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ConflitosEquador

Equador reduz preço dos combustíveis em meio a protestos

27 de junho de 2022

Presidente Guillermo Lasso tenta encerrar manifestações antigoverno lideradas por indígenas, iniciadas há duas semanas. Mas redução anunciada é menor que a exigida. Produção de petróleo poderá parar devido aos protestos.

Manifestante segura bandeira do Equador diante de fogo em rua de Quito
Manifestante em Quito, em 24 de junhoFoto: Adriano Machado/REUTERS

O presidente do Equador, Guillermo Lasso, anunciou neste domingo (26/06) uma redução do preço dos combustíveis, na tentativa de atender a uma das principais demandas de milhares de indígenas que protestam há duas semanas contra o governo e paralisaram parte do país.

"O preço da gasolina vai baixar dez centavos [de dólar] por galão [3,78 litros], e o preço do diesel também vai baixar dez centavos por galão", afirmou Lasso num pronunciamento difundido pela televisão e pelas redes sociais.

Assim, gasolina vai passar de 2,55 para 2,45 dólares por galão, e o diesel, de 1,90 para 1,80 dólar por galão. A redução é inferior à exigida pelos manifestantes, que demandam que o preço do galão da gasolina seja fixado em 2,10 dólares, e do diesel, em 1,50 dólar.

A redução dos preços dos combustíveis é um novo gesto do liberal Lasso para tentar acalmar os ânimos no país. Nos maiores protestos indígenas da história recente do Equador, cujo principal palco é a capital Quito, cerca de 14 mil manifestantes vêm protestando por medidas contra a pobreza em seus territórios agrícolas.

Confrontos entre manifestantes e forças de segurança já deixaram ao menos seis mortos e 400 feridos. Mais de cem pessoas foram detidas, segundo organizações de defesa de direitos humanos.

O preço dos combustíveis é o primeiro de dez pontos da lista de reivindicações da Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie) e de outras organizações camponesas que convocaram as atuais manifestações.

Na semana passada, Lasso também atendeu a outros pontos da lista de exigências, tais como o perdão de dívidas de famílias camponesas e a redução das taxas de juros para empréstimos ainda em vigor, bem como o aumento de 50 para 55 dólares de um bônus para famílias vulneráveis.

Entretanto, outros pontos da agenda indígena ainda estão pendentes, tais como o controle dos preços de itens de primeira necessidade, o respeito aos direitos dos povos indígenas, a não privatização das empresas públicas e a não proliferação das atividades de mineração e petróleo na Amazônia.

Efeitos econômicos 

O Equador, cuja economia dolarizada estava apenas começando a se recuperar dos efeitos da pandemia, está perdendo cerca de 50 milhões de dólares por dia com a crise, de acordo com números oficiais.

Bloqueios de estradas levaram à escassez de alimentos e combustíveis na capital e, juntamente com a tomada de mais de mil poços pelos manifestantes, ameaçam a produção de petróleo, o principal item de exportação do país. O governo afirmou neste domingo que, se os protestos continuassem, o país poderia parar de produzir ouro negro nas próximas 48 horas. 

Sem muito apoio político, Lasso conta por enquanto o respaldo dos militares. "Os equatorianos que buscam o diálogo encontrarão um governo com a mão estendida. Aqueles que buscam o caos, a violência e o terrorismo encontrarão toda a força da lei", advertiu o presidente.

No entanto, Lasso encerrou neste domingo o estado de emergência que havia sido imposto em seis províncias.

Lasso culpa Leonidas Iza, presidente da Conaie, pelo caos. "Aqui não há um lutador social aqui há um anarquista que quer derrubar um governo", disse Lasso no sábado, em entrevista à CNN. Iza anunciou no domingo que os protestos continuariam nesta segunda.

Centenas de manifestantes também vêm saindo às ruas de Quito para rechaçar os protestos indígenas, com bandeiras brancas e caravanas de veículos.

Possível destituição

Enquanto isso, o Congresso analisou, pelo segundo dia consecutivo, um pedido de destituição de Lasso, que um setor da oposição considera responsável pela "grave crise política e comoção interna" que assola o país desde 13 de junho, com manifestações e bloqueios quase diários.

Após sete horas de deliberações, a sessão foi adiada para esta terça-feira. A bancada Unión por la Esperanza (União pela Esperança), que apoia o ex-presidente socialista Rafael Correa (2007-2017), convocou o debate contra Lasso, o qual vê a pressão social como uma tentativa de golpe.

O impeachment do presidente requer 92 dos 137 votos possíveis no Congresso, onde a oposição tem maioria, embora fragmentada. Uma vez encerrados os debates, os deputados terão até 72 horas para votar.

lf (Lusa, AFP, Efe)