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PolíticaTurquia

Erdogan é reeleito presidente da Turquia

Publicado 28 de maio de 2023Última atualização 28 de maio de 2023

No poder há 20 anos, líder islâmico de perfil conservador derrotou uma aliança inédita da oposição. Pleito foi referendo sobre as mudanças profundas que ele vem implementando no país de 85 milhões de habitantes.

Recep Erdogan
Erdogan deu guinada autoritária e conservadora-religiosa no país, e no seu novo mandato terá que lidar com crise econômica crescenteFoto: Sergei Bobylev/dpa/AP/picture alliance

O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, no poder há 20 anos, foi reeleito neste domingo (28/05) para mais um mandato de cinco anos, em um pleito que representou um referendo sobre seu longo governo.

O líder islâmico conservador recebeu 52,14% dos votos, contra 47,86% de seu rival secular da oposição, Kemal Kiliçdaroglu, segundo uma prévia da autoridade eleitoral turca com 99,43% das urnas apuradas.

Sua gestão vem promovendo transformações profundas no país de 85 milhões de habitantes, incluindo uma guinada autoritária e conservadora-religiosa, o afastamento do Ocidente e uma aproximação da Rússia.

Mais recentemente, o líder de 69 anos vem lidando com a maior crise econômica da Turquia em décadas e os efeitos de um terremoto devastador em fevereiro, que levou muitos turcos a criticarem a atuação do governo. Neste pleito, ele enfrentou uma aliança inédita de oposição que reuniu ex-adversários para tentar promover uma alternância de poder.

Em sua primeira declaração após o fechamento das urnas, Erdogan dirigiu-se a apoiadores em frente à sua casa em Istambul. "Agradeço a cada membro de nossa nação por ter confiado a mim a responsabilidade de governar este país mais uma vez nos próximos cinco anos", disse. "O único vencedor hoje é a Turquia."

Em seguida, Kiliçdaroglu expressou "tristeza" pelo futuro do país, mas não reconheceu formalmente a derrota nas eleições, que classificou como "a mais injusta" em anos.

Os admiradores elogiam Erdogan por ter eliminado as restrições religiosas no país que é oficialmente secular, mas majoritariamente muçulmano, implementado ambiciosos projetos de infraestrutura e transformado a Turquia em uma força geopolítica. Já os detratores o acusam de adotar práticas autoritárias que lembram os sultões otomanos, abalando as bases democráticas da Turquia e empobrecendo milhões de pessoas com políticas econômicas equivocadas.

Esta eleição foi considerada por muitos analistas como a mais importante do país em seus cem anos de história republicana. Kiliçdaroglu montou uma coalizão poderosa que agrupou antigos aliados desencantados de Erdogan com nacionalistas seculares e conservadores religiosos – uma combinação heterogênea que conseguiu empurrar a disputa para o segundo turno.

Kiliçdaroglu fez giro à direita no segundo turno

A mensagem de unidade social e defesa das liberdades utilizada pelo candidato da oposição antes do primeiro turno deu lugar, na reta final da campanha, a discursos inflamados sobre a necessidade de expulsar os imigrantes e combater o terrorismo.

Sua guinada à direita foi direcionada aos nacionalistas que emergiram como os grandes vencedores das eleições parlamentares realizadas junto com o primeiro turno do pleito presidencial, em 14 de maio.

Kiliçdaroglu, de 74 anos, sempre aderiu aos valores nacionalistas de Mustafa Kemal Ataturk – um reverenciado comandante militar que formou a Turquia e seu partido, o secular CHP. Mas até o primeiro turno esses princípios tiveram papel secundário em relação à promoção de valores socialmente liberais praticados pelos eleitores mais jovens e pelos moradores das grandes cidades – uma aposta que muitos analistas questionaram se funcionaria.

Em pronunciamento na noite de domingo, Kiliçdaroglu expressou "tristeza" pelo futuro da TurquiaFoto: Yves Herman/REUTERS

Sua aliança informal com um partido pró-curdo que Erdogan retrata como a ala política de militantes proibidos no país o expôs a acusações de trabalhar com "terroristas". Por outro lado, a recente aproximação de Kiliçdaroglu com a extrema direita da Turquia foi prejudicada pelo endosso que Erdogan recebeu de um ultranacionalista que ficou em terceiro lugar no primeiro turno.

Líderes parabenizam Erdogan

O chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, parabenizou Erdogan pela vitória e disse que ambos os países são "parceiros e aliados próximos", com povos e economias "profundamente interligados". "Juntos queremos fazer avançar nossa agenda comum com um novo ímpeto", escreveu Scholz no Twitter.

