Há 15 anos no poder, exercendo chefia de governo e de Estado, político ficará mais cinco anos no cargo, agora com poderes executivos totais. Aliança conservadora-nacionalista garante maioria parlamentar absoluta.
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O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, foi reeleito em primeiro turno neste domingo (24/06).
O Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), de Erdogan, obteve 52,5% dos votos, informou a agência de notícias Anadolu, após apuração de 99% das urnas. O Partido do Movimento Nacionalista (MHP), com que forma aliança, obteve 11%. Juntos, eles deterão maioria absoluta no Parlamento.
Os resultados finais devem ser divulgados ainda nesta semana, mas o presidente da Comissão Eleitoral Suprema da Turquia, Sadi Guven, declarou Erdogan vencedor do pleito.
"Nosso povo nos deu a tarefa de manter os postos presidencial e executivo", disse, em breve discurso em Istambul. "Eu espero que ninguém tente lançar uma sombra sobre os resultados e prejudicar a democracia, de forma a esconder o próprio fracasso."
O principal oposicionista, o Partido Republicano do Povo (CHP), obteve 30,7%. Pouco depois do encerramento das urnas, seu líder, Muharrem Ince, acusou a agência estatal de notícias Anadolu de manipulação, advertindo seus adeptos que não se deixassem impressionar pelas primeiras contagens, pois, as autoridades sempre divulgavam primeiro os resultados de municípios próximos do partido de Erdogan.
De fato: nas primeiras fases da apuração o AKP apresentava maioria absoluta, segundo fontes próximas a Ancara. Além disso, enquanto o governo afirmava já terem sido aprovadas mais de 95% das urnas, um porta-voz do CHP rebatia que apenas 39% dos votos haviam sido contados e que a eleição iria ao segundo turno.
O terceiro na disputa foi o candidato esquerdista Selahattin Demirtas, que cumpre prisão preventiva há um ano e meio, com 8,4% dos votos, seguido por Meral Aksener, ex-ministra do Interior, com 7,3%.
No Parlamento, o Partido Democrático dos Povos (HDP), socialista e pró-curdo, saiu com cerca de 11%, superando a cláusula de barreira de 10% e, assim, habilitando-se a ocupar assentos no Parlamento – indício de que alguns eleitores não curdos podem ter votado estrategicamente no partido. Seu candidato, Selahattin Demirtas, conduziu a campanha a partir da prisão, contando com o respaldo não apenas dos curdos, mas também da esquerda turca.
Cerca de 56 milhões de cidadãos foram pela primeira vez chamados às urnas para eleger simultaneamente o presidente e um novo Parlamento. A participação eleitoral foi de 88%. Este pleito é considerado um passo decisivo para a implementação da reforma constitucional aprovada em 2017, que entrega todos os poderes executivos ao chefe de Estado.
Entre a chefia de governo e de Estado, Erdogan já dirige os destinos da Turquia há 15 anos, de forma crescentemente autoritária. O líder turco começa o próximo mandato sob um novo sistema presidencialista. A reforma constitucional para esse fim foi aprovada em referendo, em abril de 2017.
Na concepção de sistema presidencial de Erdogan, o poder de formar e dirigir o governo deve ser transferido do Parlamento para o presidente. Ele também pode vir a acumular o comando dos setores de inteligência e militar, e todos os ministros também deverão ser escolhidos por ele.
AV/rtr,ap,lusa,dpa
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Quão europeia é Istambul?
Apesar da crise de relacionamento, Europa e Turquia têm muito em comum. Istambul, por exemplo: a metrópole de 15 milhões de habitantes não é apenas geograficamente parte da Europa. Uma viagem pela cidade dos contrastes.
Foto: Rena Effendi
Para além das categorias convencionais
Istambul é a única cidade do mundo localizada em dois continentes: Europa e Ásia. Na metrópole do Bósforo, tradição e modernidade, religião e estilo de vida secular colidem como em nenhum outro lugar. Muitos dizem que exatamente isso faz a magia da cidade.
