Equador quer que OEA e Unasul se pronunciem sobre caso Assange
17 de agosto de 2012O Equador convocou reuniões de emergência da Organização dos Estados Americanos (OEA) e da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) para analisar o caso envolvendo o fundador do site Wikileaks, Julian Assange, que nesta quinta-feira (16/08) recebeu asilo diplomático do país. A concessão irritou o Reino Unido, que agora ameaça revogar o status diplomático da embaixada equatoriana em Londres, onde Assage está refugiado desde o dia 19 de junho.
Nesta sexta-feira, policiais britânicos fazem plantão na porta da embaixada à espera do ativista. Segundo um porta-voz do corpo diplomático, Assange deve dar uma declaração pública na tarde deste domingo, mas não foram dados detalhes sobre como isso será feito pois, se deixar o prédio, o australiano de 41 anos será preso.
O Equador convocou os ministros do Exterior da Unasul para uma reunião em Guayaquil, no próximo domingo, segundo uma fonte diplomática brasileira. Já o Conselho Permanente da OEA deve votar nesta sexta-feira o pedido equatoriano para que o órgão analise a situação.
O governo equatoriano afirma que o asilo foi concedido porque até agora não foram dadas garantias dos governos britânico e sueco de que Assange não será extraditado para os Estados Unidos, onde ele correria risco de vida. Em 2010, o Wikileaks divulgou informações sigilosas do governo norte-americano. O ativista ainda acusa seu país de origem, a Austrália, de falhar em protegê-lo.
O Reino Unido quer prender Assange e deportá-lo para a Suécia, onde ele responde por acusações de estupro e abuso sexual.
Posições divergentes
A embaixadora do Equador na OEA, Maria Isabel Salvador, propôs que, devido à "sensibilidade" do tema, a consulta ao órgão seja realizada na próxima quinta-feira em Washington.
O pedido equatoriano obteve respaldo imediato por parte de alguns países sul-americanos, como a Argentina, cujo embaixador na OEA, Martín Gómez Bustillo, ressaltou que o Reino Unido "frequentemente não tem ouvido os chamados da comunidade internacional", citando como exemplo o caso das Ilhas Malvinas.
O embaixador venezuelano na organização, Roy Chaderton, também advertiu que uma invasão na embaixada equatoriana em Londres "equivaleria a uma agressão, uma invasão do território equatoriano".
Já o representante dos Estados Unidos, William McGlynn, rejeitou um encontro para avaliar o caso, afirmando que não serviria "a nenhum propósito útil, pois este é um assunto entre Equador, Reino Unido e Suécia". A OEA, segundo ele, "não tem nada a ver com isso".
A representação canadense também considerou que o órgão "não é o lugar mais apropriado" para discutir o assunto, uma vez que o Reino Unido não faz parte da organização.
Reprovável e inaceitável
A ameaça britânica de revogar o status diplomático da embaixada equatoriana em Londres foi classificada como insólita, reprovável e inaceitável por parte do embaixador do Equador em Berlim, Jorge Jurado.
"Desde a invasão das Malvinas, em 1982, este é o passo mais importante e mais dura que o governo britânico dirige à América Latina – porque isso não se dirige apenas ao Equador", afirmou o diplomata equatoriano à DW. "Pode ser um precedente para qualquer outro tipo de agressão a instituições que há muitos anos são reconhecidas como invioláveis."
Ainda que a convenção de Viena de 1961 garanta a inviolabilidade das representações diplomáticas, as quais o país anfitrião só pode acessar com aprovação do chefe da missão diplomática em questão, as autoridades britânicas se amparam numa lei de 1987, segundo a qual a polícia pode entrar numa embaixada de um país estrangeiro quando suas instalações são usadas ilegalmente – o que é o caso, segundo a avaliação britânica, já que os juízes do Reino Unido declararam a extradição do ativista para a Suécia.
MSB/dpa/lusa/rtr/afp/dw
Revisão: Alexandre Schossler