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CriminalidadeEquador

"Equador é centro da violência no mundo andino"

11 de agosto de 2023

Representantes em Quito das fundações políticas alemãs ligadas aos sociais-democratas e aos conservadores avaliam que assassinato do candidato Fernando Villavicencio eleva a violência no país a um patamar inédito.

Fachada de escola com cartazes políticos. Em frente, área isolada por faixas da polícia.
Atentado contra Villavicencio ocorreu em frente a uma escola onde ele havia participado de evento de campanhaFoto: Juan Diego Montenegro/AP/picture alliance

O assassinato em agosto de 2023 de Fernando Villavicencio, antigo opositor do ex-presidente Rafael Correa e candidato que vinha fazendo campanha contra a corrupção e a violência que assola o Equador, provocou choque e luto no país andino. A corrida pelas eleições de 20 de agosto, que já estava polarizada por partidários e opositores de Correa e marcada por propostas para combater a violência desenfreada, foi manchada de sangue.

As pesquisas vinham colocando Villavicencio em segundo lugar, atrás de Luisa Gómez, a candidata alinhada a Correa. Com o atentado, a crise de segurança no país assume uma magnitude inédita.

"Está ficando cada vez mais claro que o Equador é o centro da violência no mundo andino, ultrapassando a taxa de homicídios do México", disse à DW Costantin Groll, diretor do escritório da Fundação Friedrich Ebert (ligada ao Partido Social-Democrata alemão) no Equador. "Há muitos indícios de que estamos revivendo a história mexicana dos anos 2000, com a grande ascensão dos cartéis mexicanos, e esperamos que possamos aprender lições daquele caso."

"Novo patamar na escalada da violência"

Meses antes das eleições, a crise já vinha se tornando tão grave que já era um mau presságio para a campanha eleitoral: assassinatos de políticos, massacres em prisões, violência do crime organizado, narcotráfico.

"Estamos mergulhados em uma crise de segurança, econômica e social muito profunda. Há sequestros, extorsão de comerciantes e também de empresas, universidades públicas, centros médicos...", diz Groll, que acrescenta que "um dos grandes problemas do país é a ligação de algumas instâncias do Estado com o crime organizado".

A grave situação, que costumava se concentrar principalmente no litoral, onde os traficantes de drogas conseguiam enviar suas mercadorias pelos portos, agora chegou a Quito, o coração do país.

"Estamos todos em choque com o assassinato de Villavicencio", disse à DW Johannes Hügel, representante da Fundação Konrad Adenauer (ligada ao partido alemão União Democrata Cristã) no Equador. "A tragédia aconteceu a poucos metros do nosso escritório em Quito e todos nós estamos muito tristes com o que está acontecendo no país", afirmou. "O que aconteceu é um novo patamar na escalada da violência".

Campanha marcada por atentado

Apesar do assassinato de Villavicencio, a data da eleição foi mantida, mas o país foi colocado sob estado de exceção pelos 60 dias seguintes, decretado pelo presidente do Equador, Guillermo Lasso. A medida permitiu que os militares patrulhassem as ruas para garantir o processo eleitoral.

Se a luta contra a violência já era uma questão predominante antes do assassinato de Villacencio, era fácil imaginar que, a partir de então, ela se tornaria uma questão fundamental. Mas como o assassinato de Villavicencio mudaou o cenário?

"A atmosfera é tensa e violenta, há um desespero crescente entre o povo equatoriano", diz Hügel. "Algumas pessoas temem um retorno ao tipo de 'correísmo' que não respeitava os valores democráticos. Agora o eleitorado poderia optar por um candidato como Jan Topic, que se mostrou uma espécie de Rambo – ele mesmo publicou fotos com um rifle – e que quer combater o tráfico de drogas. O assassinato de Villavicencio pode dar um impulso à sua campanha Groll, por sua vez, espera que o atentado não seja usado para fins políticos: "O assassinato deveria ser um ponto de virada para mudar o debate público, em vez de sempre buscar objetivos pessoais ou partidários. Não sei se isso será possível, porque a polarização é muito forte", diz.

"O que o Equador precisa agora é de uma institucionalidade forte", continua Hügel. "Os candidatos devem apresentar propostas concretas e realistas, e não fazer promessas irreais, como aconteceu no passado, promessas que nenhum governo conseguiu cumprir. É importante voltar a um realismo claro do que precisa ser feito em longo prazo para trazer uma nova estabilidade, também na esfera social, para trazer justiça social real, uma troca entre diferentes grupos políticos para trabalhar pelo país e não em favor de grupos de interesse".

Em nível internacional, o assassinato de Villavicencio foi recebido com espanto. Hügel enfatiza que é importante não deixar o Equador sozinho nessa situação extrema, e que a comunidade internacional deve trabalhar em conjunto com os atores da cooperação para o desenvolvimento e com a sociedade equatoriana para o futuro do país.