oferecer condições de trabalho justas para todos, assim como oportunidades de emprego para jovens e uma economia sustentável. A meta número 8 dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável vale tanto para países industrializados como para os países em desenvolvimento e inclui ainda o fim do trabalho infantil e o cumprimento das normas da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Foto: GIZ
9º: Infraestrutura sustentável
Uma infraestrutura melhor deve promover o desenvolvimento econômico, com benefícios para todos. A industrialização deve ser sustentável, tanto em termos sociais como ambientais, e requer a criação de mais e de melhores postos de trabalho, além de incentivar inovações que possam contribuir para a sustentabilidade e a justiça social.
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10º: Distribuição justa da renda
De acordo com a ONU, mais da metade da riqueza gerada fica com apenas 1% da população mundial. A diferença entre ricos e pobres é cada vez maior. Por isso, a ajuda ao desenvolvimento deve se voltar principalmente para a metade mais pobre da população e os países mais pobres.
Foto: picture-alliance/dpa
11º: Cidades habitáveis
Nos grandes centros urbanos devem existir espaços de convivência que respeitem o meio ambiente, com moradias acessíveis a todos. As cidades devem ser mais sustentáveis e verdes. Principalmente os países em desenvolvimento devem receber assistência, a fim de tornar as cidades resistentes às mudanças climáticas.
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12º: Consumo e produção sustentáveis
Reciclagem, reutilização de recursos naturais e redução de resíduos – especialmente na produção de alimentos e no consumo. Os recursos naturais devem ser usados de forma sustentável e respeitando questões sociais. Subsídios aos combustíveis fósseis devem ser eliminados.
Foto: DW
13º: Controlar as mudanças climáticas
A necessidade de um acordo global para atenuar as mudanças climáticas e se adaptar aos efeitos delas é hoje consenso na ONU. Os países mais ricos precisam ajudar os mais pobres com transferência de tecnologia e também com recursos financeiros. Ao mesmo tempo, devem reduzir as suas próprias emissões de gases do efeito estufa.
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14º: Proteção dos oceanos
Os oceanos já estão próximos de entrar em colapso, e é necessária uma ação rápida. Medidas para evitar a sobrepesca e a destruição de regiões costeiras e ecossistemas marinhos precisam entrar em vigor até 2020. O combate à poluição do mar, causada por lixo e excesso de fertilizantes, deverá ser implementada apenas cinco anos mais tarde, a partir de 2025.
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15º: Acabar com a destruição ambiental
Os países-membros terão cinco anos para implementar medidas de proteção de bacias hidrográficas, florestas e a biodiversidade. Até 2020, a terra, as florestas e as fontes de água devem ser melhor protegidas, e o uso dos recursos naturais deve ser profundamente alterado.
Foto: picture alliance/dpa
16º: Respeito a direitos e leis
Todas as pessoas devem ser iguais perante a lei. Através de instituições nacionais e cooperação internacional, a violência, o terrorismo, a corrupção e o crime organizado devem ser combatidos de forma eficaz. Até 2030, todas as pessoas devem ter o direito a um documento de identidade e a uma certidão de nascimento.
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17º: Um futuro mais solidário
Como já consta nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, os países ricos devem finalmente destinar 0,7% do Produto Nacional Bruto à ajuda internacional para o desenvolvimento. Atualmente, a Alemanha colabora com 0,39%. Apenas cinco países atingiram a meta de 0,7%: Noruega, Dinamarca, Luxemburgo, Suécia e Reino Unido.