Presidente da Turquia diz que Atenas deve deixar refugiados seguirem viagem para outros países europeus. Ancara acusa guarda costeira grega de empurrar barcos com migrantes de volta para águas turcas.
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O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, pediu neste domingo (08/03) que Atenas abra as suas fronteiras e deixei os refugiados seguirem viagem para outros países europeus. A Grécia e a Bulgária estão tentando conter o fluxo migratório depois de Ancara decidir abrir as suas fronteiras, como forma de pressionar a União Europeia (UE).
"Ei, Grécia, essas pessoas não estão vindo para ficar", disse num evento em Istambul, ignorando que a UE possui um tratado que determina que pedidos de refúgio sejam processados no país de entrada do bloco.
Erdogan acusou ainda a Grécia de bater e intimidar os refugiados. No mesmo discurso, ele confirmou também que irá a Bruxelas na segunda-feira para discutir a questão migratória com líderes da União Europeia.
Nos últimos dias, a tensão entre Ancara e Bruxelas aumentou após a Turquia ter anunciado a abertura de fronteiras para deixar passar milhares de migrantes e refugiados que desejam seguir para a UE, ameaçando rasgar um acordo anterior com a Europa.
Desde então, as forças de segurança gregas dizem ter impedido 39 mil pessoas de atravessar a fronteira. A Turquia diz que o número real é mais de três vezes superior. Houve ainda confrontos violentos na fronteira entre os dois países e a deterioração das condições humanitárias na ilha grega de Lesbos, que abriga mais de 21 mil migrantes.
Um incêndio atingiu neste domingo um centro comunitário de migrantes em Lesbos. Esse foi o segundo incidente deste tipo num local construído para receber refugiados na ilha em uma semana.
Neste domingo, a Turquia afirmou que resgatou dois barcos com refugiados no Mar Egeu depois que a guarda costeira grega os empurrou de volta para águas turcas. Segundo o governo turco, as embarcações levavam 121 pessoas, a maioria do Afeganistão.
O anúncio vem depois de o presidente turco ter amenizado um pouco a pressão migratória sobre a União Europeia, ao ter dado ordens na sexta-feira à Guarda Costeira para impedir os migrantes de atravessar o mar Egeu, uma das portas de entrada na Grécia.
A UE e a Turquia celebraram em 2016 um acordo no qual Ancara se comprometia a combater a passagem clandestina de migrantes para território europeu em troca de bilhões de euros em ajuda financeira.
Mas Ancara afirma que outros termos do acordo com a União Europeia, entre eles a facilitação de vistos e o estabelecimento de determinadas regras comerciais, não foram respeitados. A Turquia também afirma que o pagamento é atualmente insuficiente diante do custo dos 3,6 milhões de migrantes e de refugiados, principalmente sírios, que acolhe há alguns anos.
Com a ameaça de deixar o acordo, a Turquia tenta obter o apoio da União Europeia às suas operações militares no norte da Síria. A ofensiva do regime sírio, apoiada pela Rússia, contra a província de Idlib, último bastião rebelde na Síria, provocou mais de 1 milhão de refugiados.
A UE reconheceu o papel da Turquia em acolher os refugiados, mas rejeita as ameaças de rompimento do acordo por motivos políticos.
Famílias tentam fugir do conflito e são alvo de ataques indiscriminados de forças do governo e rebeldes em Idlib. Violência e deslocamento em massa podem resultar na maior catástrofe humanitária do século 21, diz ONU.
Foto: picture-alliance/AA/M. Said
Famílias fogem da província de Idlib
As tropas sírias intensificaram a luta pelo último grande enclave rebelde do país – um "prelúdio para sua derrota total", segundo o presidente Bashar al-Assad. Violência e deslocamento em massa podem resultar no maior horror humanitário do século 21, afirmou o diretor de ajuda humanitária da ONU, Mark Lowcock. As crianças, em particular, se tornaram o rosto desse sofrimento.
Foto: Getty Images/AFP/A. Watad
Maior êxodo desde a Segunda Guerra
Dos quase 900 mil forçados a deixar suas casas e abrigos nos últimos três meses, 80% eram mulheres e crianças, relatou um porta-voz da ONU. Cerca de 300 mil deles fugiram apenas desde o início de fevereiro. A onda de deslocamento é o maior êxodo de civis desde a Segunda Guerra Mundial.
Foto: picture-alliance/AA/M. Said
Temperaturas mortais
Com temperaturas atingindo 7 ºC negativos em campos de deslocados nas colinas perto da fronteira com a Turquia, sete crianças morreram devido às más condições de vida. A organização Save the Children afirma que as famílias queimam tudo o que encontram para se aquecer, e que o número de mortos pode aumentar.
Foto: picture-alliance/AA/H. Harrat
Esforços por cessar-fogo suspensos
Comboios turcos se dirigiram à antiga "zona de desescalada", enquanto forças sírias apoiadas pela Rússia intensificaram seus esforços para retomar a área no fim de janeiro. No início de fevereiro, após a morte de 13 soldados turcos estacionados no local para apoiar rebeldes, os esforços diplomáticos para intermediar um cessar-fogo foram sustados.
Foto: picture-alliance/AA/C. Genco
Rodovia para lugar nenhum
A ofensiva de Assad para retomar a estratégica rodovia M5, que passa pela província de Idlib e segue até a segunda maior cidade da Síria, Aleppo, tem sido um objetivo de longo prazo. Depois de bombardeios russos ajudarem as forças sírias a capturarem todas as cidades ao longo da rota em fevereiro, combates violentos no oeste de Aleppo forçaram mais de 43 mil a fugir em direção à fronteira turca.
Foto: picture-alliance/AA/M. Said
Ataques indiscriminados contra civis
O grande número de ataques russos e sírios contra campos de deslocados, hospitais e escolas "sugere que nem todos podem ser acidentais", disse Rupert Colville, porta-voz da ONU para direitos humanos. Seu escritório registrou 299 mortes de civis em 2020, 93% causadas pelo governo sírio e seus aliados. Michelle Bachelet, chefe de direitos humanos da ONU, chamou os ataques de "indiscriminados".
Foto: picture-alliance/AA/I. Dervis
Rebeldes atacam
Rebeldes apoiados pela Turquia foram capturados pela ofensiva, assim como os jihadistas que não são oficialmente apoiados por Ancara. Um grupo islâmico, Hayat Tahrir al-Sham, conseguiu uma rara vitória em meados de fevereiro, ao derrubar um modelo específico de helicóptero que as forças sírias supostamente usam para lançar bombas de barril sobre civis.
Foto: Getty Images/AFP/O. Haj Kadour
Busca por segurança
Michelle Bachelet observa que "nenhum abrigo está seguro agora" e que os campos de deslocados estão sobrecarregados pelo grande número dos que fogem da violência. Muitos deixaram os campos para tentar a vida fora. A chefe de direitos humanos da ONU pediu a criação de corredores humanitários para permitir aos civis escaparem.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Alkharboutli
Sem rota de fuga
A Turquia, que já abriga 3,5 milhões de refugiados, fechou suas fronteiras para impedir um novo afluxo de sírios. Isso deixa a população de Idlib sem ter uma rota de fuga. Mais de 500 mil dos deslocados são crianças.