Entre o medo e a apatia, gregos se preparam para o pior
18 de maio de 2015Pantelis Chatzisinakis não costuma entrar em pânico. O contador de 38 anos passou os últimos 14 anos tentando equilibrar as finanças de seus clientes, que vão de trabalhadores autônomos a médios empresários. Parte do tempo é destinada a acalmar as pessoas, numa tentativa de convencê-las de que tudo vai dar certo, apesar da matemática complicada.
Ele nota que seus clientes, assim como o governo, estão se confrontando com questões difíceis. "Meus clientes estão se perguntando se devem pagar as compras de supermercado, os empréstimos ou as contas de água e luz", afirma Chatzisinakis. "As pessoas estão tão cansadas de todos esses anos de deterioração econômica que, quando ouvem que o país vai quebrar, nem sabem mais o que isso significa."
De fato, após cinco anos de crise, os gregos vêm ouvindo quase diariamente previsões apocalípticas sobre calotes e um retorno do dracma, a antiga moeda nacional. "São tantas especulações que a maior parte da população nem liga mais", diz Nick Malkoutzis, editor do portal especializado em economia Macropolis.
Corrida silenciosa aos bancos
Segundo pesquisas de opinião, a grande maioria dos gregos é contra a saída da Grécia do euro, embora reconheçam que isso é uma possibilidade. Porém, não há protestos, nem sinais de insatisfação generalizada com o governo do primeiro-ministro Alexis Tsipras, que assumiu há cerca de quatro meses. Mas, ainda que não se veja um pânico generalizado, muitos fazem planos de contingência para o caso de o cenário piorar.
"Desde o início de dezembro, quando a incerteza começou a atingir seu ápice, houve um aumento imenso de saques bancários, totalizando cerca de 25 bilhões de euros (ou 15%). As pessoas estão preocupadas com um controle de capital ou com a saída do euro", comenta Malkoutzis.
Para alguns gregos, como Christos Tsakirios, comerciante de peixe da ilha de Leros, no mar Egeu, essa série de alertas soa como chantagem.
"Há anos ouvimos que estamos à beira de um precipício, que vamos quebrar, que não haverá dinheiro nos caixas eletrônicos, que haverá tanques protegendo os bancos: tudo para que as pessoas não corram e peguem seu dinheiro", afirma. "E, no final, nossos políticos simplesmente concordam com novas medidas de austeridade, e nós voltamos a ser o bom aluno."
Tsakirios passou por dificuldades nos últimos cinco anos, mas diz ter sorte de ainda estar trabalhando, apesar de, hoje em dia, até o comércio de peixe estar mais difícil. Ele afirma que apoia a política antiausteridade do governo, mas não quer a saída da Grécia do euro. "Muitos gregos que conheço não creem que isso de fato acontecerá", frisa.
A difícil tarefa de poupar
Economistas preveem que 2015 pode ser um ano tão ou mais complicado quanto 2010 e 2012, quando o medo de que a Grécia pudesse sair da zona do euro gerou protestos e manchetes alarmistas na Europa.
"É um governo inexperiente, que está em confronto com os credores sobre uma série de questões, e isso está causando consternação considerável", opina Malkoutzis. "E a Grécia está simplesmente ficando sem dinheiro. Se não houver acordo nas próximas semanas, o default [calote] vai se tornar uma realidade", completa o analista econômico.
O contador Pantelis Chatzisinakis não crê que a zona do euro permitirá que a Grécia fique inadimplente e deixe a união monetária. "Sou um otimista. Sei que é difícil, que nosso governo está numa terrível posição como negociador, mas não creio que os nossos parceiros do euro vão deixar a situação chegar ao ponto de destruir nosso país inteiro", afirma.
Ele diz que a maioria de seus clientes pensa da mesma forma, apesar de um deles manter todo o dinheiro na Suíça e transferir para contas gregas apenas o suficiente para sobreviver. "Ele tem medo de que o país quebre e saia da zona do euro desde que a crise começou", conta. "Mas os outros clientes mal têm dinheiro suficiente para economizar, muito menos para enviar ao exterior."
Sem ajuda ou acesso aos mercados de títulos, a Grécia está perto de ficar sem dinheiro – o país teve de esvaziar uma conta de depósito junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI) para pagar uma dívida à própria instituição, na semana passada.
Nesta segunda-feira, investidores se livravam de ações e bônus gregos por preocupações de que Atenas possa não fazer o próximo pagamento, que vence em 5 de junho. Diante do temor de funcionários públicos, o governo garantiu que pagará salários e pensões em maio e que não usará o dinheiro para saldar parte da dívida.
"Tenho medo de que o governo não saiba o que está fazendo", diz Chatzisinakis. "Não quero nem pensar no que pode acontecer", conclui o contador, demonstrando a preocupação que se esforça para não deixar transparecer a seus clientes.