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Energia verde é chance que o Brasil não pode deixar passar

Alexander Busch | Kolumnist
Alexander Busch
29 de setembro de 2021

Empresas e países de todo o mundo querem reduzir suas emissões de gases-estufa. Para o Brasil, uma oportunidade única, pois poucas nações dispõem de tantas fontes de energia sustentável. Basta o governo não atrapalhar.

Energia fotovoltaica tem grande potencial de expansão no paísFoto: Getty Images/C.De Souza

Há dois anos, o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, é uma espécie de líder mundial dos pecadores ambientais. Isso se deve aos ataques dele contra as autoridades e leis ambientais nacionais, sua tolerância diante do desmatamento da Amazônia e seu ostensivo desinteresse na política climática global.

Por culpa de Bolsonaro, no exterior se ignora que o Brasil é um dos países de produção energética mais sustentável, com a maior parcela (43%) de fontes renováveis em seu consumo final de energia entre os membros do G20. Sua capacidade cumulativa de energias renováveis é de 150 gigawatts, atrás apenas da China e dos Estados Unidos.

Isso ocorre porque quase dois terços da eletricidade são gerados em usinas hidrelétricas, com baixa emissão de gases-estufa. Ao mesmo tempo, cresceu significativamente a participação do vento na matriz energética nacional. Depois da China e dos EUA, nos últimos sete anos o Brasil foi quem mais investiu na energia eólica, que hoje gera 11% de sua eletricidade. Essa expansão deverá também se registrar com a energia solar.

O Ministério de Minas e Energia conta com que, até 2040, 44% da eletricidade nacional possa ser obtida do vento e do sol.

Variedade de fontes de energia renovável

Mas o país também já produz há décadas combustíveis como o biodiesel da soja e o etanol da cana-de-açúcar, cada vez mais também de segunda geração, em que é também transformado em combustível o restante da planta já utilizada, inclusive sua celulose, de difícil processamento.

O Brasil é o número três mundial da produção de bioeletricidade, sobretudo a partir do bagaço de cana, que é empregado nas usinas como combustível. Ganha igualmente importância na produção de energia o biogás, extraído de subprodutos da agricultura ou de depósitos de lixo urbanos. Com base nessa ampla oferta de eletricidade sustentável, em breve o país poderá oferecer fontes de energia verdes, como hidrogênio ou amoníaco, a preços bastante competitivos.

O hidrogênio "verde" é produzido através da fissão eletrolítica da água, usando eletricidade de fontes renováveis. A Europa e todas as nações que procuram reduzir suas emissões de gases do efeito estufa apostam no hidrogênio verde para alcançar suas metas ambientais, no entanto não podem produzi-lo em quantidades suficientes e terão que importar.

Brasil diante de chance histórica

No entanto o Brasil não deve ser primariamente fornecedor de combustível para as indústrias do mundo: melhor seria se as empresas integrassem o hidrogênio, amoníaco ou metanol verdes em sua própria cadeia de produção em solo brasileiro e elevassem assim a geração de valor nacional.

Um exemplo é o aço "verde", fabricado com hidrogênio de fontes renováveis – a indústria siderúrgica é um dos setores com a maior taxa de emissão de dióxido de carbono e outros gases-estufa. Ou o biometano poderia substituir o gás natural na indústria química, por exemplo, para a produção de fertilizantes.

Além disso, graças a seus biocombustíveis, o Brasil poderia executar com neutralidade carbônica toda a logística de suas indústrias de exportação. No caso do aço, o minério de ferro seria transportado em trens elétricos desde a mina, no interior do país, até a usina siderúrgica alimentada a hidrogênio, no litoral. Aí, navios cargueiros movidos a amoníaco verde levariam o produto final até os portos da Europa.

Assim, o país teria uma chance única de reaquecer sua indústria, que há anos vem minguando. As empresas reconheceram esse potencial, e estão investindo. Basta apenas esperar que o governo não se ponha no caminho dessa transformação da economia, pois isso significaria deixar passar uma chance histórica.

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Há mais de 25 anos, o jornalista Alexander Busch é correspondente na América do Sul do grupo editorial Handelsblatt (que publica o semanário Wirtschaftswoche e o diário Handelsblatt) e do jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em São Paulo e Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.Clique aqui para ler suas colunas.

O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.

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Tropiconomia

Há mais de 25 anos, Alexander Busch é correspondente de América do Sul para jornais de língua alemã. Ele estudou economia e política e escreve, de Salvador, sobre o papel no Brasil na economia mundial.

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