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Entenda o pacote de corte de gastos proposto pelo governo

5 de dezembro de 2024

Planalto afirma que plano tem potencial de economizar R$ 30 bilhões em 2025 e R$ 40 bilhões em 2026. Para amortecer impopularidade da medida, ministro Fernando Haddad anunciou junto ampliação de isenção do IR.

Fernando Haddad gesticula enquanto faz anúncio
Ministro Fernando Haddad anuncia pacote de medidas no fim de novembroFoto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

Economizar R$ 70 bilhões nos próximos dois anos – isso é que o governo federal espera de seu pacote fiscal anunciado no fim de novembro. Num horizonte mais amplo – até 2030 –, está previsto um corte de gastos da ordem de R$ 327 bilhões.

Após semanas de expectativa sobre o anúncio, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, acompanhado de outros membros da equipe econômica e da ala política, detalhou onde espera enxugar as contas.

A proposta lista várias medidas, entre elas a redução do abono salarial e um teto no reajuste do salário mínimo, o que tem efeito cascata em vários outros benefícios e reajustes. O pacote também determina um limite na concessão de benefícios fiscais enquanto as contas do governo estiverem no vermelho, acabar com brechas que burlam o teto dos supersalários no serviço público e mudar algumas regras da previdência dos militares.

Para amortecer o impacto político dos cortes de gastos obrigatórios, o governo enviou ao Congresso uma proposta para elevar a faixa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, o que deve causar R$ 35 bilhões em perda de arrecadação. Como compensação, anunciou uma alíquota mínima de 10% para quem recebe mais de R$ 50 mil por mês.

O governo espera que o Congresso aprove ainda neste ano o pacote fiscal, que prevê inclusive um teto no crescimento das emendas parlamentares – verba do Orçamento federal à disposição de deputados e senadores.

Diante da resistência no Congresso em aprovar o pacote, devido a recentes decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) que travaram o pagamento de emendas parlamentares, o ministro do STF Flávio Dino decidiu liberar esses recursos, mas com algumas ressalvas, como regras mais claras de transparência sobre a destinação do dinheiro. Para resolver esse cabo de guerra no Congresso, o governo sinalizou que vai liberar R$ 7,8 bilhões em emendas parlamentares individuais e de bancada nos próximos dias.

Se bem-sucedida a negociação, o governo espera sinalizar que vai cumprir seu arcabouço fiscal – regras que determinam os limites de gastos da União, adotadas pelo governo em 2023. Assim, espera-se garantir credibilidade e previsibilidade para a economia e para o financiamento dos serviços públicos como saúde, educação e segurança.

Diante do ceticismo de alguns analistas de mercado sobre a capacidade do plano de equilibrar as contas públicas, o dólar teve uma alta significativa em relação ao real e atingiu pela primeira vez a marca dos R$ 6, após o anúncio.

Entenda a seguir o que está previsto no pacote fiscal do governo.

Salário mínimo

Desde 2023, o salário mínimo é corrigido pela inflação do ano anterior, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), mais o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas produzidas no país) de dois anos anteriores.

O governo anunciou que o salário mínimo vai continuar tendo ganho acima da inflação, mas o crescimento real será limitado a 2,5% por ano. 

Abono salarial

Benefício que equivale a um 14º salário para quem ganha até dois salários mínimos (atualmente em R$ 2.824) com carteira assinada, o abono salarial terá novas regras, se o pacote for aprovado.

A proposta é reduzir a porta de entrada do benefício ao definir que o critério para receber o abono é ganhar até R$ 2.640. A medida instituiu ainda uma cláusula para que o valor seja corrigido anualmente apenas pela inflação, em vez de seguir a política de valorização do salário mínimo.

Com o abono salarial subindo menos que o salário mínimo, o governo prevê que o benefício equivalerá a um salário e meio a partir de 2035.

Previdência dos militares

O pacote prevê uma revisão das regras para aposentadoria dos militares com potencial de economizar R$ 2 bilhões. Entre elas, estão a extinção de alguns benefícios, como o da morte ficta, quando a família de um militar expulso das Forças Armadas recebe pensão como se ele tivesse morrido.

A proposta fixa em 3,5% da remuneração a contribuição do militar para o Fundo de Saúde até janeiro de 2026. Atualmente, os militares da Aeronáutica e da Marinha pagam menos.

