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Entenda o modelo comercial da Fifa

Henrik Böhme (av)27 de maio de 2015

Apesar de movimentar capital gigantesco, digno de uma multinacional, federação goza de privilégios fiscais segundo a legislação suíça. Em 1974, um alemão achou a fórmula para torná-la uma "máquina de fazer dinheiro".

Foto: Getty Images/AFP/M. Buholzer

Fundada em maio de 1904, a Fifa constitui uma associação nos termos do Código Civil da Suíça. Enquanto entidade de utilidade pública com fins não lucrativos, ela se compromete a reinvestir no futebol todos os seus lucros e reservas, por exemplo, em programas juvenis e de desenvolvimento. Receita e despesa têm que se igualar, não sendo pagos dividendos. Isso é o que consta escrito em seu relatório atual.

Modelo comercial

Por ser uma associação, portanto, a Fifa só paga 4% de imposto sobre seus lucros líquidos, a metade do que se cobra das firmas de capital. Isso quando, na realidade, ela é um conglomerado bilionário, que faz dinheiro sobretudo com a Copa do Mundo.

No entanto, enquanto entidade de interesse público, como consta em seu estatuto, a Fifa não pode se dedicar a atividades comerciais. Então de onde vêm as centenas de milhões que ela lucra a cada ano?

Seu modelo comercial é relativamente simples: o país anfitrião de cada Copa é quem arca com todos os custos. Quem se candidata a sediar o evento tem que assegurar total isenção de impostos à Fifa. Em volta dos locais dos jogos se forma uma espécie de oásis fiscal, em que todos os parceiros da entidade estão liberados dos impostos locais sobre renda ou valor agregado.

Especialistas calculam que, desse modo, o fisco da Alemanha, por exemplo, deixou de arrecadar cerca de 250 milhões de euros no Mundial de 2006. O mesmo se aplica à Copa de 2010, na África do Sul, ou à de 2014, no Brasil – ambos países que necessitariam urgentemente de maiores arrecadações.

Faturamento

A fatia mais gorda das rendas da Fifa são os astronômicos direitos de transmissão televisiva, cujo cumprimento é meticulosamente fiscalizado. Em 2014 ela faturou com eles 742 milhões de dólares, além de outros 465 milhões de euros em direitos de marketing.

O relatório comercial da Fifa para 2014 registra uma receita bruta de 1,9 bilhão de dólares. Sobraram 141 milhões de dólares de lucro, elevando as reservas líquidas da federação internacional para o atual 1,52 bilhão de dólares.

O "inventor"

A transformação da Fifa em "máquina de fazer dinheiro" ocorreu na Copa sediada pela Alemanha em 1974, ano em que o brasileiro João Havelange assumiu a presidência da organização.

Horst Dassler foi quem introduziu o novo modelo de marketing na Fifa. Filho do fundador da Adidas, Adolf Dassler, e presidente do conglomerado de artigos esportivos de 1985 a 1987, ele reconheceu o potencial comercial da federação internacional e conquistou os primeiros grandes financiadores.

Seu plano foi atrair o interesse de multinacionais dispostas a pagar milhões pelo privilégio de se apresentarem com exclusividade nos Mundiais. Como contrapartida, elas têm destaque da marca nas faixas de publicidade, contingentes grátis de ingressos, condições especiais para convidados da firma e o uso exclusivo do logo da Copa do Mundo.

Os atuais parceiros da Fifa são Adidas, Coca-Cola, Sony, Visa, Emirates e Hyundai/Kia.

Gastos

De acordo com o direito suíço de associações, a Fifa também distribui verbas elevadas. Em 2014 ela concedeu 509 milhões de dólares para numerosos projetos de desenvolvimento. As seleções participantes do Mundial no Brasil receberam 385 milhões de dólares, dos quais 35 milhões de dólares foram para os cofres da campeã Alemanha.

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