A presidente da Comissão Europeia, braço executivo da União Europeia, Ursula von der Leyen, também parabenizou o presidente turco pela reeleição. " Espero continuar a construir o relacionamento UE-Turquia. É de importância estratégica tanto para a UE quanto para a Turquia trabalhar para promover esse relacionamento, para o benefício de nosso povo", escreveu ela Twitter.

O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, também cumprimentou Erdogan pelo resultado eleitoral. "Desejo um bom mandato, de muito trabalho para o melhor do povo turco. E conte com a parceria do Brasil na cooperação global pela paz e no combate à pobreza e desenvolvimento do mundo", escreveu Lula no Twitter.

O presidente russo, Vladimir Putin, parabenizou Erdogan dizendo que sua vitória foi "o resultado lógico" de seu trabalho, e elogiou sua "contribuição pessoal para o fortalecimento das relações amistosas entre a Rússia e a Turquia".

O primeiro-ministro do Paquistão, Shehbaz Sharif, descreveu o líder turco como um "pilar de força para os muçulmanos oprimidos", bem como uma "voz ardente para seus direitos inalienáveis". 

A trajetória política de Erdogan

Nascido em um bairro portuário da classe trabalhadora de Istambul, Erdogan fez seu nome nos movimentos islâmicos nascentes que desafiavam o regime secular, tornando-se prefeito da cidade em 1994. 

Seu mandato de prefeito foi interrompido quando ele foi condenado e preso por quatro meses por incitar o ódio religioso ao recitar um poema inflamado que comparava as mesquitas aos quartéis do exército e chamava os minaretes de "nossas baionetas".

Entre seus partidários, isso só parecia aumentar seu apelo. Ao fundar sua legenda, o AKP, depois que um partido islâmico anterior foi banido, Erdogan liderou uma vitória eleitoral esmagadora nas eleições nacionais de 2002 e tornou-se primeiro-ministro menos de seis meses depois.

As conquistas iniciais de Erdogan incluíram uma série de reformas que agradaram a União Europeia (UE), inclusive a abolição da pena de morte e o início de um processo de paz com militantes curdos.

Os protestos em massa em 2013 sobre os planos de transformar um parque de Istambul em um shopping center, no entanto, marcaram o início de uma era mais divisiva, que incluiu alegações de corrupção contra seu círculo íntimo.

A tentativa da Turquia de ingressar na UE fracassou e as negociações de paz com os curdos implodiram em 2015, quando um partido de oposição curdo ajudou a tirar de Erdogan o controle do Parlamento pela primeira vez. As operações militares turcas contra as forças curdas na Síria e no Iraque logo se seguiram, criando novas tensões com o Ocidente.

Apoiadores de Erdogan na cidade de Karamamaras celebram sua reeleição Foto: Can Erok/AFP via Getty Images

Em seus primeiros dias, o AKP, sem aliados e sem experiência, forjou uma aliança com o líder islâmico Fethullah Gülen, que se mudou para o exílio permanente nos EUA em 1999, mas manteve forte influência na sociedade e no governo turcos.

Mais tarde, Erdogan culpou Gülen por arquitetar uma sangrenta tentativa de golpe por uma facção renegada do exército em julho de 2016 – o que ele nega. Erdogan, que estava de férias no mar Egeu, apareceu na TV ao vivo para incentivar seus apoiadores a irem às ruas.

Esse foi o momento decisivo de seu governo subsequente. Erdogan revidou com expurgos abrangentes que levaram a 80 mil prisões, colocou a maior parte da mídia sob influência do governo e criou uma sensação de perigo iminente entre aqueles que se opõem ao seu governo. A hesitação de Washington e da UE em apoiar abertamente Erdogan nas primeiras horas dessa tentativa de golpe corroeu sua confiança no Ocidente, e criou atritos diplomáticos que perduram até hoje.

Em 2017, Erdogan promoveu um referendo que aboliu o cargo de primeiro-ministro e transformou a Turquia em um regime presidencialista. Com isso, ele consegui concentrar mais poder e obteve a permissão legal para disputar duas vezes a eleição para presidente.

Políticas econômicas pouco ortodoxas, incluindo a redução das taxas de juros para combater a inflação crescente, que atingiu oficialmente 85% em 2022, reverteram alguns ganhos de sua primeira década de governo, mais próspera.

Os opositores também o acusaram de fazer vista grossa à corrupção e aos padrões de construção frouxos que permitiram que cidades inteiras desmoronassem no terremoto em fevereiro. Apesar da perda e da raiva generalizadas, a popularidade de Erdogan se manteve em partes do sudeste da Turquia devastadas pelo desastre, um testemunho de apoio leal ao líder.

bl (AFP, Reuters)

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