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Era uma vez um muro

(ns)5 de novembro de 2003

E de cada lado havia um reino... Um conto de fadas moderno conta uma história de amor e desventuras entre crianças, até que um dia caiu o muro que separava um país dividido. Você já viu esse filme?

A reunificação em forma de conto de fadas: "Os filhos dos reis de Bärenburg"

"Era uma vez um país. Chamava-se Bärenburg e estava dividido, bem no meio, como uma toalha de estampa colorida que alguém tivesse cortado, num ataque de raiva. Nesse país dividido, reinavam dois reis. Eles se chamavam Dederow e Bundislaus. Os reis tinham duas crianças: Daniel e Beatriz."

Assim começa o conto de fadas de Torsten Harmsen sobre a divisão alemã e sobre o amor entre os príncipes Daniel e Beatriz. Um amor que nasce e sobrevive apesar da muralha que os separa. Por isso, o conto também é uma história de separação e saudade, de amor e intrigas. Título do livro: Os filhos dos reis de Bärenburg.

Um aniversário muito especial

País fictício, Bärenburg tem notórias semelhanças com a Alemanha. Os nomes no livro do jornalista Torsten Harmsen, aliás, não são aleatórios. Bären significa ursos, em alemão, e o urso é o animal que representa Berlim. Tanto é assim que ele consta do escudo da cidade separada pelo Muro de Berlim até 14 anos atrás.

O livro infanto-juvenil reconta a história real da divisão da Alemanha, com direito à reunificação e, portanto, final feliz. A idéia do autor, que mora em Berlim, foi escrever o livro para explicar à sua filha a história recente do país. Mas Harmsen tinha mais um motivo especial: ela nasceu no dia 9 de novembro de 1989. Um dia duplamente inesquecível para ele, por ter sido também o dia em que caiu o Muro de Berlim.

Um conto que não aumentou muitos pontos

O nome dos reis já indica claramente qual é reino de cada um. O do leste chama-se DeDeRow, que contém a sigla alemã DDR, da República Democrática Alemã. Seu opositor também tem um nome muito sugestivo em alemão. Bundislaus é uma clara alusão à Bundesrepublik, a primeira parte do nome da República Federal da Alemanha.

Por trás dos dois reis estão as duas figuras que realmente têm poder, os comandantes dos dois exércitos. Do lado ocidental do ringue, o general Genny - um nome que, por coincidência, soa americano. Do lado oriental do ringue, o "marechal vermelho", a cor não apenas da Praça Vermelha em Moscou.

Uma história de amor...

Beatriz e Daniel (não lembra o romance entre Dante e Beatriz?) são os protagonistas do conto, em meio a todo o esquema político. Ela é do ocidente, ele do oriente. Em uma viagem ao lado proibido do país, Daniel conhece Beatriz e se apaixona, como acontece em todo conto de fadas que se preze.

Daniel volta para o reino de seu pai e quando tenta se comunicar com a sua amada, começam os problemas e todo um jogo de intrigas e manobras secretas. E isso tem a ver com o principal conselheiro do rei Dederow, um tal de Stasius, que espionava todo mundo. Qualquer semelhança com o Stasi, o famigerado Serviço de Segurança do Estado na verdadeira Alemanha Oriental, não é acaso.

... e a absurda divisão alemã

Harmsen tem um olhar crítico para narrar o que acontecia nos dois "reinos" ou Estados, nos diferentes lados do muro. E justamente por recorrer ao conto de fadas como forma literária, consegue expor muito bem sua visão do absurdo, do inexplicável da divisão. Assim como também consegue dar uma idéia de como era a vida dois dois lados da fronteira e o que a tornava difícil, senão impossível.

Um livro realmente infantil? Eis a questão. A história não é nada engraçada, mas tem sua graça, e qualquer pessoa lê de bom grado. Torsten Harmsen conseguiu realizar a façanha de situar o livro entre a realidade e a ficção. E, diante de uma história real tão complexa, quem tem direito a reclamar de eventuais simplificações?

Por quê, papai?

Os comentários de leitores, numa livraria online, foram quase todos positivos. Alguém achou a idéia um desafio e gostou do resultado. Mães de família acharam que o livro deveria ser adotado nas escolas. E não podia faltar um pai achando que o conto está longe de esclarecer o que aconteceu realmente no país dividido que foi a Alemanha, até a queda do muro em 9 de novembro de 1989.

Desde então, todos os anos a filha do autor foi convidada para uma festa especial em Berlim, que reúne todas as "crianças de novembro", nascidas no dia da queda do muro. Um dia, ela começou a perguntar o por quê dessa festa. O livro Os filhos dos reis de Bärenburg é sua resposta.

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