Foto: Rena Effendi
Quase 3 milênios de existência
Uma história de mais de 2.600 anos molda a paisagem urbana da Istambul de hoje. Diversos líderes se alternaram na luta pelo poder: persas, gregos, romanos, otomanos. "Constantinopla" era o centro do Império Bizantino e posteriormente do Império Otomano. Só em 1930 a cidade foi batizada "Istambul".
Foto: Rena Effendi
Entre mundos
O Bósforo é a alma azul de Istambul. O estreito separa a parte europeia da parte asiática da cidade. Todos os dias, balsas levam dezenas de milhares de um lado para o outro. Gaivotas gritam ao vento. A bordo, há chá e "simit" (anéis de gergelim). A travessia leva cerca de 20 minutos, de Karaköy, na Europa, para Kadiköy, na Ásia.
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Pontes conectam
A partir da ponte Galata, é possível observar bem os navios – e outras coisas mais. Aqui, pescadores se apinham na esperança de uma boa pesca. Entre eles: comerciantes, turistas, engraxates, vendedores de milho. A primeira ponte foi construída aqui em 1845 – quando Istambul ainda se chamava Constantinopla.
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"Europa é um sentimento"
"Meu nome é Vefki", diz um dos pescadores, acenando. "Eu me sinto europeu. Queremos mais liberdade, e por isso a Turquia e a UE devem se aproximar." Vefki é aposentado e a pesca é seu hobby, mas também uma renda extra. Por dois quilos de peixe, ele consegue no mercado o equivalente a cerca de oito euros.
Foto: Rena Effendi
Minaretes no coração da cidade
Na Praça Taksim, no coração da cidade, zunem máquinas de construção. Aqui, uma nova mesquita é erguida a alta velocidade, com uma cúpula de 30 metros de altura e dois minaretes. Tudo deve estar pronto até as eleições de 2019. Críticos acusam o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, de impor uma nova identidade à praça: islâmico-conservadora e neo-otomana, ao invés de secular e europeia.
Foto: Rena Effendi
Europeia e devota
O tom é mais conservador no bairro de Fatih, apesar de ele se situar na parte europeia de Istambul. Muitos que vivem aqui imigraram da Anatólia, procurando trabalho e uma vida melhor. Alguns também chamam Fatih de "bairro dos devotos": aqui são muitos os adeptos fiéis do presidente turco e de seu partido conservador-islâmico AKP.
Foto: Rena Effendi
Compras à sombra da mesquita
Quarta-feira é dia de mercado em torno da mesquita de Fatih. Tem empurra-empurra e regateio por eletrodomésticos, roupas, lençóis, frutas e legumes. Os preços são mais baixos do que em outros lugares, assim como os aluguéis. Atualmente muitas famílias sírias vivem em Fatih. Desde o início da guerra, em 2011, a Turquia recebeu mais de 3 milhões de refugiados – mais do que qualquer outro país.
Foto: Rena Effendi
"Pequena Síria" no coração de Istambul
Fatih é agora conhecida por seus restaurantes sírios: O kebab daqui vem com alho extra. "Misafir" (hóspedes) é como os refugiados são oficialmente chamados na Turquia. O status de asilo vigente na UE não existe aqui. Mas o governo prometeu cidadania turca para dezenas de milhares de sírios. Críticos veem nisso uma tentativa de angariar votos adicionais.
Foto: Rena Effendi
Vida noturna em "Hipstambul"
Quem quiser sair, fazer festa, beber álcool, tem que procurar outros bairros de Istambul. Por exemplo Kadiköy, do lado asiático. Ou vir aqui para Karaköy, um dos bairros mais antigos, mas hoje extremamente encarecido. Moradores e turistas se encontram em cafés, lojas conceituais e galerias. A política islâmica conservadora do governo não encontra muitos entusiastas por aqui.
Foto: Rena Effendi
Esperança no turismo
"Istambul mudou muito", diz Ayşegül Saraçoğlu. Ela trabalha numa loja de grife no bairro turístico de Galata. "Há alguns ano,s muitos europeus vinham para cá de férias", agora são principalmente turistas árabes. "Isso é ruim para o nosso negócio", reclama, "espero que mude em breve".