Erdogan ameaça barrar acordo com UE sobre refugiados
25 de maio de 2016
Em encerramento de cúpula da ONU, presidente turco afirma que ratificação da medida depende da isenção de visto prometida pelo bloco. UE espera de Ancara, porém, alteração na polêmica legislação antiterrorismo.
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O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, ameaçou nesta terça-feira (24/05) barrar o acordo com a União Europeia (UE) sobre refugiados, caso o bloco não garanta a isenção de visto para cidadãos turcos.
No discurso do encerramento da Cúpula Humanitária Mundial, promovida pelas Nações Unidas em Istambul, Erdogan lembrou que o acordo prevê que a isenção de vistos entre em vigor no início de julho.
"Se a isenção de visto não acontecer, nenhuma decisão e legislação para a readmissão do acordo sairá do Parlamento turco. Nossos ministros do Exterior terão que negociar com os europeus. Se houver resultado, ótimo. Se não houver, me desculpe", disse Erdogan.
A isenção de visto para cidadãos turcos está prevista no acordo entre a UE e a Turquia para diminuir o fluxo migratório em direção ao bloco. Porém, Ancara deve alterar a legislação antiterrorismo no país, que prevê a prisão de jornalistas e críticos do governo. Erdogan se recusa a revisar a lei, e o impasse coloca em risco o acordo.
Durante o discurso, Erdogan ressaltou também que os fundos prometidos para a Turquia pela União Europeia referentes ao acordo sobre a crise migratória ainda não foram liberados. "A Turquia não está pedindo favor, o que queremos é honestidade", argumentou.
Ancara se comprometeu a receber refugiados sírios que entraram ilegalmente na Grécia. Em contrapartida, a UE concedeu 6 bilhões de euros ao país para financiar o alojamento dos migrantes, além de aceitar receber refugiados que se encontram na Turquia.
As declarações do presidente turco foram feitas um dia após seu encontro com a chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel. Na ocasião, Merkel descartou a isenção de visto para turcos já em julho e ressaltou que Ancara precisa cumprir as exigências da UE para garantir a medida.
CN/lusa/rtr/ap/afp
A vida de um refugiado após selfie com Merkel
Há quem seja viciado em tirar autorretratos no celular, só ou acompanhado. Outros ridicularizam a moda como coisa de adolescentes. Para o sírio Anas Modamani, de 19 anos, um selfie foi o momento que transformou sua vida.
Foto: Anas Modamani
Encontrando Angela Merkel
Quando estava alojado no acampamento de refugiados de Berlim-Spandau, Anas Modamani ficou sabendo que a chanceler federal alemã, Angela Merkel, viria visitar e conversar com os migrantes. O sírio de 19 anos, um adepto das mídias sociais, resolveu tirar um selfie com a chefe de governo, na esperança de que a iniciativa iniciasse uma mudança real em sua vida.
Foto: Anas Modamani
Fuga para a Europa
Quando a casa dos Modamani em Damasco foi bombardeada, Anas, seus pais e irmãos se transferiram para Garia, uma cidade menor. Foi aí que o jovem resolveu escapar para a Europa, na esperança de que sua família se unisse a ele mais tarde, quando tivesse conseguido se estabelecer. Primeiro, viajou para o Líbano, seguindo então para a Turquia, e de lá para a Grécia.
Foto: Anas Modamani
Jornada perigosa
Por pouco, Anas não morreu no caminho. Para atravessar o Mar Egeu, entre a Turquia e a Grécia, ele teve que pegar um barco inflável, como a maioria dos refugiados. O sírio conta que a embarcação estava superlotada, acabando por virar, e ele quase se afogou.
Foto: Anas Modamani
Cinco semanas a pé
O trajeto entre a Grécia e a Macedônia ele teve que fazer a pé, ao longo de cinco semanas, seguindo então para a Hungria e a Áustria. Em setembro de 2015, alcançou sua destinação final: Munique. Uma vez na Alemanha, Anas decidiu que queria ir para Berlim, onde está vivendo desde então.
Foto: Anas Modamani
Espera por asilo
Na capital alemã, o jovem de Damasco passou dias inteiro diante da central para refugiados LaGeSo. Lá, ele conta, a situação era difícil, sobretudo com a chegada do inverno. Por fim, foi enviado para o acampamento de Berlim-Spandau. Ele queria chamar a atenção para sua situação como refugiado, e um selfie com Merkel lhe pareceu a oportunidade ideal.
Foto: Anas Modamani
Enfim uma família
Anas confirma que o retrato ao lado da chanceler federal foi um elemento de mudança chave em sua vida. Ele recebeu grande atenção midiática depois que o selfie foi postado online, e foi assim que sua família adotiva chegou até ele. Há dois meses o sírio de 19 vive em Berlim com os Meeuw, que o apoiam em todos os aspectos.
Foto: Anas Modamani
Saudades de casa
Anas diz nunca ter estado tão feliz como agora, ao lado de sua família alemã. Além de fazer curso de idioma alemão, tem numerosas atividades culturais e já fez muitos amigos. Com curso médio completo na Síria, ele pretende fazer o curso superior na Alemanha. Porém, sua prioridade no momento é obter oficialmente asilo e poder trazer seus pais e irmãos para a Alemanha.
Foto: Anas Modamani
Onda de rejeição aos refugiados
O sírio Anas Modamani espera ter uma vida longa e segura em sua terra de adoção. Contudo está preocupado com os atuais sentimentos negativos contra os refugiados na Alemanha. Ele teme que esse clima de rejeição possa escalar e influenciar as leis referentes aos migrantes. Se isso acontecer e ele não obtiver asilo, será o fim do sonho de ter a própria família junto de si.