Erdogan autoriza EUA a usar base aérea turca para atacar EI
24 de julho de 2015
Após semana tensa com atentados contra centro cultural e posto de controle, Ancara libera base de Incirlik para americanos e realiza primeiro ataque aéreo contra alvos do EI na Síria, matando 35 jihadistas.
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O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, autorizou nesta sexta-feira (24/07) as Forças Armadas dos Estados Unidos a usar a base aérea de Incirlik, "sob certas circunstâncias", na luta contra militantes do grupo extremista "Estado Islâmico" (EI).
A confirmação de Erdogan veio horas depois de aviões militares turcos terem bombardeado alvos jihadistas na Síria, em resposta a uma semana turbulenta no sul da Turquia, com atentados contra um centro cultural e um posto de controle fronteiriço.
Autoridades turcas e americanas disseram que Erdogan discutiu o uso da base turca de Incirlik durante uma conversa telefônica com o presidente dos EUA, Barack Obama, no início desta semana. Anteriormente, a Turquia tinha se mostrado relutante em se juntar à coalizão liderada pelos Estados Unidos, que inclui alguns Estados árabes, e que foi formada no ano passado quando o EI capturou grandes áreas do norte da Síria e do Iraque.
Incirlik, uma base aérea da Otan, fica na província de Adana. Sua proximidade com a Síria deixa os aviões militares americanos mais perto das forças do EI e permite o uso de um número maior de aviões nas missões de combate. Os EUA estavam pressionando o governo turco desde o ano passado pelo uso desta base. Até agora, as Forças Armadas americanas têm utilizado bases aéreas nos aliados árabes.
Três caças F-16 realizam ataque aéreo na fronteira
Mais cedo, também nesta sexta-feira, o primeiro-ministro da Turquia, Ahmet Davutoglu, afirmou que os primeiros ataques aéreos turcos contra o EI "removeram potenciais ameaças" para o país. O premiê acrescentou que os bombardeios podem continuar.
Três caças F-16 operaram a partir da base aérea de Diyarbakir, no sudeste da Turquia, e lançaram chamadas "bombas inteligentes" em três alvos, comunicou um funcionário do governo de Ancara. Trata-se de uma munição guiada e projetada para atingir com alto grau de precisão alvos específicos.
De acordo com a imprensa turca, os alvos eram na aldeia síria de Hawar al-Naht, perto da fronteira entre os dois países. Os aviões não invadiram o espaço aéreo sírio e, segundo a agência de notícias Dogan, ao menos 35 militantes foram mortos no ataque.
Esse foi o primeiro ataque aéreo da Turquia contra a milícia jihadista. O bombardeio ocorre um dia depois de militantes jihadistas terem disparado contra um posto militar turco na província turca de Kilis, na fronteira com a Síria, matando um soldado turco e deixando dois feridos. Cinco soldados do EI também morreram nos tiroteios.
Na segunda-feira, um ataque suicida atribuído ao "Estado Islâmico" contra um centro cultural na cidade turca de Suruç deixou 32 mortos e mais de cem feridos – muitos deles curdos.
Centenas de detenções em batidas policiais
O premiê turco também disse que, além dos ataques aéreos, as forças de segurança turcas também realizaram batidas policiais em Istambul e em 12 províncias turcas. Aproximadamente 300 pessoas foram presas. Segundo Davutoglu, entre os detidos estão 37 estrangeiros suspeitos de serem membros do "Estado Islâmico" ou do banido Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).
No passado, a Turquia foi acusada de fazer vista grossa para os extremistas, incluindo o recrutamento de estrangeiros que chegaram à Síria através da fronteira com a Turquia para lutar contra as forças leais ao presidente do país, Bashar al-Assad.
O principal aliado dos Estados Unidos na Síria tem sido a força curda das Unidades de Proteção Popular (YPG), que tem combatido e forçado o recuo dos extremistas do EI.
Já na Turquia, tensões entre curdos e o governo de Erdogan causaram a suspensão de um processo de paz envolvendo o PKK em 2013. Porém, a legenda liderada pelo presidente turco e Davutoglu, o Partido pela Justiça e Desenvolvimento (AKP), ainda está à procura de um parceiro para um novo governo de coalizão. Pela primeira vez desde 2002, o AKP perdeu a maioria parlamentar, em eleições realizadas no último mês.
PV/dpa/ap/rtr/lusa/efe
"Estado Islâmico": de militância sunita a califado
Origens do grupo jihadista remontam à invasão do Iraque, em 2003. Nascido como oposição ao domínio xiita e inicialmente um braço da Al Qaeda, EI passou por mudanças e virou uma ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com a derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo sunita surgiu a partir da união de diversas organizações extremistas, leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra a ascensão dos xiitas ao governo iraquiano.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al Qaeda
A insurreição se tornou cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, fundador da Al Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se voltaram contra eles e se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
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Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea e ele foi sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Bagdadi. A AQI mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). No ano seguinte, Washington intensificou sua presença militar no país. Masri e Bagdadi foram mortos em 2010.
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Volta dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
Foto: picture alliance/dpa
Ruptura com Al Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o EIIL atravessou a fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram se fundir com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
Foto: dapd
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade, Mossul, em 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já havia sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
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Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista econômico quanto estratégico. Ela é uma importante rota de exportação de petróleo e ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Mas a conquista da cidade é vista como apenas uma etapa para os extremistas, que pretenderiam avançar a partir dela.
Foto: Getty Images
Atual abrangência do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um "Estado Islâmico" que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al-Bagdadi como "califa".
Foto: Reuters
As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado" após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto ou serem executados. Os xiitas também eram alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o patrimônio histórico
O EI destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. Eles diziam que esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do Islã. Especialistas afirmam, porém, que o grupo faturou alto no mercado internacional com a venda ilegal de estátuas menores, enquanto as maiores eram destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Durante suas ofensivas armadas, o "Estado Islâmico" saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação americana das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.