O texto estabelece ainda, progressivamente, uma idade mínima para reserva remunerada, até chegar a 55 anos.

Supersalários

O projeto espera ainda impor um controle maior dos chamados "supersalários" – pagamentos que ultrapassam o teto constitucional do funcionalismo público, hoje de R$ 44 mil mensais, equivalente à remuneração de um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).

O objetivo é diminuir a lista de exceções ao teto. Medida deve valer para todos os poderes e todas as esferas: federal, estadual e municipal.

Novo pente-fino

A proposta prevê um novo pente-fino no Bolsa Família e no Benefício de Prestação Continuada (BPC), salário mínimo pago a pessoas com deficiência e idosos de baixa renda. A medida também prevê endurecimento para acesso aos benefícios.

BPC

Uma das medidas previstas é o endurecimento das regras para as pessoas que recebem o Benefício de Prestação Continuada. A ideia é cobrar a atualização de cadastros que estejam desatualizados há mais de 24 meses e para benefícios concedidos administrativamente, sem Código Internacional de Doenças (CID).

De acordo com Haddad, um terço das pessoas beneficiadas pelo BPC não têm suas deficiências cadastradas.

A medida define, entre outras coisas, prova de vida anual, como acontece atualmente para os aposentados, além de biometria e reconhecimento facial para a concessão do benefício, e biometria obrigatória para atualizações cadastrais

Pente-fino do governo vai focar em beneficiários do Bolsa Família que declaram que moram sozinhosFoto: Adeleke Anthony Fote/TheNews2/IMAGO

Bolsa Família

O governo pretende combater irregularidades nos pagamentos para beneficiários que declaram que moram sozinhos, os chamados unipessoais.

Está prevista a obrigatoriedade de inscrição ou atualização de unipessoais em domicílio, a atualização obrigatória para cadastros desatualizados há 24 meses, biometria obrigatória, entre outras exigências.

Emendas parlamentares

Limitar o crescimento das emendas impositivas, além de outras restrições. Só em 2025, são previstos R$ 11,5 bilhões em emendas.

O texto fixa também algumas destinações obrigatórias a esses recursos, como 50% dos valores de emendas de comissão para o Sistema Único de Saúde (SUS).

Isenções fiscais

O pacote define que se houver déficit primário (quando as receitas não são suficientes para cobrir as despesas do governo) de 2025 em diante, no ano seguinte fica vedada a criação, majoração ou prorrogação de benefícios tributários.

Em 2023, incentivos fiscais somaram R$ 519 bilhões. Mecanismo de vedação havia sido sugerido pelo ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Vital do Rêgo, no relatório sobre as contas do governo em 2023.

Subsídios e subvenções

A proposta do governo autoriza ajuste orçamentário em cerca de R$ 18 bilhões em subsídios e subvenções. O governo só poderá gastar em subsídios o que estiver autorizado no orçamento.

Imposto de Renda

Junto do corte de gastos, Haddad anunciou a elevação da faixa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês. A medida cumpre promessa de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2022. Atualmente, não paga IR quem ganha até R$ 2.259,20 mensais.

Para evitar impactos brutos para quem ganha a partir de R$ 5.001 por mês, haverá uma progressão. Quem ganha até R$ 7,5 mil mensais vai ter de pagar IR, mas será beneficiado com a isenção dos R$ 5 mil iniciais. Quem recebe a partir de R$ 7,5 mil terá a isenção limitada a até dois salários mínimos, como ocorre atualmente.

Essa medida tem impacto de R$ 35 bilhões por ano na arrecadação federal. Com a tramitação da segunda fase da reforma tributária ao longo do próximo ano, a tendência é que a mudança só entre em vigor em 2026.

Para financiar o aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda, o governo pretende introduzir uma alíquota efetiva mínima de 10% para quem ganha mais de R$ 50 mil por mês. A medida pretende fazer que pague mais tributos quem se aproveita da "pejotização", conversão de rendimentos de pessoas físicas em rendimentos de empresas.

Nada muda para quem trabalha com carteira assinada e recebe mais de R$ 50 mil porque essas pessoas já pagam alíquota de 27,5%. Atualmente, segundo o governo, o 1% mais rico da população paga alíquota efetiva de 4,2% de Imposto de Renda. Para o 0,01% mais rico, a alíquota efetiva é 1,75%.

sf/bl (Agência Brasil, ots)

 

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