1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Entidades condenam discurso de Bolsonaro na ONU

22 de setembro de 2020

Para organizações ambientalistas como Greenpeace e Observatório do Clima, presidente "envergonhou" o Brasil mais uma vez com sua fala "delirante" e "irresponsável". Discurso não foi digno de um chefe de Estado, diz WWF.

Jair Bolsonaro aparece em telão na ONUJair Bolsonaro aparece em telão na ONUJair Bolsonaro aparece em telão na ONU
Nas Nações Unidas, Bolsonaro acusou índios de queimarem Amazônia e disse que a floresta não pega fogo porque é úmidaFoto: UNTV/AP/picture-alliance

Organizações não governamentais que lutam pela defesa do meio ambiente condenaram nesta terça-feira (22/09) o discurso do presidente Jair Bolsonaro na Assembleia Geral das Nações Unidas, em que o líder brasileiro voltou a minimizar a crise ambiental que assola o país.

As entidades afirmaram que Bolsonaro "envergonhou" mais uma vez o Brasil perante a ONU, e tacharam o discurso – gravado previamente devido à pandemia de coronavírus – de "delirante", "constrangedor", "negacionista", "irresponsável" e "infundado".

"Em pouco mais de 14 minutos de uma fala calculadamente delirante, o presidente mais uma vez expôs o país de forma constrangedora e confirmou as preocupações dos investidores internacionais que pensam em sair do Brasil", escreveu em nota o Observatório do Clima. 

"Ao negar simultaneamente a crise ambiental e a pandemia, o presidente dá a trilha sonora para o desinvestimento e o cancelamento de acordos comerciais no momento crítico de recuperação econômica pós-covid", completa o texto, que ainda acusa Bolsonaro de usar a tribuna das Nações Unidas para fazer campanha à reeleição, em vez de promover o país.

Para a rede composta por 50 organizações não governamentais e movimentos sociais, o discurso "não foi voltado à comunidade internacional, mas sim à claque bolsonarista em casa".

"Não teve o objetivo real de prestar esclarecimentos sobre a situação do Brasil a parceiros comerciais e consumidores preocupados, muito menos de propor uma visão de país, como era a tradição, mas de combater a realidade e inventar inimigos imaginários."

Citado na nota, o secretário-executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini, afirmou que Bolsonaro ameaça a economia brasileira ao "negar a realidade e não apresentar nenhum plano para os problemas que enfrentamos". "O Brasil pagará durante muito tempo a conta dessa irresponsabilidade. Temos um presidente que sabota o próprio país."

Já o Greenpeace chamou atenção para as queimadas que devastam a Amazônia e o Pantanal e batem índices recordes sob o governo Bolsonaro. "O discurso [...] aconteceu enquanto o país arde em chamas e testemunha a destruição de seus biomas e suas riquezas naturais", alerta.

"A política antiambiental do atual governo está derretendo a imagem do Brasil lá fora e prejudicando a economia nacional", insiste a ONG. "O país que antes já foi visto como liderança na questão ambiental foi o que mais destruiu suas florestas no mundo todo, em 2019, segundo dados da Global Forest Watch. Em 2020 os dados mostram que a situação só se agravou."

Mariana Mota, coordenadora de políticas públicas do Greenpeace Brasil, afirmou que o drama ambiental vivido pelo Brasil é resultado da política do governo Bolsonaro, e negar ou minimizar essa realidade só "agrava a difícil situação que o país enfrenta".

"Lamentavelmente, já estamos habituados a ouvir o presidente faltar com a verdade, desqualificar a ciência e buscar culpabilizar terceiros em vez de assumir a responsabilidade constitucional que possui. Entretanto, quando o faz na Assembleia Geral da ONU, diante de centenas de líderes de países, de investidores e do mundo todo, o presidente piora ainda mais a imagem do Brasil e agrava as sérias crises que enfrentamos", disse Mota.

"Em vez de negar a realidade, em meio à destruição recorde dos biomas brasileiros, o governo deveria cumprir seus deveres constitucionais em prol da proteção ambiental e apresentar um plano eficiente para enfrentar os incêndios que consomem o Brasil", completou.

Por sua vez, a entidade WWF-Brasil considerou que Bolsonaro proferiu "uma fala cheia de acusações infundadas e ilações sem base científica que não condiz com o papel de um chefe de Estado".

"Declarar que as queimadas são provocadas pelos 'índios e caboclos' [povos tradicionais descendentes de indígenas e brancos] é a maior delas", disse Gabriela Yamaguchi, diretora de sociedade engajada da organização.

"Como um roteiro de ficção, o discurso uniu palavras-chave das Nações Unidas com descrições de um Brasil que não existiu em 2020, em completo negacionismo da realidade do país e desconsiderando a urgência e seriedade dos desafios globais que o secretário-geral da ONU, António Guterres, tão bem descreveu", acrescentou Yamaguchi.

A fala de Bolsonaro

Em seu discurso de abertura da 75ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas nesta terça-feira, o presidente afirmou que o Brasil é vítima de uma campanha de desinformação sobre a Amazônia e o Pantanal, e defendeu sua gestão da pandemia de covid-19.

Em relação ao meio ambiente, ele aproveitou a fala para se defender das críticas à sua política ambiental, proferidas por outros países e uma série de organizações em meio à alta do desmatamento e das queimadas na Amazônia e no Pantanal.

Bolsonaro afirmou que o agronegócio brasileiro segue "pujante" e que o Brasil tem e respeita "a melhor legislação ambiental do planeta".

"Mesmo assim, somos vítimas de uma das mais brutais campanhas de desinformação sobre a Amazônia e o Pantanal. A Amazônia brasileira é sabidamente riquíssima. Isso explica o apoio de instituições internacionais a essa campanha escorada em interesses escusos, que se unem a associações brasileiras, aproveitadoras e impatrióticas, com o objetivo de prejudicar o governo e o próprio Brasil", disse, sem dar o nome de qualquer instituição.

O presidente ainda culpou os indígenas e caboclos por incêndios na Amazônia e, sem citar estudos científicos ou especialistas, questionou a ocorrência de queimadas de grande porte.

"Nossa floresta é úmida e não permite a propagação do fogo em seu interior. Os incêndios ocorrem sempre nos mesmos lugares, no entorno leste da floresta, onde o caboclo e o índio queimam o roçado para sua sobrevivência, em áreas já desmatadas."

Bolsonaro também afirmou que o Brasil é líder na conservação de florestas tropicais e tem "a matriz energética mais limpa e diversificada do mundo".

Em razão da pandemia de covid-19, a assembleia da ONU deste ano ocorre de maneira virtual. O Brasil, como é tradição, abriu as intervenções de líderes mundiais.

EK/efe/lusa/ots

Pular a seção Mais sobre este assunto
Pular a seção Manchete

Manchete

Pular a seção Outros temas em destaque