Frio do sol
12 de abril de 2011"Resfriado com luz solar" – esse selo ecológico poderá vir estampado nas futuras embalagens de alimentos. Pesquisadores querem tornar frutas e legumes mais duráveis através dos raios de sol, principalmente em países em desenvolvimento, onde os refrigeradores são artigo de luxo e a energia elétrica só existe em regiões de grande concentração populacional.
Redução do custo energético
Pesquisadores do Instituto Fraunhofer para Sistemas de Energia Solar (ISE) demonstraram que a refrigeração solar funciona: no projeto Medisco, da União Europeia, eles instalaram sistemas solares para resfriar vinho em uma vinícola na Tunísia e leite em uma fábrica de laticínios no Marrocos.
"A técnica é aplicável em regiões ricas em insolação, principalmente em áreas remotas, onde devido à escassez de água e falta de fontes de energia regulares não há possibilidade de refrigeração convencional", diz Tomas Núñez, pesquisador do ISE. "É um método benéfico para o ambiente. Além disso, o custo da energia para equipamentos de refrigeração convencionais é reduzido ao mínimo."
Os pesquisadores desenvolveram os painéis solares de forma que a luz do sol seja direcionada por meio de espelhos para um absorvedor. Os raios de sol concentrados aquecem a água dentro de um reservatório a 200ºC.
Essa temperatura extrema da água é necessária para acionar a chamada máquina de resfriamento por absorção com alta temperatura exterior. "Diferente do refrigerador comum, nós não utilizamos energia, mas calor para gerar frio", explica Núñez. O resultado em ambos os casos é o mesmo. "Frio em forma de água fria ou, no nosso caso, uma mistura de água e glicol."
Tecnologia ainda inadequada para o mercado
As máquinas de resfriamento solar podem refrigerar salas e até edifícios inteiros. Muitos projetos de pesquisa foram bem-sucedidos e demonstraram que sistemas de energia solar economizam 50% a 80% em comparação às tecnologias convencionais de refrigeração.
Apesar de todas as vantagens, os especialistas destacam que a tecnologia ainda não está pronta para o mercado. "Os custos de instalação ainda são altos demais", diz Ursula Eicker, da Universidade de Ciências Aplicadas de Stuttgart. Se uma família na Alemanha quiser refrigerar sua casa com refrigeração através do sol, terá que pagar cerca de 40 mil euros, quase o dobro de um sistema convencional.
Uma empresa de médio porte na África não tem esse dinheiro – e a tecnologia não parece economicamente vantajosa para as grandes indústrias.
A tecnologia funciona e existe demanda, o que em médio prazo representa boas chances para a refrigeração solar, diz Núñez. Particularmente na climatização de edifícios – e especialmente na ensolarada África.
"O importante é expandir lentamente, passo a passo. Uma parte da produção precisa ser feita no local, e são necessários engenheiros treinados para a instalação", destaca o especialista. O primeiro passo foi apresentar a tecnologia por meio de projetos subsidiados para aumentar a consciência sobre a tecnologia.
Sem programas financiados pelo Estado, como os que existem na Alemanha, na Áustria e na Espanha, os sistemas de refrigeração solar nunca seriam competitivos, diz a professora Eicker. "Estamos em um absoluto nicho." Em 2007 foram instalados de uma só vez 81 sistemas de refrigeração solar no mundo, quase todos na Europa, em edifícios comerciais. Para criar um mercado para a tecnologia, os governos precisam demonstrar interesse e disponibilidade financeira.
Extremamente nocivos
Sistemas convencionais de refrigeração precisam ser substituídos por outra razão: as substâncias refrigerantes e os compressores de espuma isolante contêm hidrocarbonetos halogenados, que são 12 mil vezes mais nocivos para o meio ambiente do que CO2, além de destruírem a camada de ozônio.
Os governos europeus estão ajudando os países em desenvolvimento a substituírem essas substâncias por sistemas de refrigeração não nocivos. A base de cooperação é o Protocolo de Montreal, assinado em 1987, em que 180 países se comprometeram a substituir substâncias que destroem a camada de ozônio.
O governo alemão estabeleceu o programa Proklima, em cooperação com 40 países, entre os quais pequenos países africanos como a Suazilândia, onde empresas locais produzem novos congeladores e refrigeradores ecológicos. Com a iniciativa, já foram poupados em todo o mundo cerca de 42 milhões de toneladas de CO2.
A substituição das antigas substâncias refrigeradoras deve estar completa em 2011, explica Eicker. "Graças a uma lei, o que traz esperança. E isso mostra que a cooperação internacional para a proteção do meio ambiente pode fazer diferença."
Autor: Torsten Schäfer (ff)
Revisão: Roselaine Wandscheer