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'Episódios do Sul' questiona visão eurocêntrica

Marina Estarque11 de fevereiro de 2015

Projeto do Instituto Goethe em São Paulo contesta visão centrada em valores europeus e promove novas perspectivas para arte e ciência. São esperados intercâmbios e produções artísticas e acadêmicas ao longo de três anos.

Foto: Fotolia/Luftbildfotograf

O projeto Episódios do Sul, que será lançado nesta quinta-feira (12/02) pelo Instituto Goethe em São Paulo, questiona uma visão de mundo tradicional – centrada nos valores europeus – e promove novas perspectivas para a arte, a ciência e a cultura, pensadas a partir do Sul.

Para a idealizadora do projeto, Katharina von Ruckteschell, diretora executiva do Instituto Goethe São Paulo e para a América Latina, não existe mais uma ordem global bipolar ou multipolar. "Há uma ordem não polar. Ou talvez não haja nem mesmo uma ordem. E nós queremos saber como a cultura europeia ou alemã pode participar desse cenário", explica.

Um dos objetivos, segundo a diretora, é explorar essas novas perspectivas vindas do Sul, para romper com paradigmas ultrapassados. O projeto vai realizar debates, pesquisas, programas de intercâmbio e produções artísticas e acadêmicas, no prazo de três anos.

"Queremos sair desse modelo tradicional de pensamento com o qual estamos acostumados, mas que não nos permite ver outras soluções para os problemas globais. Temos que questionar coisas que funcionaram até hoje, mas podem não funcionar mais no futuro", alerta.

O conceito de Sul, explica von Ruckteschell, não se restringe a um espaço territorial. "É o Sul na cabeça das pessoas. O que elas associam a essa palavra".

Ao final, a diretora planeja apresentar uma conferência temática e uma compilação dos episódios na Documenta de 2017, em Kassel, Alemanha. A Documenta é considerada a maior exposição de arte contemporânea do mundo.

Von Ruckteschell acredita que o projeto Episódios do Sul vai incentivar a troca e a criação de redes multidisciplinares entre cientistas, artistas, políticos e intelectuais de todo o mundo.

Intercontinental

Von Ruckteschell idealizou o projeto multicontinentalFoto: privat

Os episódios serão realizados em diversos continentes. "Vamos unir pessoas da África, da América do Sul e da Ásia. Já sabemos que um dos episódios será na África e outro em Nova York – para debater a fuga de cérebros. E há iniciativas de fazer um na Ásia também", afirma.

A diretora diz que a programação para os três anos ainda não está definida. "A ideia é que os episódios se desenvolvam e se expandam ao longo dos anos."

Apesar de um projeto multicontinental, Von Ruckteschell explica que Brasil e Alemanha terão uma atuação de destaque. "Eu gostaria de ver como a cena intelectual brasileira e alemã podem ajudar a construir essas redes globais, relevantes para o desenvolvimento internacional. Não é uma relação bilateral entre Brasil e Alemanha, mas os dois países terão um papel central no projeto."

Concepção

A ideia do projeto surgiu em uma conversa da diretora com o antropólogo indiano Arjun Appadurai. Ele dizia não acreditar em uma "teoria do Sul", mas em um "ao sul da teoria".

"Isso me fez pensar como o próprio fenômeno da teoria pode ser algo que não faz sentido no Sul, que foi importado com a colonização. Há outras formas de desenvolver e promover o conhecimento", defende Von Ruckteschell.

O texto de apresentação de Episódios do Sul diz que o projeto visa criar oportunidades para o desenvolvimento de visões de mundo "desorientadoras, descentralizadas e desordenadas", que ultrapassem as fronteiras geográficas e ideológicas europeias.

"Nas convenções cartográficas, com a Europa sempre representada no topo, foi determinado um olhar para o sul visto de cima para baixo. Esta hierarquia está presente não apenas na geopolítica, mas também no plano das ideias, notadamente na arte, na música, na dança, no teatro e na literatura", destaca a diretora.

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